sexta-feira, 27 de outubro de 2017

E preciso registrar enquanto é tempo

O "cabeça-seca", ave da nossa fauna. Perto da situação atual brasileira ele fica lindo - aliás, cabeças secas (de intelecto) é que não faltam (divulgação)

Precisamos colaborar para o engrandecimento do país, tornando-o mais produtivo, eficiente, justo para com toda a sociedade e representativo perante o resto do mundo. É dever de todo cidadão consciente fazer sua parte, e é prova de grandeza fazer a maioria da população, entregue ao desalento e a uma rotina de lutas e sacrifícios pessoais, adquirir consciência de seus direitos e deveres. 

Nosso governo não pode fugir à sua responsabilidade. E deve investir seu tempo em fazer algo útil, respondendo as críticas com ações positivas, e abster-se de agir como se estivesse cercado de inimigos. A ciência, a pesquisa e o desenvolvimento, certamente, não estão entre eles, mas é como se estivessem, quando houve um contingenciamento de 44% nas verbas do CNPq e cortes significativos nas verbas de outras agências de fomento. Dos trabalhos acadêmicos dependem o combate às doenças transmitidas pelo Aedes aegyptii, a possibilidade de diminuir a dependência tecnológica vinda do exterior nas indústrias, e técnicas para aumento da produtividade no agronegócio. 

Também seria melhor para a imagem do governo se preocupar mais com os pobres e menos com a sua base aliada. Está certo que ela é necessária para governar e aprovar uma reforma da Previdência para torná-la viável a longo prazo. Mas é flagrante a indiferença deste governo com os mais pobres. Se queremos impedir a volta do populismo, é necessário estar empenhado em incentivar os setores produtivos em empregar pessoas, melhorar a educação e a qualificação, e sepultar a hedionda ideia de "povo ignorante é melhor conduzido". 

Por falar em base aliada, não só ela como a oposição estão repletos de investigados pela Lava Jato, daí a atuação excessivamente defensiva dos congressistas, mesmo com a escassez de processos contra eles. Escassez, sim: o Ministério Público e a Polícia Federal poderiam ser mais eficientes e fazer menos propaganda e militância, para punir os culpados. A lista de investigados no meio político é imensa, mas a de réus é irrisória e quase inexistem condenações. É lógico que melhorou em relação ao passado, quando investigações contra grandes esquemas de corrupção não vingavam, mas não é nem de longe o suficiente. Mesmo assim, os núcleos do poder ainda estão agindo como se estivessem em perigo e, para os entusiastas da faxina moral, comportando-se realmente como responsáveis pela sordidez política e econômica do Brasil. 

Já foi escrito neste blog que o governo Temer perdeu o direito de ser ruim após o impeachment de Dilma Rousseff, e ele está sendo quase tão nefasto quanto o segundo governo dela, sendo na prática, em termos políticos e institucionais, uma extensão daquele, apesar das evidências diferenças ideológicas, com mais pragmatismo atualmente. Existem argumentos a favor deste governo em termos econômicos, como a queda dos juros e da inflação e a boa fase da Bovespa, mas eles são suficientes para a satisfação do povo, se ele continua entregue à miséria e à mediocridade, vendo seus filhos estudarem em escolas abaixo da crítica, submetidos a um sistema de saúde falido - e cujas propostas de reforma só visam beneficiar os planos de saúde, sem real benefício dos cofres públicos, dos médicos e dos pacientes - e acomodados em um status social indigno, morando em favelas e terrenos muitas vezes irregulares? Milhões de pessoas estão ainda em fragilidade, sem perspectiva de melhora e alvo fácil para os candidatos a "salvador da pátria". 

Só não é aceitável falar em "Fora Temer" porque os partidários da deposição do atual governo conseguem tem ainda menos respaldo legal do que Temer, que acumula denúncias contra ele e as mais fortes, infelizmente, são baseadas nas gravações de Joesley Batista, com a intenção mais para agravar a crise institucional do que em punir eventuais malfeitorias do presidente. Boa parte dos acusadores são réus na Justiça, apesar de sua influência para manipular o sistema jurídico serem tão grandes quanto os homens do governo, que, formalmente, ainda não são réus. São, da mesma forma, interessados em tratar a sociedade brasileira como gado, manter os mesmos privilégios para os seus aliados, abusar do regime democrático, usando-o para projetos de poder e contribuindo para a degeneração do sistema. 

O que estamos criando para o futuro? Segundo o que foi feito nos últimos anos e ainda será executado em 2018, não será algo bom. Os protagonistas desta história têm poder suficiente para tornar este imenso lugar afetado indefinidamente por uma "Síndrome da Resignação" - uma doença provocada por um trauma gigantesco, a ponto de causar catatonia generalizada - ou um país em condições de impor respeito de acordo com o seu tamanho. E, como já exposto no primeiro parágrafo, não é só o governo ou os congressistas e os ministros do STF. Somos nós. 

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