segunda-feira, 6 de maio de 2019

Reação aos cortes

O ministro da Educação Abraham Weintraub, primeiramente, queria cortar verbas de faculdades de filosofia e sociologia, dizendo ser favorável aos cursos que trazem "retorno" (sic). Depois, anunciou que irá cortar parte do financiamento de universidades que permitem a "balbúrdia" dentro de seus domínios, dizendo ser a favor de um ambiente acadêmico menos politizado. A seguir, estendeu o corte de 30% a todo o ensino superior federal, dizendo estar preocupado com o ensino fundamental e as creches... para, no final, contingenciar toda a verba destinada a todos os setores da educação brasileira. E desta vez nem se deu ao trabalho de defender algo. Não falou em forçar as universidades federais a ficarem mais abertas ao investimento privado, como ocorre lá fora, por exemplo, ou passarem a cobrar mensalidades. 

Objeções não faltaram. Reitores e professores de universidades federais, estaduais e particulares cobraram critérios técnicos para justificar os cortes e lembraram que mesmo as atividades essenciais podem ficar comprometidas. Advogados, juristas e políticos apontam violações à Constituição, referentes ao princípio de impessoalidade da administração pública (artigo 37), finalidade da educação (artigo 205) e autonomia universitária (artigo 207). 

Para piorar, até o momento há 1.098 assinaturas vindas de acadêmicos que trabalham em Harvard, MIT, Oxford, Cambridge, Berkeley, Sorbonne e outras universidades importantes em todo o mundo, protestando contra o corte principalmente nas verbas das faculdades de humanas. 

Pode-se argumentar que, no caso de Suas Excelências, os políticos, a crítica possui viés por ser feita por deputados oposicionistas, antes defensores de Dilma Rousseff, que havia começado o sucateamento das universidades e agravado os "desvios ideológicos" presentes por décadas, desde a resistência à ditadura militar. No caso de Suas Magnificências, os reitores, exista pressão (legítima, aliás) pelas verbas sem o compromisso de acabar com o "marxismo cultural" que estaria a deformar as mentes dos estudantes e professores. E, por fim, os acadêmicos internacionais citados divulgam documento da Gender International, que defendem estudos sobre a chamada "ideologia de gênero" e a diversidade sexual. 

No entanto, o rumo tomado pelo Ministério da Educação é totalmente oposto ao dos países que experimentaram forte crescimento econômico, como os Tigres Asiáticos. Nesses locais, houve um maciço investimento nas escolas e estímulo ao conhecimento e ao aprendizado, para a formação de trabalhadores qualificados e produtivos, e cidadãos mais conscientes. Obviamente, não há recursos o bastante, mas o que o corte nas verbas já insuficientes iria resolver? Para forçar o expurgo dos promotores de "balbúrdia", impedindo-os de parasitarem os recursos? Não é tão certo que isso aconteça, ainda mais desafiando os limites da lei e a inteligência dos reitores, professores, funcionários e estudantes.

Os esforços do senhor ministro podem ser infrutíferos para combater os males que afligem o sistema educacional, quando não contraproducentes. Não se pode correr o risco de continuar a criar milhões de pessoas impossibilitadas de exercer as tarefas exigidas pelo mercado de trabalho, por educação deficiente ou ausente. Perdemos e perderemos muito com a formação de jovens sem senso crítico e capacidade de pensar de forma autônoma, sendo presas fáceis de manipulação e incapazes de agirem feito cidadãos. O futuro do Brasil depende daqueles que determinam seu rumo, sem fórmulas de eficácia duvidosa. 

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