quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Laerte, uma pessoa do nosso tempo

Estamos vivendo uma época onde setores da opinião pública estão polarizados, militando em trincheiras opostas, enquanto a maioria da população está alijada do processo, simplesmente cuidando da vida porque não vive de panfletagem e precisa sobreviver. 

Um dos militantes atuais é o(a) cartunista Laerte Coutinho. Autor(a) de personagens memoráveis no final do século XX, como os Piratas do Tietê, Overman e Condomínio, está se dedicando, ultimamente, a fazer tiras engajadas, defendendo os ideias considerados "progressistas" e, principalmente, os direitos dos transgêneros. Ele, aliás, ela, desde 2004 se veste de mulher e se considera do gênero feminino, aliás, do "sexo trans feminino", na acepção corrente. Mostrou a sua transformação pelos quadrinhos: seu personagem, Hugo, foi se transformando em Muriel com o tempo, passando por todo tipo de preconceitos e hostilidades. 



Fora as tiras da Muriel, ele(a) está se dedicando a fazer tiras cada vez mais politizadas, virando um(a) autor(a) de nicho. Sua arte, no passado, tinha humor e leveza, mas está difícil encontrar isso em certos trabalhos dele(a), como abaixo: 


Esta tira, dois anos atrás, foi criticada acerbamente por Reinaldo Azevedo, jornalista até há pouco ativo combatente do "outro lado", ou seja, o da chamada "direita política", até recentemente assumir atitude mais crítica (menos com o presidente Temer e o ministro do STF Gilmar Mendes, com os quais ele tem uma fidelidade quase canina). O jornalista foi além da sandália e fez um comentário ad hominem, atacando a pessoa e não a tira, considerada de mau gosto e descaradamente pró-Dilma, em tempos de "fora Dilma", quando a presidentA era ela. Chamou-o(a) de "baranga moral", entre outros impropérios. Laerte se ofendeu e recorreu à Justiça, que mandou o jornalista pagar R$ 100 mil por injúria. Ainda cabe recurso. 

Laerte, que não pode ser atacado(a) de forma pessoal, é um(a) artista, e seu valor como "formador de opinião" não pode ser sobrevalorizado, como os militantes políticos, de ideologias opostas ou não, apregoam. De qualquer forma, é uma pessoa engajada, e isso é próprio de uma época bem diferente daquela do Raul Seixas, aquele que prefere ser "uma metamorfose ambulante" a "ter aquela velha opinião formada sobre tudo". 


N. do A.: Pessoalmente, confesso sentir muita falta dos trabalhos antigos do Laerte, quando ele(a) se preocupava menos com a sua própria sexualidade. 

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