Analistas políticos, órgãos de imprensa e pessoas contra o presidente Jair Bolsonaro apostavam em protestos isolados e sem muita repercussão, ainda mais sem parte dos movimentos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff e agora são vistos como traidores, como o MBL, ou omissos, como a Fiesp dos patos.
Não foi bem assim.
Houve bastante gente, um número não computado, mas provavelmente com várias dezenas de milhares de manifestantes, vestidos de verde e amarelo (muitos com a camisa da CBF, um contrassenso). gritando contra a corrupção, o "Centrão" (os partidos vistos como oportunistas e adeptos da "velha política", como o PP, o PSD, o PROS, o MDB, o DEM e o PSDB, entre outros), o presidente da Câmara Rodrigo Maia (Davi Alcolumbre, líder do Senado, também foi lembrado como alvo, mas de forma bem menos contundente porque poucos o conhecem) e alguns ministros do STF, como Dias Toffoli (o presidente visto como ex-advogado do PT) e Gilmar Mendes (considerado um soltador de corruptos). Queriam o Coaf de volta para a pasta da Justiça, nas mãos de Sérgio Moro e defenderam a reforma da Previdência.
Queriam o presidente Bolsonaro sem tantas "amarras" para governar o Brasil, o que poderia ser interpretado como uma tentativa de "rebaixar" o Legislativo e o Judiciário, em favor do Executivo. Mas houve uma minoria, sem destaque na mídia, pregando o fechamento do Congresso e do STF. O próprio presidente desencorajou esses grupos, dizendo que "estão no movimento errado".
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Sérgio Moro é retratado como "Super Moro" pelos manifestantes em Brasília (Fábio R. Pozzebom)
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O "Privileco", sucessor do "Pixuleco", representa um político corrupto e foi exibido em Brasília (Divulgação/Facebook) |
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O velho "Pixuleco" apareceu no Rio ao lado do boneco inflável de Rodrigo Maia (Pauline Almeida/UOL) |
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Boneco do Bolsonaro é exibido na manifestação de ontem, na Paulista (Divulgação) |
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Milhares de pessoas lotaram a Paulista para dar apoio ao presidente (Divulgação/Twitter)
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Quase ninguém falou em intervenção militar, porque isso lembrava o antigo partidário desta medida de força, o vice-presidente Hamilton Mourão, agora alvo de protesto de muitos manifestantes por se opor à falta de rumo do governo e à influência dos olavistas (sim, não pouca gente nas ruas era seguidora ou simpatizante do Olavo de Carvalho). Em compensação, havia gente defendendo a monarquia, querendo a volta da família real dos Braganças, tendo Bolsonaro como um hipotético primeiro-ministro.
Na Paulista, com milhares tomando até sete quarteirões da avenida mais conhecida de São Paulo, mais do que os quatro quarteirões tomados pelos protestos do dia 15, uma ausência notável: os patos amarelos da Fiesp. O principal palanque, no entanto, foi perto desse prédio.
Não houve baderna nas manifestações, a não ser um caso isolado, mas lamentável, de alguns manifestantes tirando uma faixa pró-educação no Prédio Histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A multidão protestou com civilidade e de forma pacífica. No Rio, não se abalaram com uma mulher que perguntou sobre o escândalo envolvendo o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro, e o ex-assessor Fabrício Queiroz. E não aplicaram agressividade nem quando estavam junto aos bonecos infláveis de Rodrigo Maia, representado com sacos de dinheiro, ao lado do Pixuleco, a representação do ex-presidente Lula vestido como presidiário.
Como até as estátuas da Praça dos Três Poderes podem constatar, o presidente se aproveitou das manifestações a favor dele, e não escondeu isso na sua entrevista para a Record. As relações entre ele e os dois Poderes questionados pelos ativistas de ontem estão bastante abaladas, graças à intransigência dos dois lados. Um quer impor a chamada "nova política", sem concessões e nem sutilezas, e os outros, vistos como a "velha política", não conseguem convencer o público sobre a lisura de seus procedimentos.
N. do A.: O "day after" foi extremamente duro, marcado não só pelas tentativas do Congresso e do Judiciário de se manterem serenas, apesar dos ataques que não podem ser desprezados nem minimizados, como também por tragédias terríveis, capazes de desviar as atenções da mídia: a morte trágica do cantor Gustavo Diniz, autor de Jenifer, o hit do verão 2018-2019, e os massacres no presídio de Manaus, motivados por brigas entre facções criminosas: até agora são 52 assassinados. Além disso, o autor do atentado contra Bolsonaro está mais próximo de ficar fora da cadeia, ao ser considerado "inimputável" (doente mental) pelo juiz Bruno Savino.
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