quinta-feira, 22 de abril de 2021

Cúpula do Clima tem início

Sediado virtualmente nos Estados Unidos, a nova Cúpula do Clima tem início com promessas tão ambiciosas quanto vazias para fazer diminuir as emissões de gases poluentes (em nome do combate ao "aquecimento global", mais um chavão do que um termo científico) e diminuir a dependência do petróleo e outras fontes não renováveis de energia. 

O presidente Bolsonaro foi convidado, e fez um discurso ponderado, considerado excelente pelos seguidores, mas infelizmente sem respaldo na realidade e visto com desconfiança pelos chefes de outros países. 

"Com grande satisfação agradeço o convite para participar desta Cúpula de Líderes.

Historicamente, o Brasil foi voz ativa na construção da agenda ambiental global. Renovo, hoje, essa credencial, respaldada tanto por nossas conquistas até aqui quanto pelos compromissos que estamos prontos a assumir perante as gerações futuras.

Como detentor da maior biodiversidade do planeta e potência agroambiental, o Brasil está na linha de frente do enfrentamento ao aquecimento global.

Ao discutirmos mudança do clima, não podemos esquecer a causa maior do problema: a queima de combustíveis fósseis ao longo dos últimos dois séculos.

O Brasil participou com menos de 1% das emissões históricas de gases de efeito estufa, mesmo sendo uma das maiores economias do mundo. No presente, respondemos por menos de 3% das emissões globais anuais.

REPITO: participamos com menos de 1% das emissões históricas de gases de efeito estufa.


Contamos com uma das matrizes energéticas mais limpas, com renovados investimentos em energia solar, eólica, hidráulica e biomassa.

Somos pioneiros na difusão de biocombustíveis renováveis, como o etanol, fundamentais para a despoluição de nossos centros urbanos.

No campo, promovemos uma revolução verde a partir da ciência e inovação. Produzimos mais utilizando menos recursos, o que faz da nossa agricultura uma das mais sustentáveis do planeta.

Temos orgulho de conservar 84% de nosso bioma amazônico e 12% da água doce da Terra.

Como resultado, somente nos últimos 15 anos evitamos a emissão de mais de 7,8 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera.

À luz de nossas responsabilidades comuns, porém diferenciadas, continuamos a colaborar com os esforços mundiais contra a mudança do clima.

Somos um dos poucos países em desenvolvimento a adotar, e reafirmar, uma NDC transversal e abrangente, com metas absolutas de redução de emissões inclusive para 2025, de 37%, e de 43% até 2030.

Coincidimos, Senhor Presidente, com o seu chamado ao estabelecimento de compromissos ambiciosos.

Nesse sentido, determinei que nossa neutralidade climática seja alcançada até 2050, antecipando em 10 anos a sinalização anterior.

Entre as medidas necessárias para tanto, destaco aqui o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030, com a plena e pronta aplicação do nosso Código Florestal. Com isso reduziremos em quase 50% nossas emissões até essa data.

Há que se reconhecer que será uma tarefa complexa.

Medidas de comando e controle são parte da resposta. Apesar das limitações orçamentárias do Governo, determinei o fortalecimento dos órgãos ambientais, duplicando os recursos destinados a ações de fiscalização.

Mas é preciso fazer mais. Devemos enfrentar o desafio de melhorar a vida dos mais de 23 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia, região mais rica do país em recursos naturais, mas que apresenta os piores índices de desenvolvimento humano.

A solução desse “paradoxo amazônico” é condição essencial para o desenvolvimento sustentável na região.

Devemos aprimorar a governança da terra, bem como tornar realidade a bioeconomia, valorizando efetivamente a floresta e a biodiversidade. Esse deve ser um esforço, que contemple os interesses de todos os brasileiros, inclusive indígenas e comunidades tradicionais.

Diante da magnitude dos obstáculos, inclusive financeiros, é fundamental podermos contar com a contribuição de países, empresas, entidades e pessoas dispostos a atuar de maneira imediata, real e construtiva na solução desses problemas.

Neste ano, a comunidade internacional terá oportunidade singular de demonstrar seu comprometimento com a construção de nosso futuro comum.

A COP26 terá como uma de suas principais missões a plena adoção dos mecanismos previstos nos Artigos 5º e 6º do Acordo de Paris.

Os mercados de carbono são cruciais como fonte de recursos e investimentos para impulsionar a ação climática, tanto na área florestal quanto em outros relevantes setores da economia, como indústria, geração de energia e manejo de resíduos.

Da mesma forma, é preciso haver justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas ao planeta, como forma de reconhecer o caráter econômico das atividades de conservação.

Estamos, reitero, abertos à cooperação internacional.

Senhoras e senhoers: como todos reafirmamos em 1992, no Rio de Janeiro, na conferência presidida pelo Brasil, o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de tal forma que responda equitativamente e de forma sustentável às necessidades ambientais e de desenvolvimento das gerações presentes e futuras.

Com esse espírito de responsabilidade coletiva e destino comum, convido-os novamente a apoiar-nos nessa missão.

Contem com o Brasil.

Muito obrigado."

Bolsonaro compareceu à Cúpula do Clima usando uma gravata verde como "prova" de sua boa vontade a respeito de um tema considerado de pouco interesse para ele (Divulgação/Twitter)


Como se pode ler no discurso do presidente, as metas também são ambiciosas como as outras, mas impossíveis de cumprir com o ritmo do desmatamento ilegal em curso, sem o difícil mas necessário controle. As promessas para reduzir em 43% as emissões até 2030 não são nada plausíveis, mesmo se Ricardo Salles, visto como ideológico demais e sem interesse nem pragmatismo para lidar com o meio ambiente, contasse com recursos para a sua pasta, e seus sucessores até 2022 (ou 2026, ou mesmo 2021, se dependesse apenas da vontade dos críticos e da oposição) forem ainda mais efetivos. De qualquer forma, o esforço do governo dificilmente irá reverter a péssima imagem do Brasil no exterior. 



N. do A.: Este também foi o dia da maior derrota de Sérgio Moro em sua vida, sendo considerado suspeito para julgar o ex-presidente Lula por 7 a 2 pelo Supremo. A rigor, não há punição reservada para o ex-juiz e ex-ministro, mas reforça sua incompetência no caso, isto é, ele não podia julgar Lula pelo sítio em Atibaia e pelo triplex no Guarujá, sendo tarefa, em tese, da Justiça paulista. Também impõe mais um obstáculo às ambições políticas do outrora símbolo do combate à roubalheira no nosso país. Só resta. por ora, refletir sobre os julgamentos de segunda e terceira instâncias, que respaldaram as decisões de Moro. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário