quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Divisão na grande mídia

Nunca se viu em vários anos uma diferenciação tão nítida entre as versões dos fatos contadas pelas facções da grande mídia, cuja credibilidade está em xeque no mundo inteiro, não só no Brasil. 

Enquanto a maioria dos portais destaca a viagem de Lula ao Cairo, a capital do Egito, para a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP27, outros veículos mais conservadores destacaram os protestos dos apoiadores do presidente em exercício, Jair Bolsonaro, furiosos com o que eles consideram parcialidade do TSE para favorecer Lula, além de pedirem liberdade de expressão, tendo Alexandre de Moraes e o resto do STF como alvos por perseguirem as fake news sem uma legislação ainda aprovada para isso. Em comum, apenas a denúncia sobre o jatinho executivo do empresário José Seripieri Filho, usado para conduzir o líder petista até o país africano. Seripieri é o fundador da Qualicorp, grupo ligado a planos de saúde, e chegou a ser preso em 2020 por caixa dois durante a campanha feita para José Serra em 2014 para o Senado, durante investigações da Polícia Federal. 

Manifestantes lotaram o QG do Exército em Brasília e foram elogiados pelos portais conservadores de notícias, mas desprezados pela maioria da imprensa (Divulgação/Twitter)


Lula foi louvado pela imprensa internacional e por muitos portais brasileiros ao participar da COP27, no Cairo, mas outras fontes de informação só destacaram o uso de um poluidor jatinho de um empresário (Nariman el-Mofty/AP)

As manifestações foram numerosas ontem, dia 15 de novembro, e contaram com milhares de pessoas. Grande parte delas limitou-se a rezar e cantar o Hino Nacional nas portas dos Comandos Militares, como o do Sudeste, no Ibirapuera (zona sul de São Paulo), sem tumultos e exercendo o direito de protestar contra o resultado das eleições a favor do "descondenado" Lula, mas o grosso da imprensa, que chama as manifestações de "atos antidemocráticos", destaca a fúria de um grupo de revoltosos contra os seis ministros do STF (além de Moraes, participaram Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli) que participaram da reunião organizada pelo grupo empresarial LIDE em Nova York, junto com o ex-presidente Michel Temer e o presidente do BC, Roberto Campos Neto. As autoridades presentes foram xingadas com termos pesados, como "vagabundo", "bandido" e "filho da p***", tentando abalar o clima de "torre de marfim" dos ministros, que atiçaram ainda mais a ira ao tratar a turba com desdém e escárnio. Luís Roberto Barroso chegou a falar "Perdeu, mané" para um manifestante apoiador de Bolsonaro, referindo-se ao resultado oficial das urnas. 

Enquanto isso, o grupo de transição foi tratado de forma condescendente pela maioria dos órgãos de imprensa, mesmo anunciando nomes como Alexandre Boulos e André Janones, e provocando nervosismo na Bovespa com a PEC da Transição, acusada pelos sites mais conservadores de ser um atentado à Lei de Responsabilidade Fiscal por colocar gastos fora do teto, e não só o Auxílio Brasil de R$ 600, a ser rebatizado de Bolsa Família como nos mandatos petistas anteriores (leia a minuta AQUI). 

Alguns sites, como o da revista Oeste, tomaram por verdadeiros um suposto pedido do PL para anularem as eleições, mas o partido nega e diz ser ideia de alguns deputados, como Carla Zambelli, acusada de prejudicar a campanha de Bolsonaro no segundo turno ao reagir de forma desproporcional, com uma arma na mão, a uma provocação de um cidadão apoiador do PT, no sábado antes dos brasileiros irem às urnas de novo (29 de outubro). Zambelli e outros dizem representar os anseios de muitos brasileiros insatisfeitos com o resultado das urnas, considerado uma fraude, e que clamam por uma eleição com voto impresso para, segundo eles, ajudar na auditoria do resultado. 

Por fim, não faltam acusações entre as partes. A maioria dos portais de notícias chama os outros de serem "bolsonaristas" e mesmo "extremistas", enquanto alguns jornalistas desses veículos, não todos, denunciam a "velha imprensa". Isto não é de hoje e vem desde a campanha de 2018, mas piorou com a abordagem sobre a pandemia de COVID-19, com a divisão entre os apoiadores das medidas sanitárias e os críticos do "fique em casa", e se tornou biliosa, às vezes explicitando rancor e sectarismo por parte dos mais exaltados, com a campanha eleitoral deste ano. 

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