terça-feira, 31 de outubro de 2017

Conversa de boteco

- Que besteira essa de ficar comemorando uma data de gringo no Brasil!

- O "Halloween"?

- Esse aí! Ca(...)! Mania de querer imitar tudo o que vem dos americanos! 

- Mas todo mundo faz isso!

- Devíamos valorizar o que é nosso! Este não ia ser o dia do saci?

- Isso não pegou! E quem bolou isso é daquela turma lá do PT!

- Não me fala nessa corja! Tudo FDP!

- Igual a esse atual governo!

- Pois é! E ninguém bate lata pra eles! 

- Esse governo tem tudo a ver com este dia...

- Já sei o que você vai dizer!

- O presidente tem cara de vampiro, a presidente do Supremo parece uma bruxa!

- (Risos)

- (Risos) E tá cheio de morto-vivo!

- No povo tá cheio de zumbi que não pensa... ou pelo menos parece que não pensa! Ô gente burra!

- (Risos)

- Pior é que eles podem tocar mesmo o terror, fazer aqueles monstros dessa data de m(...) parecerem uns palhaços ridículos!

- Até os palhaços andam mais assustadores do que as bruxas e os vampiros!

- Diante desse vampiro presidente e dessa bruxa do Supremo, como você já falou ai e eu assino embaixo...

- E do sapão beiçudo! Não esqueça dele!

- É! E desse aí... e do Barroso, lembra caganeira até no nome! Ele faz um monte de cagada!

- Pff! Ainda mais com essa politicada toda no Congresso! Devia ir tudo pra cadeia! Coitado do Sérgio Moro!

- Tem que mudar tudo! E a Lava Jato fica lavando, mas a sujeira até agora não sai...

- Palhaços assustadores e monstros... tudo a mesma coisa! Diante dessa m(...)ança toda!

- E o povo todo que diz "viva Lula", "viva Bolsonaro", "viva Doria", "viva fulano, beltrano, sicrano, o cacete", esse monte de zumbi...

- Aff! E essa besteira de "Halloween"...

- A vida real é muito mais assustadora...

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

E se Lutero não tivesse feito a Reforma?

Martinho Lutero, o líder da Reforma que mudou o mundo (Divulgação)

Este blog cogitou algumas possibilidades na História do Brasil e agora, às vésperas dos 500 anos da Reforma Protestante, passou a imaginar, em poucas linhas, o que aconteceria se o monge agostiniano Martinho Lutero tivesse desistido no meio do caminho. 

Neste caso, ele poderia ser simplesmente preso e queimado na fogueira da Inquisição. Mas outros abalariam a Igreja Católica de forma irremediável, como o outro reformador da época, Jean Calvin. Outros teólogos poderiam, aliás, mobilizar-se em caso de condenação de Lutero, e transformá-lo num mártir. Dificilmente os eleitores, como eram chamados os nobres mais ricos e influentes dos Estados alemães - a Alemanha não existia como país - não iriam aderir, pois estavam já furiosos com o fato de enviar parte de suas riquezas a Roma, e da mesma forma a Igreja estaria ameaçada. 

Mas Lutero não tinha o perfil de alguém que recuasse tão fácil. Ele iria mesmo contestar os desvios de uma Igreja corrompida. Ele poderia, então, tomar outro rumo: poderia, ao invés de publicar as suas 95 teses no dia 31 de outubro de 1517, submetê-las previamente a outros teólogos. Isso se existirem mesmo as teses, contestadas pelos historiadores. Neste caso, poderia até ter apoio maior às suas causas, com a suavização de algumas de suas ideias ou até mesmo o embasamento delas para algo ainda mais enérgico e incontestável. Ele era protegido de um eleitor influente da Saxônia, Friedrich III, conhecido como "o Sábio", que poderia dar mais apoio ao monge. Assim, a Reforma dificilmente não viria, e poderia ser um movimento ainda mais organizado da nobreza alemã. 

Os abusos cometidos pela cúpula da Igreja Católica eram muito flagrantes: venda de indulgências, fazendo os fiéis comprarem absurdos como ovos de pomba como se fossem do "Espírito Santo" e uma dissolução dos costumes flagrante. Era o tempo de papas corruptos, como Alexandre VI (o pai do infame Cesare Borgia, inspirador de "O Príncipe" de Maquiavel) e Júlio II. Além disso, a Igreja precisava arrecadar dinheiro para a reforma da Basílica de São Pedro (e parte desse montante seria facilmente desviado). Por conta disso, revoltas violentas fatalmente aconteceriam, e não evitariam a situação atual: várias igrejas cristãs que não consideram o papa como representante de Cristo na Terra e condenam a veneração das imagens de santos. Muitas delas tão corrompidas, em termos de doutrina, quanto o catolicismo daquela época. 

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Da série 'Marcas famosas desconhecidas no Brasil', parte 6

Ninguém, a não ser os moradores de Cataguases, em Minas Gerais, conhecem a Manufatora. Ela é uma fábrica cujo nome completo é "Companhia Manufatora de Tecidos de Algodão". Apesar disso, ela é mais famosa não pelos tecidos, mas pela matéria-prima, comercializada pelo nome de Algodão Apolo. 

Esta marca é pouco conhecida no Brasil...

Criada em 1943, somente três anos depois passou a comercializar o algodão hidrófilo. A Apolo é uma das mais fortes no segmento, concorrendo com a Cremer, a York e a Johnson & Johnson, e recentemente está diversificando seu portfólio, vendendo também gazes, esparadrapos e curativos. Já a marca Manufatora é fornecedora de tecidos para diversas confecções, principalmente camisas e materiais de acabamento. 

... mas ela é responsável por esta outra marca muito famosa

E preciso registrar enquanto é tempo

O "cabeça-seca", ave da nossa fauna. Perto da situação atual brasileira ele fica lindo - aliás, cabeças secas (de intelecto) é que não faltam (divulgação)

Precisamos colaborar para o engrandecimento do país, tornando-o mais produtivo, eficiente, justo para com toda a sociedade e representativo perante o resto do mundo. É dever de todo cidadão consciente fazer sua parte, e é prova de grandeza fazer a maioria da população, entregue ao desalento e a uma rotina de lutas e sacrifícios pessoais, adquirir consciência de seus direitos e deveres. 

Nosso governo não pode fugir à sua responsabilidade. E deve investir seu tempo em fazer algo útil, respondendo as críticas com ações positivas, e abster-se de agir como se estivesse cercado de inimigos. A ciência, a pesquisa e o desenvolvimento, certamente, não estão entre eles, mas é como se estivessem, quando houve um contingenciamento de 44% nas verbas do CNPq e cortes significativos nas verbas de outras agências de fomento. Dos trabalhos acadêmicos dependem o combate às doenças transmitidas pelo Aedes aegyptii, a possibilidade de diminuir a dependência tecnológica vinda do exterior nas indústrias, e técnicas para aumento da produtividade no agronegócio. 

Também seria melhor para a imagem do governo se preocupar mais com os pobres e menos com a sua base aliada. Está certo que ela é necessária para governar e aprovar uma reforma da Previdência para torná-la viável a longo prazo. Mas é flagrante a indiferença deste governo com os mais pobres. Se queremos impedir a volta do populismo, é necessário estar empenhado em incentivar os setores produtivos em empregar pessoas, melhorar a educação e a qualificação, e sepultar a hedionda ideia de "povo ignorante é melhor conduzido". 

Por falar em base aliada, não só ela como a oposição estão repletos de investigados pela Lava Jato, daí a atuação excessivamente defensiva dos congressistas, mesmo com a escassez de processos contra eles. Escassez, sim: o Ministério Público e a Polícia Federal poderiam ser mais eficientes e fazer menos propaganda e militância, para punir os culpados. A lista de investigados no meio político é imensa, mas a de réus é irrisória e quase inexistem condenações. É lógico que melhorou em relação ao passado, quando investigações contra grandes esquemas de corrupção não vingavam, mas não é nem de longe o suficiente. Mesmo assim, os núcleos do poder ainda estão agindo como se estivessem em perigo e, para os entusiastas da faxina moral, comportando-se realmente como responsáveis pela sordidez política e econômica do Brasil. 

Já foi escrito neste blog que o governo Temer perdeu o direito de ser ruim após o impeachment de Dilma Rousseff, e ele está sendo quase tão nefasto quanto o segundo governo dela, sendo na prática, em termos políticos e institucionais, uma extensão daquele, apesar das evidências diferenças ideológicas, com mais pragmatismo atualmente. Existem argumentos a favor deste governo em termos econômicos, como a queda dos juros e da inflação e a boa fase da Bovespa, mas eles são suficientes para a satisfação do povo, se ele continua entregue à miséria e à mediocridade, vendo seus filhos estudarem em escolas abaixo da crítica, submetidos a um sistema de saúde falido - e cujas propostas de reforma só visam beneficiar os planos de saúde, sem real benefício dos cofres públicos, dos médicos e dos pacientes - e acomodados em um status social indigno, morando em favelas e terrenos muitas vezes irregulares? Milhões de pessoas estão ainda em fragilidade, sem perspectiva de melhora e alvo fácil para os candidatos a "salvador da pátria". 

Só não é aceitável falar em "Fora Temer" porque os partidários da deposição do atual governo conseguem tem ainda menos respaldo legal do que Temer, que acumula denúncias contra ele e as mais fortes, infelizmente, são baseadas nas gravações de Joesley Batista, com a intenção mais para agravar a crise institucional do que em punir eventuais malfeitorias do presidente. Boa parte dos acusadores são réus na Justiça, apesar de sua influência para manipular o sistema jurídico serem tão grandes quanto os homens do governo, que, formalmente, ainda não são réus. São, da mesma forma, interessados em tratar a sociedade brasileira como gado, manter os mesmos privilégios para os seus aliados, abusar do regime democrático, usando-o para projetos de poder e contribuindo para a degeneração do sistema. 

O que estamos criando para o futuro? Segundo o que foi feito nos últimos anos e ainda será executado em 2018, não será algo bom. Os protagonistas desta história têm poder suficiente para tornar este imenso lugar afetado indefinidamente por uma "Síndrome da Resignação" - uma doença provocada por um trauma gigantesco, a ponto de causar catatonia generalizada - ou um país em condições de impor respeito de acordo com o seu tamanho. E, como já exposto no primeiro parágrafo, não é só o governo ou os congressistas e os ministros do STF. Somos nós. 

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Laerte, uma pessoa do nosso tempo

Estamos vivendo uma época onde setores da opinião pública estão polarizados, militando em trincheiras opostas, enquanto a maioria da população está alijada do processo, simplesmente cuidando da vida porque não vive de panfletagem e precisa sobreviver. 

Um dos militantes atuais é o(a) cartunista Laerte Coutinho. Autor(a) de personagens memoráveis no final do século XX, como os Piratas do Tietê, Overman e Condomínio, está se dedicando, ultimamente, a fazer tiras engajadas, defendendo os ideias considerados "progressistas" e, principalmente, os direitos dos transgêneros. Ele, aliás, ela, desde 2004 se veste de mulher e se considera do gênero feminino, aliás, do "sexo trans feminino", na acepção corrente. Mostrou a sua transformação pelos quadrinhos: seu personagem, Hugo, foi se transformando em Muriel com o tempo, passando por todo tipo de preconceitos e hostilidades. 



Fora as tiras da Muriel, ele(a) está se dedicando a fazer tiras cada vez mais politizadas, virando um(a) autor(a) de nicho. Sua arte, no passado, tinha humor e leveza, mas está difícil encontrar isso em certos trabalhos dele(a), como abaixo: 


Esta tira, dois anos atrás, foi criticada acerbamente por Reinaldo Azevedo, jornalista até há pouco ativo combatente do "outro lado", ou seja, o da chamada "direita política", até recentemente assumir atitude mais crítica (menos com o presidente Temer e o ministro do STF Gilmar Mendes, com os quais ele tem uma fidelidade quase canina). O jornalista foi além da sandália e fez um comentário ad hominem, atacando a pessoa e não a tira, considerada de mau gosto e descaradamente pró-Dilma, em tempos de "fora Dilma", quando a presidentA era ela. Chamou-o(a) de "baranga moral", entre outros impropérios. Laerte se ofendeu e recorreu à Justiça, que mandou o jornalista pagar R$ 100 mil por injúria. Ainda cabe recurso. 

Laerte, que não pode ser atacado(a) de forma pessoal, é um(a) artista, e seu valor como "formador de opinião" não pode ser sobrevalorizado, como os militantes políticos, de ideologias opostas ou não, apregoam. De qualquer forma, é uma pessoa engajada, e isso é próprio de uma época bem diferente daquela do Raul Seixas, aquele que prefere ser "uma metamorfose ambulante" a "ter aquela velha opinião formada sobre tudo". 


N. do A.: Pessoalmente, confesso sentir muita falta dos trabalhos antigos do Laerte, quando ele(a) se preocupava menos com a sua própria sexualidade. 

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Nem podia ser diferente

A segunda denúncia contra Temer, feita pelo antigo procurador-geral Rodrigo Janot, não passou, como era esperado. Foram 251 votos dos deputados a favor do presidente, 233 contra, 25 ausências e 2 abstenções. Bastavam 172 votos a favor para a denúncia não vingar, mas houve maioria simples, mais "sim" do que "não".

Também era perfeitamente dispensável um discurso alarmista como o do relator Bonifácio de Andrada, dizendo que a denúncia "atinge toda a classe política". O tom exaltado soa como paranóia de gente acuada, e não como uma fala de alguém tranquilo com os rumos da atual política, perfeitamente capaz de se proteger da Lava Jato com o espírito de equipe, ainda mais porque todas as provas colhidas contra políticos (como o senador Aécio Neves) foram contestadas e consideradas não conclusivas. Essa fala poderia aumentar a ira contra os políticos. E eles estão lá para defender os interesses dos eleitores (pelo menos numa democracia ideal, algo bem longe da realidade brasileira), não para contrariá-los como eles fazem galhardamente. 

Veja quem votou clicando AQUI, segundo o site do UOL. 

Agora Temer, que chegou a ter uma crise urinária, pode dedicar o tempo que lhe resta para fazer algo pela sua reputação como presidente, pois até agora ele vem seguindo a tradição dos governantes do Brasil (especialmente sua antecessora, Dilma Rousseff, da qual ele foi vice), usando seu poder para matar os pobres de fome e os ricos (e a classe média) de raiva.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Vem aí

Este blog está pensando em voltar a fazer tiras inéditas dentro da série "Mondo Brasile", envolvendo política, economia, celebridades, esportes, etc. 

Pode acontecer já no mês que vem ou em dezembro, se tudo der certo. Aguardem. 

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Repensando Nelson Rodrigues

Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues estaria com 105 anos - e não suportaria este nosso tempo


Nelson Rodrigues foi um dos mais originais dramaturgos do Brasil, e ainda hoje é bastante discutido por seu pensamento, considerado inteligente e perspicaz por uns, despudorado e escandaloso por outros. E era odiado pelos marxistas, devido ao seu conservadorismo, principalmente devido a uma crônica sua, chamada de A Revolução dos Idiotas

Dizia ele: [Até o século XIX,] o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha ilusões. Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha, ou tirar uma cadeira do lugar. Em 50, 100 ou 200 mil anos, nunca um idiota ousou questionar os valores da vida. Simplesmente, não pensava. Os ‘melhores’ pensavam por ele, sentiam por ele, decidiam por ele. Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes descobriram que são em maior número e sentiram a embriaguez da onipotência numérica. E, então, aquele sujeito que, há 500 mil anos, limitava-se a babar na gravata, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente etc. Houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas.

De fato, o marxismo mobilizou várias pessoas com baixo potencial intelectual, mas também muitos  idealistas, pensadores de vanguarda e espertalhões, o que resultou nos desdobramentos dessa linha de pensamento: o leninismo, o stalinismo, o trotskismo, o maoismo e outros. A grande maioria dessas ideologias oferecia soluções fáceis para problemas difíceis, como a miséria e a desesperança da maioria desprivilegiada. E foi a base para vários regimes discricionários, onde as elites antigas foram substituídas pelas novas, representadas pelos dirigentes comunistas e seus filiados. Os pobres e despossuídos continuavam na mesma situação, mas não eram explorados pelos capitalistas, e sim pelas novas elites, que lhes pregavam ilusões a respeito de nações igualitárias, onde o Estado providenciava os serviços vitais para todos: além de saúde, educação e segurança, uma suposta distribuição justa dos meios de produção. 

Em países onde o marxismo não prosperou, ora houve progresso devido ao estímulo à educação, qualificação e inovação (em países capitalistas avançados), ora as elites dominantes passaram a adotar certos conceitos oriundos do marxismo principalmente para conquistarem as massas e controlá-las, criando os populismos, marcados pela demagogia e paternalismo. Talvez este seja um terreno ainda mais fértil para a disseminação da ignorância patológica. Existiram ainda os países oprimidos por ditaduras anti-comunistas, geralmente nacionalistas ou corruptas, que justificam seus atos tendo como pretexto o "perigo vermelho". Aí, em ambiente autoritário, também não há terreno fértil para o desenvolvimento intelectual.

Da mesma forma, ainda há os regimes fortemente influenciados pela religião, principalmente os islâmicos, via de regra autoritários ou extremistas, também pouco convidativos ao pensamento e à ciência. O ódio contra os ocidentais e seus valores (principalmente o liberalismo "materialista" e o comunismo "ateu"), e o desenvolvimento da Guerra Fria, com a intromissão dos americanos, soviéticos e respectivos aliados, para exploração de petróleo e venda de armas, contribuiu para o desenvolvimento dos grupos terroristas. Também havia outros grupos assim, em diversos países, mas para tentar implantar o comunismo pela força das armas.

Nos países onde houve progresso material, contudo, os setores menos favorecidos ou mais idealistas (ou oportunistas) sofriam a influência do velho Marx e de seus discípulos, alimentando as revoltas estudantis e os movimentos de contracultura como os hippies, enquanto os governos e as corporações se metiam em questões alheias por meio de intervenções e guerras para defesa de seus interesses no exterior. A rebeldia e o inconformismo acabaram se modificando, para surgir o pensamento "politicamente correto", motivado pela aparente defesa dos que não conseguem se defender, como as minorias raciais, sexuais e sociais, mas cujos vícios de pensamento acabam levando ao fanatismo e linhas de raciocínio pouco adequadas à realidade, emburrecendo muitos seguidores.

Resumindo: o marxismo criou o comunismo, que inspirou o populismo, permitiu o nascimento do "politicamente correto", levou ao aprimoramento do autoritarismo e estimulou o terrorismo. Ainda possibilitou a reação de outros, motivados pelo mesmo conceito fortemente empregado pelas ideologias inimigas, o "nós contra eles", dando vivas a Trump como os rivais aclamam Che Guevara. Tudo isso é estimulante para o entrevamento mental.

Eis, em mal traçadas linhas, uma interpretação do pensamento rodrigueano. E podemos notar a manifestação dos infelizes de poucas luzes principalmente nos comentários dos portais de notícias, nas redes sociais, nas discussões da atual política... para fazer o mestre dramaturgo se revirar em seu túmulo. 

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Novela virou sucesso, mas...

A Força do Querer, novela da Globo feita por Glória Perez, terminou hoje, alcançando índices nováveis de audiência, beirando os 50 pontos na última semana. 

Personagens de destaque da novela A Força do Querer: Ivana/Ivan e Bibi (Divulgação/Rede Globo de Televisão)

Para isso, precisou lançar mão de temas polêmicos, a ponto do trabalho parecer mais um longo panfleto do que algo inspirado em histórias reais: a vida bandida de Bibi Perigosa (Juliana Paes), a transformação de Ivana (Carol Duarte) em Ivan durante sua mudança de sexo (e toda uma campanha contra o preconceito destinado aos transgêneros), um travesti, Nonato (Silvero Pereira) e a protagonista lutadora - literalmente, pois passa as horas de folga como policial nos ringues do MMA - que passa longe de ser uma mocinha sofredora: Jeiza (Paola Oliveira). 

Fora esses personagens, temos a fraca e vulnerável Silvana (Lília Cabral), às voltas com seu vício em jogo, para ira de seu marido Eurico (Humberto Martins), um dos poucos "machos alfa" da novela (infestada de personagens masculinos apagados e sem personalidade), mas tratado como se fosse uma caricatura do autoritário preconceituoso. 

Ainda há espaço para o "realismo fantástico", que nas novelas sempre corre o risco de se tornar uma fantasia desbragada e inverossímil, como a história da sereia Ritinha (Ísis Valverde). 

Houve o sucesso esperado, graças ao elenco e à direção de Rogério Gomes, mas isso indica que a emissora pode não ter a mesma repercussão a respeito do próximo folhetim, O Outro Lado do Paraíso, de Walcyr Carrasco, mais próximo de ter um enredo tradicional, com mais foco no dramalhão e menos nas histórias que chocaram os mais conservadores e chegaram a ser alvo de comentários do ministro do STF Alexandre de Moraes, acusando A Força do Querer de "glamourizar" o crime organizado, graças aos personagens Bibi Perigosa e seu inimigo, o bandido Rubinho (Emílio Dantas). 


N. do A.: No mundo real, o prefeito João Dória teve a sensatez de não mais fornecer a "farinata", feita a partir de vegetais que iam para o lixo por estarem próximos do prazo de validade, em conjunto com empresas parceiras, e cuja composição é mal explicada - até rações animais são mais transparentes neste ponto. E mais uma tragédia aconteceu, em Goiânia, onde um aluno armado matou dois colegas, alegando sofrer bullying.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O eneagrama

Recentemente, escrevi uma série de postagens abordando os tipos de personalidade segundo a teoria jungiana. Outras abordagens existem, mas uma delas chamou a atenção, pela estranheza: é o eneagrama de Gurdjieff, psicólogo armênio inspirado no pensamento de Platão e Pitágoras, e nas seitas gnósticas, além do pensamento cristão medieval europeu. 

Este teste de personalidade visa o desenvolvimento pessoal e o aprimoramento da inteligência emocional, desenvolvendo os pontos fortes e compensando os fracos. 

O eneagrama é uma figura, à primeira vista, estranha, com nove pontas numeradas de 1 a 9, dentro de um círculo. Cada número possui um significado. 



1: Perfeccionista: organizado, exigente consigo mesmo e com os outros, é geralmente introvertido e racional, com senso prático apurado, e raramente está satisfeito; pode se tornar irritável e amargo; está associado ao vício da ira. 

2. Amigável: prestativo, bondoso (alguns desse tipo devem tomar cuidado com a ingenuidade), e extrovertido, tem muita empatia e gosta de ajudar os outros; mesmo assim, pode ser manipulador emocionalmente, obrigando os outros a fazer o que ele quer, e achar-se superior; está associado ao vício do orgulho. 

3. Executivo: é uma pessoa voltada para o sucesso e o conforto material, não medindo esforços para empreender e conquistar a admiração alheia; é extrovertido, trabalhador e gosta de estar no comando, mas pode guardar sentimentos como ansiedade e insegurança; está associado ao vício da vaidade. 

4. Romântico: artista e estético, também é muito sensível e emotivo, tendendo a invejar o sucesso alheio (está associado ao vício da inveja); é em geral introvertido, idealista e gosta de exercer sua criatividade. 

5. Observador: mais racional e introvertido dos tipos, gosta de observar e calcular, dedicando-se facilmente às ciências exatas e à pesquisa acadêmica; confia em sua capacidade intelectual, mas pode se tornar esquivo e materialista (a avareza é o vício contra o qual precisa acautelar-se). 

6. Questionador: ambivertido, gosta de estar na companhia das pessoas e debater ideias, mas é reservado; tipo mais complexo, pois adora desafios e ao mesmo tempo mostra grande cautela diante de perigos; pode apresentar facilmente neuroses e transtornos de personalidade, e está associado ao vício do medo. 

7. Entusiasta: é o mais sociável e extrovertido de todos os tipos, apreciando diversão e aventura; tende a ser hedonista, procurando prazeres e fugindo de compromissos que exijam muito esforço e sacrifício pessoal; como gasta bastante energia, aprecia bastante boa comida, mas deve se acautelar contra o vício da gula. 

8. Confrontador: extrovertido, gosta de desafios e confrontos, embora seja um péssimo perdedor; desafia constantemente a autoridade, quando não está no comando; líder nato, assertivo e de vontade firme, pode se tornar excessivamente dominador e autoritário, chegando a ter prazer com o sofrimento alheio e desenvolver taras sexuais; está associado ao vício da luxúria. 

9. Pacificador: gosta de ambientes harmoniosos e bem estar, para si e para os outros; introvertido, tem dificuldade para impor suas vontades; é paciente e calmo, tranquilo mas de pouca energia - é o típico "fleumático", segundo as teorias antigas de temperamento; está associado ao vício da preguiça. 

Cada uma dessas pontas numeradas possui uma "asa", representada pelo arco da circunferência que o une à ponta vizinha. As "asas", ou wings (w), é que definem a personalidade da pessoa. Assim, temos 18 combinações: 1w2, 2w1, 2w3, 3w2, e assim por diante, até o 1w9. O primeiro número do código é o tipo e o segundo número é o subtipo. 

As pontas também são ligadas às outras duas, não vizinhas, por segmentos de reta. Isso indica as relações mais intensas, de prazer e de estresse, em encontros iniciais. Curiosamente, segundo o eneagrama, sempre um tipo se estressa enquanto o outro aproveita a companhia. Essa convivência, quando se mantém por bastante tempo, resulta em crescimento mútuo e harmonização, podendo anular os vícios de ambos. Assim, o tipo 1 se estressa com o tipo 4 e gosta do tipo 7. Paradoxalmente, o tipo 4 gosta do tipo 1, que causa irritação no tipo 7, pelo menos em abordagem inicial. O aparente paradoxo pode desencorajar quem esteja interessado em estudar essa ideia. 



Existem autores que associam o eneagrama com os outros diagnósticos de personalidade, como o MBTI (a análise jungiana de Myers e Briggs abordada na série anterior) e o DISC (Dominante - Interpessoal - Sensato - Cauteloso), embora as adaptações nem sempre sejam felizes e causem ainda mais confusão, levando ao questionamento desses métodos de avaliação. 

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Informação, pré-requisito para boas opiniões

Nestes tempos onde as redes sociais exercem grande poder e possuem opinião para tudo, é necessário sempre ir além do senso comum, que nunca esteve tão equivocado quanto agora. 

Por exemplo, opinar sobre as eleições para governador na Venezuela. A maioria dos usuários das redes sociais não têm dúvidas: foram fraudulentas. Observadores internacionais, porém, contestam. Por outro lado, isso remete à questão: quais foram os observadores? Um deles foi o jurista Luiz Moreira, que não pode ser tachado de chavista, petista ou comunista sem ter uma noção de seu pensamento político (de fato, segundo a entrevista onde ele disse ter respaldado a lisura do pleito, ele realmente tem viés chavista, embora o expresse de maneira adequada à sua profissão e não se porte como militante). Ele disse que o sistema é uma combinação da urna eletrônica com o sistema tradicional, no papel, e isso dificulta as fraudes (mas não a ponto de dizer que seja a prova delas, ainda mais na pseudodemocracia venezuelana). Existem outras questões, como acusações de intimidação contra os eleitores para forçá-los a votar nos chavistas, e também o boicote promovido por setores da oposição. Nas redes sociais, poucos estão habituados a se informar um pouco melhor, contentando-se com o conceito (essencialmente correto, mas muito básico e elaborado como se fosse um dogma) de uma Venezuela ditatorial e comunista.

Outra questão é o "trabalho escravo", que deve ser interpretado como "análogo à escravidão". de acordo com o Código Penal (artigo 149 - ler AQUI), pois há o pressuposto que os trabalhadores não são "propriedade" dos patrões, como os escravos eram. Segundo os defensores da portaria lançada nesta semana pelo governo Temer, a "lista suja" de empresas (principalmente no campo) agora depende da "determinação expressa do ministério do Trabalho", o que daria maior segurança jurídica. Por outro lado, a portaria restringe claramente o sentido de "trabalho análogo à escravidão" (ver AQUI), atendendo aos anseios de boa parte dos produtores rurais e não abrangendo todos os termos definidos pelo Código Penal. Muitos defensores da iniciativa do governo argumentam que a antiga portaria - que estava de acordo com o Código - era impraticável e não adequada à realidade do Brasil. Preferiram apoiar uma mudança praticamente baixada de forma arbitrária pelo Executivo e não discutir o assunto no Legislativo, onde o processo é bem mais demorado (necessitaria mexer no Código Penal), embora muitos deputados e senadores, tão demonizados hoje em dia, sejam vinculados aos ruralistas. Portanto, não se pode taxar a medida de imbecil ou mal intencionada sem um embasamento. 

São assuntos que necessitam de informação para não ficar parecendo briga de torcidas. Por isso, é necessário exercer o justo direito de se informar antes de opinar sobre assuntos importantes. Este blog não está fazendo nada de especial ao procurar embasar seus pontos de vista antes de publicá-los.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Aécio voltará ao Senado


Por uma votação de 44 a 26, o tucano Aécio Neves voltará ao Senado, após afastado por acusações de corrupção feitas pelo antigo procurador-geral Rodrigo Janot, com base nas gravações feitas por Joesley Batista. Ele precisava de 41 (maioria simples) para recobrar o mandato, suspenso pelo STF.

Aécio Neves contou com o apoio da maioria dos colegas para voltar (Divulgação)


Abaixo, a lista dos votantes: 


Sim

Airton Sandoval (PMDB-SP)

Antonio Anastasia (PSDB-MG)

Ataídes Oliveira (PSDB-TO)

Benedito de Lira (PP-AL)

Cássio Cunha Lima (PSDB-PB)

Cidinho Santos (PR-MT)

Ciro Nogueira (PP-PI)

Dalirio Beber (PSDB-SC)

Dário Berger (PMDB-SC)

Davi Alcolumbre (DEM-AP)

Edison Lobão (PMDB-MA)

Eduardo Amorim (PSDB-SE)

Eduardo Braga (PMDB-AM)

Eduardo Lopes (PRB-RJ)

Elmano Férrer (PMDB-PI)

Fernando Coelho (PMDB-PE)

Fernando Collor (PTC-AL)

Flexa Ribeiro (PSDB-PA)

Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN)

Hélio José (PMDB-DF)

Ivo Cassol (PP-RO)

Jader Barbalho (PMDB-PA)

João Alberto Souza (PMDB-MA)

José Agripino (DEM-RN)

José Maranhão (PMDB-PB)

José Serra (PSDB-SP)

Maria do Carmo Alves (DEM-SE)

Marta Suplicy (PMDB-SP)

Omar Aziz (PSD-AM)

Paulo Bauer (PSDB-SC)

Pedro Chaves (PSC-MS)

Raimundo Lira (PMDB-PB)

Renan Calheiros (PMDB-AL)

Roberto Rocha (PSB-MA)

Romero Jucá (PMDB-RR)

Simonte Tebet (PMDB-MS)

Tasso Jereissati (PSDB-CE)

Telmário Mota (PTB-RR)

Valdir Raupp (PMDB-RO)

Vicentinho Alves (PR-TO)

Waldemir Moka (PMDB-MS)

Wellington Fagundes (PR-MT)

Wilder Morais (PP-GO)

Zezé Perrela (PMDB-MG)


Não: 

Álvaro Dias (Pode-PR)

Ana Amélia (PP-RS)

Ângela Portela (PDT-RR) 

Antônio Carlos Valadares (PSB-SE)

Fátima Bezerra (PT-RN)

Humberto Costa (PT-PE)

João Capiberibe (PSB-AP)

José Medeiros (Pode-MT)

José Pimentel (PT-CE)

Kátia Abreu (PMDB-TO)

Lasier Martins (PSD-RS)

Lídice da Mata (PSB-BA)

Lindbergh Farias (PT-RJ)

Lúcia Vânia (PSB-GO)

Magno Malta (PR-ES)

Otto Alencar (PSD-BA)

Paulo Paim (PT-RS)

Paulo Rocha (PT-PA)

Randolfe Rodrigues (Rede-AP)

Regina Sousa (PT-PI)

Reguffe (Sem partido-DF)

Roberto Requião (PMDB-PR)

Romário (Pode-RJ)

Ronaldo Caiado (DEM-GO)

Walter Pinheiro (Sem partido-BA)


Entre os que votaram pelo "sim", além de todos os tucanos, estão senadores ilustres como Fernando Collor e alguns membros do PMDB - a maioria deles situacionista - como Edison Lobão, Marta Suplicy, Renan Calheiros e Jader Barbalho. Outros peemedebistas foram contra Aécio, como Roberto Requião e Kátia Abreu, mais vinculados ao governo anterior, votando de acordo com a totalidade do PT e do Pode (Podemos), uma das mais recentes agremiações, que reune Álvaro Dias (ex-tucano) e Romário. E os alvos da Operação Lava Jato estão nos dois lados. Este é um resultado bem esperado entre os membros da Câmara Alta, instituição vista como "degenerada" por uns e "mal necessário" por outros. E com poucas esperanças de ser devidamente reformada pelos eleitores em 2018.