segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Repensando Nelson Rodrigues

Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues estaria com 105 anos - e não suportaria este nosso tempo


Nelson Rodrigues foi um dos mais originais dramaturgos do Brasil, e ainda hoje é bastante discutido por seu pensamento, considerado inteligente e perspicaz por uns, despudorado e escandaloso por outros. E era odiado pelos marxistas, devido ao seu conservadorismo, principalmente devido a uma crônica sua, chamada de A Revolução dos Idiotas

Dizia ele: [Até o século XIX,] o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha ilusões. Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha, ou tirar uma cadeira do lugar. Em 50, 100 ou 200 mil anos, nunca um idiota ousou questionar os valores da vida. Simplesmente, não pensava. Os ‘melhores’ pensavam por ele, sentiam por ele, decidiam por ele. Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes descobriram que são em maior número e sentiram a embriaguez da onipotência numérica. E, então, aquele sujeito que, há 500 mil anos, limitava-se a babar na gravata, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente etc. Houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas.

De fato, o marxismo mobilizou várias pessoas com baixo potencial intelectual, mas também muitos  idealistas, pensadores de vanguarda e espertalhões, o que resultou nos desdobramentos dessa linha de pensamento: o leninismo, o stalinismo, o trotskismo, o maoismo e outros. A grande maioria dessas ideologias oferecia soluções fáceis para problemas difíceis, como a miséria e a desesperança da maioria desprivilegiada. E foi a base para vários regimes discricionários, onde as elites antigas foram substituídas pelas novas, representadas pelos dirigentes comunistas e seus filiados. Os pobres e despossuídos continuavam na mesma situação, mas não eram explorados pelos capitalistas, e sim pelas novas elites, que lhes pregavam ilusões a respeito de nações igualitárias, onde o Estado providenciava os serviços vitais para todos: além de saúde, educação e segurança, uma suposta distribuição justa dos meios de produção. 

Em países onde o marxismo não prosperou, ora houve progresso devido ao estímulo à educação, qualificação e inovação (em países capitalistas avançados), ora as elites dominantes passaram a adotar certos conceitos oriundos do marxismo principalmente para conquistarem as massas e controlá-las, criando os populismos, marcados pela demagogia e paternalismo. Talvez este seja um terreno ainda mais fértil para a disseminação da ignorância patológica. Existiram ainda os países oprimidos por ditaduras anti-comunistas, geralmente nacionalistas ou corruptas, que justificam seus atos tendo como pretexto o "perigo vermelho". Aí, em ambiente autoritário, também não há terreno fértil para o desenvolvimento intelectual.

Da mesma forma, ainda há os regimes fortemente influenciados pela religião, principalmente os islâmicos, via de regra autoritários ou extremistas, também pouco convidativos ao pensamento e à ciência. O ódio contra os ocidentais e seus valores (principalmente o liberalismo "materialista" e o comunismo "ateu"), e o desenvolvimento da Guerra Fria, com a intromissão dos americanos, soviéticos e respectivos aliados, para exploração de petróleo e venda de armas, contribuiu para o desenvolvimento dos grupos terroristas. Também havia outros grupos assim, em diversos países, mas para tentar implantar o comunismo pela força das armas.

Nos países onde houve progresso material, contudo, os setores menos favorecidos ou mais idealistas (ou oportunistas) sofriam a influência do velho Marx e de seus discípulos, alimentando as revoltas estudantis e os movimentos de contracultura como os hippies, enquanto os governos e as corporações se metiam em questões alheias por meio de intervenções e guerras para defesa de seus interesses no exterior. A rebeldia e o inconformismo acabaram se modificando, para surgir o pensamento "politicamente correto", motivado pela aparente defesa dos que não conseguem se defender, como as minorias raciais, sexuais e sociais, mas cujos vícios de pensamento acabam levando ao fanatismo e linhas de raciocínio pouco adequadas à realidade, emburrecendo muitos seguidores.

Resumindo: o marxismo criou o comunismo, que inspirou o populismo, permitiu o nascimento do "politicamente correto", levou ao aprimoramento do autoritarismo e estimulou o terrorismo. Ainda possibilitou a reação de outros, motivados pelo mesmo conceito fortemente empregado pelas ideologias inimigas, o "nós contra eles", dando vivas a Trump como os rivais aclamam Che Guevara. Tudo isso é estimulante para o entrevamento mental.

Eis, em mal traçadas linhas, uma interpretação do pensamento rodrigueano. E podemos notar a manifestação dos infelizes de poucas luzes principalmente nos comentários dos portais de notícias, nas redes sociais, nas discussões da atual política... para fazer o mestre dramaturgo se revirar em seu túmulo. 

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