quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Da série '(Des)industrialização no Brasil atual', parte 4 - Indústria têxtil e de confecções

Este blog abordará dois setores industriais interligados, também dependentes do agronegócio, como os precedentes imediatos, abordados nas partes 2 e 3. O setor têxtil está mais ligado aos bens de produção, pois fornece insumos para o setor de confecção, que lida com bens de consumo. Na verdade, o setor têxtil também pode ser considerado como fabricante de bens de consumo, quando fabrica toalhas, tapetes, cortinas e outros produtos. 

Possuem uma história longa e tumultuada no Brasil. Antes do período colonial, os índios fabricavam tecidos e roupas rudimentares com técnicas como o entrelaçamento de fibras vegetais como a juta e o algodão. Entre os séculos XVI e XVIII, havia o crescimento e a diversificação das fábricas de tecidos locais, destinados ao consumo interno, mas interrompido pelo alvará de 1785, quando a rainha D. Maria I, dita "a louca", proibiu toda a atividade, em benefício das manufaturas da metrópole. Quando a atividade voltou a ser permitida, outro obstáculo foi a concorrência com os tecidos fabricados na Inglaterra, por força dos acordos comerciais feitos no periodo joanino (1808 a 1821). Naquela época, os ingleses conquistaram grande progresso com a Revolução Industrial, aumentando enormemente a produção. No século XIX, as classes mais abastadas usavam roupas de linho e seda, adaptadas ao gosto europeu, não muito de acordo com o clima tropical, enquanto os pobres e os escravos se conformavam com os tecidos mais grosseiros.

O setor voltou a ter grande expansão no século XX, com o surgimento de grandes fabricantes como a Hering, a Matarazzo, a Artex, a Tabacow, a Ferreira Guimarães, a Vicunha e outros bem conhecidos na população. Houve grande interesse no design de roupas, ao gosto do consumidor brasileiro. Isso se acentuou no período entre os anos JK e os anos 1980. Com a abertura às importações, sobretudo aos produtos vindos da China, e a desorganização econômica provocada pelo Plano Collor, nossas indústrias sofreram um choque. Empresas fecharam ou precisaram investir de forma mais intensa para se adaptarem. 

A tendência no século XXI é a permanência da pressão dos importados, nem sempre com melhor qualidade e vendidos em lojas e comércio de rua, enquanto a distribuição dos fabricantes locais, entre pequenos e grandes, segue relativamente equilibrada, com muitas pequenas fábricas enquanto as relativamente poucas empresas de grande porte concentram a maior parte do faturamento. No geral, continuam a empregar muita mão de obra, só perdendo para a área alimentícia, mas são particularmente vulneráveis às incertezas na economia e aos problemas de gestão e logística, além do encarecimento do maquinário exigido para a fabricação dos tecidos e das roupas, a sazonalidade (mais acentuada em São Paulo e no sul do Brasil, onde as estações são mais bem definidas) e a forte dinâmica imposta pela moda e pelos modismos ao longo do tempo. 

Estes fatores explicam a alta "mortalidade" das empresas têxteis e de confecções no Brasil. Segundo o Sinditextil-SP e o Sindivestiario, só em São Paulo, entre 2012 e 2016, 17% desses empreendimentos deixaram de existir. Uma triste realidade.

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