Hoje, o portal Uol, em conjunto com a BBC News, relatou o chamado "Índice Anual de Países mais Infelizes", do original elaborado pelo economista americano Steve Hanke chamado "Annual Misery Index". A metodologia empregada neste índice é a soma do crescimento econômico com inflação e taxa de desemprego, e não foi criada por Hanke, mas por outro economista, Art Okun, na década de 1960.
Muitos lerão a reportagem do Uol, e irão apodar o Brasil de "país triste" porque está em quarto lugar no "Annual Misery", com índice 53,6, atrás apenas da Venezuela (absurdos 1.746.539,1), da Argentina (105,6) e do Irã (75,7). Infelizmente, a taxa de compreensão de textos por aqui é bastante baixa, porque o país tem uma educação ainda péssima. Mesmo quem tem curso superior acaba interpretando mal um texto escrito, porque não se deu ao trabalho de ler com atenção.
Aliás, o título da reportagem foi muito, digamos, infeliz:
"Índice criado por economista classifica Brasil como 4o país mais triste".
A palavra "triste" poderia estar entre aspas, porque não foi empregado em seu sentido mais literal, e sim como sinônimo de "baixo crescimento econômico, alto índice de desemprego e inflação alta".
O Brasil nem tem uma inflação tão alta: 3,75%. Apenas o crescimento econômico foi muito baixo (1,1%) e o desemprego é alto mas não catastrófico, ficando em torno de 12% ao longo do ano passado.
Da mesma forma, se alguém acreditar que a Tailândia é, de forma literal, o país mais feliz do mundo, está precisando conhecer melhor a realidade do país ou simplesmente necessita de tratamento psiquiátrico, porque, de acordo com este índice, o país asiático só é tão "feliz", com índice de "tristeza" de apenas 1,7 ponto, por combinar alto crescimento econômico, baixo índice de desemprego e inflação sob controle. Não é porque os tailandeses estão se sentindo bem, ainda mais sendo governados por uma ditadura desde 2014.
Aliás, para fins de informação, a Tailândia nem está numa situação tão maravilhosa assim: em 2018, ano base deste balanço de países "felizes", a taxa de inflação foi de 0,92% e o crescimento econômico foi de 4,1%. Números nada espetaculares. Só a taxa de desemprego foi bem baixa, de 1%, segundo dados oficiais.
Não há uma fundamentação, com base em dados, para explicar esses resultados. Só foi feita uma tabela dos países mais tristes, de acordo com o ranking, além de citar os países mais "felizes", incluindo a Hungria (2,6 pontos), Japão (3,3 pontos) e Áustria (3,9 pontos).
Só podem ser considerados felizes devido à metodologia empregada por Steve Hanke. Ou alguém poderia considerar um húngaro mais feliz do que um austríaco (ou sueco, ou dinamarquês, ou suíço), num país tão mais pobre e com um governo autoritário.
Portanto, quem classificar um país por "feliz" ou "triste" com base nas informações da reportagem e achar que a Tailândia é um paraíso de felicidade ou considerar o Brasil mais infeliz do que aqueles países miseráveis da África (todos melhores, ou menos piores, que o nosso país segundo o sistema de Hanke) está numa situação realmente triste (sem aspas), de profunda ignorância e alheamento da realidade.
Isso vale para qualquer um que interpretar os rankings divulgados pela mídia sem conhecer os critérios de classificação.
Isso vale para qualquer um que interpretar os rankings divulgados pela mídia sem conhecer os critérios de classificação.
N. do A.: Este blog só não divulga os índices de desemprego, inflação e crescimento econômico de cada país citado neste artigo porque não tem tempo para procurar os dados (e pelo visto o autor da reportagem, cujo nome se ignora, também não tinha). Quem quer se informar a respeito deve recorrer ao Google para achar os sites especializados, a maior parte deles em inglês. Ou seja, deve-se pesquisar com base nos termos "unemployment rate", "inflation rate" e "economic growth".
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