quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O eneagrama

Recentemente, escrevi uma série de postagens abordando os tipos de personalidade segundo a teoria jungiana. Outras abordagens existem, mas uma delas chamou a atenção, pela estranheza: é o eneagrama de Gurdjieff, psicólogo armênio inspirado no pensamento de Platão e Pitágoras, e nas seitas gnósticas, além do pensamento cristão medieval europeu. 

Este teste de personalidade visa o desenvolvimento pessoal e o aprimoramento da inteligência emocional, desenvolvendo os pontos fortes e compensando os fracos. 

O eneagrama é uma figura, à primeira vista, estranha, com nove pontas numeradas de 1 a 9, dentro de um círculo. Cada número possui um significado. 



1: Perfeccionista: organizado, exigente consigo mesmo e com os outros, é geralmente introvertido e racional, com senso prático apurado, e raramente está satisfeito; pode se tornar irritável e amargo; está associado ao vício da ira. 

2. Amigável: prestativo, bondoso (alguns desse tipo devem tomar cuidado com a ingenuidade), e extrovertido, tem muita empatia e gosta de ajudar os outros; mesmo assim, pode ser manipulador emocionalmente, obrigando os outros a fazer o que ele quer, e achar-se superior; está associado ao vício do orgulho. 

3. Executivo: é uma pessoa voltada para o sucesso e o conforto material, não medindo esforços para empreender e conquistar a admiração alheia; é extrovertido, trabalhador e gosta de estar no comando, mas pode guardar sentimentos como ansiedade e insegurança; está associado ao vício da vaidade. 

4. Romântico: artista e estético, também é muito sensível e emotivo, tendendo a invejar o sucesso alheio (está associado ao vício da inveja); é em geral introvertido, idealista e gosta de exercer sua criatividade. 

5. Observador: mais racional e introvertido dos tipos, gosta de observar e calcular, dedicando-se facilmente às ciências exatas e à pesquisa acadêmica; confia em sua capacidade intelectual, mas pode se tornar esquivo e materialista (a avareza é o vício contra o qual precisa acautelar-se). 

6. Questionador: ambivertido, gosta de estar na companhia das pessoas e debater ideias, mas é reservado; tipo mais complexo, pois adora desafios e ao mesmo tempo mostra grande cautela diante de perigos; pode apresentar facilmente neuroses e transtornos de personalidade, e está associado ao vício do medo. 

7. Entusiasta: é o mais sociável e extrovertido de todos os tipos, apreciando diversão e aventura; tende a ser hedonista, procurando prazeres e fugindo de compromissos que exijam muito esforço e sacrifício pessoal; como gasta bastante energia, aprecia bastante boa comida, mas deve se acautelar contra o vício da gula. 

8. Confrontador: extrovertido, gosta de desafios e confrontos, embora seja um péssimo perdedor; desafia constantemente a autoridade, quando não está no comando; líder nato, assertivo e de vontade firme, pode se tornar excessivamente dominador e autoritário, chegando a ter prazer com o sofrimento alheio e desenvolver taras sexuais; está associado ao vício da luxúria. 

9. Pacificador: gosta de ambientes harmoniosos e bem estar, para si e para os outros; introvertido, tem dificuldade para impor suas vontades; é paciente e calmo, tranquilo mas de pouca energia - é o típico "fleumático", segundo as teorias antigas de temperamento; está associado ao vício da preguiça. 

Cada uma dessas pontas numeradas possui uma "asa", representada pelo arco da circunferência que o une à ponta vizinha. As "asas", ou wings (w), é que definem a personalidade da pessoa. Assim, temos 18 combinações: 1w2, 2w1, 2w3, 3w2, e assim por diante, até o 1w9. O primeiro número do código é o tipo e o segundo número é o subtipo. 

As pontas também são ligadas às outras duas, não vizinhas, por segmentos de reta. Isso indica as relações mais intensas, de prazer e de estresse, em encontros iniciais. Curiosamente, segundo o eneagrama, sempre um tipo se estressa enquanto o outro aproveita a companhia. Essa convivência, quando se mantém por bastante tempo, resulta em crescimento mútuo e harmonização, podendo anular os vícios de ambos. Assim, o tipo 1 se estressa com o tipo 4 e gosta do tipo 7. Paradoxalmente, o tipo 4 gosta do tipo 1, que causa irritação no tipo 7, pelo menos em abordagem inicial. O aparente paradoxo pode desencorajar quem esteja interessado em estudar essa ideia. 



Existem autores que associam o eneagrama com os outros diagnósticos de personalidade, como o MBTI (a análise jungiana de Myers e Briggs abordada na série anterior) e o DISC (Dominante - Interpessoal - Sensato - Cauteloso), embora as adaptações nem sempre sejam felizes e causem ainda mais confusão, levando ao questionamento desses métodos de avaliação. 

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