terça-feira, 28 de setembro de 2021

Da série "Filósofos estudam o Brasil", parte 17 - Entrevista com Nietzsche

Teremos mais uma entrevista fictícia com um pensador influente, o alemão Friedrich Nietzsche. O autor de livros como Assim Falou Zaratustra, A Gaia Ciência, O Nascimento da Tragédia e Além do Bem e do Mal viveu entre 1844 e 1900, mas ficou no Brasil neste século XXI apenas para analisá-lo. Abaixo, uma entrevista (após Sasha Hilhorst ter feito isso em 2018 em um site chamado Medium.com). 

Friedrich Nietzsche, pensador alemão

Assuntos 1000: Sr. Nietzsche, há muitas lendas correntes entre o vulgo a respeito de suas obras. Uma delas é a sua associação com o niilismo. O que o senhor acha disso?

Nietzsche: É necessário sempre desconfiar da opinião corrente. A humanidade está acostumada a se guiar por lugares comuns. Eu não posso me definir apenas como niilista. Se o conceito de niilismo for o de não acreditar na vida presente, nestes conceitos limitados acerca da existência humana, então eu sou. 

Assuntos 1000: E o uso de seu pensamento pelos nazistas?

Nietzsche: Eles deturparam totalmente o sentido. Subordinaram o conceito de super-homem, o além do homem (Ubermensch), aquele que não se dobra a valores pré-estabelecidos e supera suas limitações, para atribuirem uma superioridade do povo alemão sobre os outros, e, com isso, cometerem desatinos. É certo que o super-homem aspira ao poder e quer exercê-lo em sua plenitude, mas não pode afirmar esse poder por meio de assassinatos, como eles fizeram. 

Assuntos 1000: Por isso, o senhor foi acusado de antissemitismo.

Nietzsche: Não me rotulem de antissemita, nem de inimigo dos judeus, por favor! Isso decerto é algo inventado pela minha irmã, Elizabeth, que se aventurou no Paraguai com o marido para fundar uma colônia tropical alemã. Pobre mulher! Impressionou-se depois com o talento de Adolf Htiler para iludir os incautos! No fundo, não posso culpá-la por suas fantasias. Eles queriam transformar um terreno cheio de lama em santuário para os homens superiores...

Assuntos 1000: Está registrado que o senhor não conseguiu produzir no final de sua vida por causa de seus problemas mentais. Há registros de demência causada por sífilis, contestados mais recentemente em estudos que apontam para demência frontotemporal. 

Nietzsche: Sim, eu poderia responder isso pela falta de necessidade de ter algo a dizer, já que expus todo antes de 1889, quando me retirei, mas isso seria complicado para fazer os homens comuns entenderem. Levaria horas para expor minha defesa. 

Assuntos 1000: Há quem afirme que a doença o acometeu desde a juventude e só em 1889 o impediu de escrever...

Nietzsche: Meu trabalho não pode ser taxado de obra de um louco, na acepção vulgar. Querem difamar-me, por ter afirmado "Deus está morto". Não percebem o uso metafórico do termo. Quando digo que Deus está morto, significa o avanço do pensamento secular sobre as velhas crenças do passado. Não foi alguém chamado Friedrich Nietzsche, ou alguém dotado de um pensamento além do senso comum, o autor do assassinato de Deus ou alguma divindade, mas é a evolução de nosso pensar ao longo dos séculos. 

Assuntos 1000: O senhor analisou o Brasil. Quais são suas impressões?

Nietzsche: Analisei, e cheguei à conclusão que o Brasil é um páis enorme, com clima acima do tolerável para quem está acostumado a viver na Europa. Mas isso são obviedades. Não sou antropólogo ou sociólogo para fazer um juízo particular sobre o povo do Brasil, sem considerar a mesquinhez onde a humanidade em geral está mergulhada. Pensar apenas nas necessidades básicas é algo bem distante de quem aspira a viver na plenitude, e isso é o caso de boa parte das almas viventes, não só no Brasil. Quando não estão lutando pela sobrevivência, cultivam a preguiça mental típica dos homens medíocres, cultivando todo o tipo de preconceitos, limitações, desculpas para não crescerem como pessoas. E isso não mudou desde o meu tempo. Ó homens! Ó mulheres! Até quando temerão o abismo à beira do qual estão vivendo? 

Assuntos 1000: Isso lembra um lugar comum sobre o nosso país à beira do abismo.

Nietzsche: E continuaráo dessa forma, pois toda a existência está sujeita a acabar se precipitando nele (no abismo) a qualquer momento. A diferença está na forma de vivenciar essa experiência, da qual poucos teriam condições de escapar. Sugiro que leiam meus livros e reflitam, sem levarem em consideração os críticos ou as opiniões preconcebidas. 

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