Marina Silva, a ministra do Meio Ambiente, foi convidada para comparecer à Comissão de Infraestrutura para tratar das unidades de conservação próximas ao litoral do Amapá. Ela aparentemente não esperava pelo tratamento recebido pelos senadores.
Ela foi humilhada e espezinhada sob a cúpula côncava. Omar Aziz (PSD-AM) a acusou de "atrasar" o desenvolvimento do país, culpando-a inclusive por não favorecer a reforma da rodovia BR-319, entre Manaus e Porto Velho, uma das estradas que possibilitaram o povoamento da Amazônia. A BR-319, embora vital para muitas famílias locais, não tinha a ver com o principal tema do debate.
Não acostumada a ser questionada e sempre ser vista como uma guru do ambientalismo, a ministra passou a agir com mais agressividade. Ela está ressentida com o Senado por facilitar a emissão de licenças ambientais, o que poderia, em tese, beneficiar produtores rurais, mas pode também aprovar projetos ecologicamente insustentáveis, danos ao meio ambiente. Ela tentou defender o seu trabalho no Ministério do Meio Ambiente, mas muita vezes tratava as críticas como algo pessoal, e se irritou. Marcos Rogério (PL-RO), presidente da Comissão, desligou algumas vezes o microfone, e isso foi interpretado como "machismo". Então, a discussão passou a girar em torno das acusações de Marina de comportamento machista diante do Senado. Os parlamentares não ajudaram em nada na correção de rota, e um desafeto de Marina, Plínio Valério (PSDB-AM), o mesmo autor de uma frase imprudente e impudente segundo a qual ele queria "enforcar" a ministra por ser contra as obras da BR-319, e voltou a cobrar esta pauta, e também tocou na frase considerada misógina, acrescentando que não a respeitava como ministra, apenas como mulher. Ela ameaçou retirar-se do recinto, e cumpriu a promessa.
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Marina Silva atacou Marcos Rogério, presidente da Comissão, ao desligar os microfones após falas consideradas "exaltadas" pela ministra: "Não sou mulher submissa!" (Geraldo Magela/Ag. Senado) |
a) Por que os desmatamentos continuam a devastar a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, com Marina Silva, vista como símbolo de conservacionismo, à frente do Ministério do Meio Ambiente?
b) A relação do estado atual da BR-319, construída durante a famigerada época do "milagre econômico", com certas ONGs acusadas de travar o progresso na região sob o pretexto de preservar a fauna e a flora. Há acusações de envolvimento de ONGs em explosões intencionais, danificando trechos asfaltados. Ao contrário da Transamazônica, esta estrada era asfaltada em toda a sua extensão.
c) O suposto envolvimento das mesmas ONGs com Marina Silva. Há a acusação genérica de todos eles serem "agentes do globalismo" ou de interesses estrangeiros.
d) Por que o PT não a preparou para lidar com os senadores? Será tão somente por ela ter a tendência de defender suas ideias como verdades absolutas, mas ter dificuldade em implementá-las?
e) Por que o Senado deixou a conversa descambar para a discussão alegadamente "misógina", deixando de aproveitar a oportunidade para defender a facilitação do licenciamento ambiental não como uma ameaça, mas como benefício aos habitantes estabelecidos na Amazônia?
f) Como se deixou passar a oportunidade de debater as obras da Petrobras próximas à foz do Amazonas? A maioria das pessoas ainda nem se informou a respeito delas.
N. do A.: Este blog ainda tratará da BR-319, e a sua história como símbolo da integração na Região Norte, e seus impactos ambientais.
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