A intelectualidade brasileira sempre acusa o povo de se sujeitar demais aos termos em inglês, elaborando teses sobre a nossa suposta pobreza vernacular, a desvalorização da língua pátria, a ignorância, a subserviência a culturas mais avançadas tecnologicamente ou ao viralatismo (aludindo ao "complexo de vira-lata" do Nelson Rodrigues).
Antes, usavam-se termos ingleses para substituir os franceses, após a ascensão dos Estados Unidos como grande potência, no começo do século passado. Deixou de ser tão chic usar o galicismo como no século XIX. O uso de termos como "futebol" (de football), cowboy (ao invés de vaqueiro), "checagem" (de check), "carro" (de car, no lugar de automóvel), shampoo, entre outras palavras, vem de décadas.
Depois, com a globalização e o uso da internet, houve maior emprego de palavras em inglês, pois o mundo dos negócios (business) e para o virtual, este é praticamente o idioma oficial. Ninguém fala sobre ratos na mesa, tempestade de ideias para fazer um projeto render ou paradas para o café durante o trabalho. Usa-se mouse, brainstorming e coffee-break.
A pandemia de COVID-19 (outro termo originário do inglês) popularizou termos como home office, delivery, "testagem" e lockdown. Como o número de mortes está diminuindo, também não é tão comum ler essas palavras, mas teme-se a volta das práticas relacionadas a elas, caso houver uma nova variante do vírus que já matou gente demais no mundo.
Modernamente, com a disseminação do "politicamente correto", os antigos críticos do chamado imperialismo "ianque" (de yankee) estão usando termos como "stalkear", bullying, woke, cringe, gaslighting, fake news, "trolagem" (de troll), para denunciar o racismo, o machismo, a perseguição contra grupos considerados oprimidos, o mau comportamento nas redes sociais, e por aí vai. Chega-se ao exagero de adotar comportamentos intolerantes e extremistas, a pretexto de combater a... intolerância e o extremismo.
Não vai adiantar levantar velhas bandeiras ufanistas ou denunciar o Tio Sam como uma espécie de demônio escravizador. O uso de palavras e termos modistas em inglês reflete a necessidade de se expressar para determinadas pessoas, principalmente nos grupos dentro dos quais os indivíduos convivem. Como tudo nesta vida, é necessário bom senso para empregar tais palavras, principalmente em provas, avaliações e concursos. OK?
Nenhum comentário:
Postar um comentário