quinta-feira, 18 de abril de 2019

Da série 'Energias renováveis no Brasil', parte 2

A cana-de-açúcar, uma das bases da economia brasileira, também é fundamental para o fornecimento de combustível desde o Proálcool (Divulgação)

Dentre as fontes energéticas mais importantes, está a biomassa, isto é, aproveitando vegetais e restos orgânicos para a produção de combustíveis e até eletricidade. 

A biomassa é considerada renovável por ser feita a partir de plantas que podem ser reintroduzidas após o corte, e as emissões de gás carbônico a partir da queima desse e outros tipos de combustível são, em parte, aproveitadas pelos vegetais a partir da fotossíntese. 

Resíduos biológicos foram aproveitados desde o tempo do Brasil Colônia, quando se usava, e ainda se usa, lenha para aquecimento. No século XVIII, óleo de baleia foi usado para ser queimado em tochas de iluminação pública, antes da implantação da eletricidade. O álcool etanol como subproduto da cana-de-açúcar, base econômica secular do país, foi aproveitado no século XX inicialmente como aditivo para a gasolina. Com a crise do petróleo de 1973, foi necessário pesquisar alternativas para os combustíveis fósseis, e a escolha recaiu naturalmente sobre o etanol. 

Na década de 1970, o Proalcool foi o grande salto para o desenvolvimento deste tipo de energia. O Brasil passou a produzir álcool como combustível veicular, levando as montadoras a desenvolverem carros como o pioneiro "cachacinha", um Fiat 147 movido a álcool. Na década seguinte, a maior parte dos automóveis produzidos era movida a combustível vegetal, mas houve uma crise no fornecimento do etanol, levando a uma retração e a importação inclusive de álcool metanol, substância mortífera empregada no exterior mais como combustível para carros de corrida, e como solvente. O problema no fornecimento do álcool, dependente da safra de cana, foi amenizado com o desenvolvimento de carros bicombustíveis, atualmente predominantes no mercado. 

Foi também pesquisado o biodiesel para a substituição do diesel convencional obtido do petróleo. A soja é o principal fornecedor de óleo para a produção do biodiesel, mas outras matérias-primas como babaçu e dendê também podem ser aproveitadas. A transesterificação (transformação de óleos insaturados, quimicamente considerados ésteres de baixa densidade, em ésteres mais densos) é o método mais utilizado para a produção desse combustível, gerando também glicerina como subproduto (leia AQUI para mais detalhes). Atualmente, o diesel usado em máquinas agrícolas, caminhões e ônibus possui 10% de biodiesel em sua composição, resultando em menos emissões nocivas de poluentes como o dióxido de enxofre e materiais particulados (fuligem).

Por outro lado, os resíduos do processamento da cana-de-açúcar, como bagaço e palha, podem servir para usinas termelétricas gerarem eletricidade. Resíduos de cortes de árvores como o eucalipto também são aproveitados. Isso contribui para a substituição do carvão e do petróleo para alimentarem as caldeiras que fornecem vapor para movimentarem as turbinas das termelétricas.

Outra fonte de biomassa é o biogás. Lixo orgânico e até esgoto são matérias-primas para a produção desse combustível, um substituto do gás natural consumido em residências, veículos e usinas termelétricas. Seu uso ainda é reduzido, mas existe um enorme potencial de exploração (leia mais AQUI). A purificação do biogás pela separação do metano (CH4) resulta no biometano, mais aproveitável.

Dados de 2016 informam que a biomassa representa 8,8% da matriz energética no Brasil.

Há um custo em se aproveitar este tipo de energia renovável: a ampliação no plantio de culturas para a biomassa pode representar um impacto nos habitats naturais, por meio do desmatamento. Por isso, é preciso fazer estudos sérios e consistentes, incluindo técnicas modernas de plantio e exploração dos terrenos. O aumento do consumo do lixo para a geração de biogás contribui para compensar esses efeitos negativos, mesmo considerando o perigo do metano, componente do biogás, para o agravamento do efeito estufa, em caso de eventuais vazamentos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário