As constantes notícias sobre carros encalhados por falta de compradores na China e o anúncio de falência de montadoras do país preocupam o mundo. E este é apenas uma má notícia vinda de lá. O setor varejista não está indo bem, comparado com a pujança de antes Pior: o setor imobiliário está desde 2021 em crise, com baixa demanda, imóveis sem dono e preços das casas em queda nas principais cidades.
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Pátios lotados são uma constante nas fábricas de carros chineses (carnewschina.com) |
Será que o gigante asiático está desacelerando?
A ditadura chinesa está se empenhando em intervir para impedir um possível desastre, agravado pela guerra comercial com os Estados Unidos. O governo Trump chegou a ameaçar com taxas de até 145% sobre os produtos do país rival, mas o alto poder de negociação está "empurrando com a barriga" as tarifas. Contudo, a tendência de desaceleração da economia pode enfraquecer a posição de Pequim diante de Washington.
O pior aspecto da economia chinesa parecia mesmo a questão imobiliária, e ela ainda inspira cuidados intensivos. Ano passado, o governo injetou o equivalente a cerca de meio trilhão de dólares para o setor, visando evitar o alastramento das chamadas "cidades fantasmas", com mais imóveis que habitantes. Porém, neste mês, houve o anúncio de Pequim para salvar várias províncias, cuja dívida bilionária era de pouco conhecimento do público. O aporte de cerca de 1 trilhão de dólares alarmou os mercados internacionais. Boa parte da culpa recai sobre a crise imobiliária, mas a má gestão e o excessivo intervencionismo estatal estão mostrando regiões inteiras ameaçando dar calote.
Quanto ao setor automotivo, muitas empresas pequenas e médias podem fechar por falta de compradores e o iminente corte de subsídios para a fabricação de carros elétricos e híbridos. Apenas as maiores, como a BYD e a GWM, poderiam sobreviver, mas mesmo elas estão ameaçadas. A Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, um dos mais poderosos magnatas do planeta, tinha ações na BYD, e teve ganhos astronômicos com a ascensão dos eletrificados, mas agora não há mais tanto interesse neles, com o crônica e irritante problema da demora no reabastecimento desses veículos e a limitada vida útil das baterias a base de lítio, comprometendo o valor de mercado. Para contornar a falta de procura e "desovar" os estoques, muitas montadoras estão vendendo os carros novos como se fossem usados, o que é ilegal e já foi investigado pela Justiça chinesa.
Também o setor varejista não vendia tão pouco. Em agosto, houve uma alta de apenas 3,4% no mês passado. Para os padrões do Brasil, isso seria motivo de comemoração. Mas este é o pior índice em anos. Apenas a taxação dos produtos chineses no Brasil, um dos maiores clientes da Shein, da AliExpress, da Shopee e da Temu, não explica tudo. O setor sofre pressão da União Europeia e dos Estados Unidos, e os chineses não estão adquirindo produtos com a avidez de antes. Isso se torna um problema para os numerosos centros de compras gerados neste século, espécies de "shopping centers" aproveitando a demanda por produtos que deixaram a fama de serem "xing-lings" para terem qualidades a preços competitivos - principalmente eletrônicos como os celulares da Xiaomi, Realme, Oppo e outras marcas agora gigantes.
O risco da China desacelerar bruscamente e prejudicar toda a economia do mundo existe, e pode afetar até mesmo outros aspectos, como a política e as relações internacionais, podendo piorar os conflitos e aumentar a tensão em Taiwan de forma insustentável. O Tibete e o Xinjiang (a terra dos uigures, minoria étnica islâmica oprimida a mando de Pequim) podem intensificar a luta pela emancipação, assim como Hong Kong. Conflitos por ilhas e territórios de pesca e exploração mineral no Mar do Sul da China poderão exigir medidas enérgicas para evitar uma escalada. Ou seja, se alguém já está temendo pelo "armagedom" sem conhecer os problemas enfrentados pelo bilhão de chineses, verá seus medos serem justificados.
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