Mesmo em um lugar onde áreas verdes são uma raridade, como em vários bairros da capital paulista, a febre maculosa causa inquietação. Somente neste mês, foram quatro mortes pela doença, provocada pelo carrapato-pólvora ou micuim, a forma larval do carrapato-estrela (Amblyomma cajennense) normalmente encontrado em pastagens por onde vivem hospedeiros animais como cavalos, bois e capivaras.
Não existe outra forma de transmissão: ela só ocorre em contato com o parasita, não havendo possibilidade de contaminação direta com pessoas doentes. Assim, não há risco de uma pandemia, como a COVID-19. Embora as manchas (máculas) não sejam impressionantes para fazer o povo temer a doença, ela possui, no entanto, alta taxa de letalidade.
Aliás, é relativamente difícil lidar com o micuim, por sua picada ser em geral indolor e não causar coceira, a não ser em grandes quantidades - o que não é raro. Essas formas minúsculas (menos de 1 mm) e com apenas seis patas, enquanto o carrapato-estrela adulto tem oito como todo aracnídeo, podem ficar no hospedeiro por horas, possibilitando a introdução do agente causador da moléstia, a Rickettsia, uma forma de bactéria parasitária que depende de células vivas para se reproduzir. Os micuins devem ser removidos o mais rápido possível.
Também são perigosas as outras fases do carrapato, como o "vermelhinho", a ninfa ainda não capaz de se reproduzir, mas já com as oito patas do adulto. Aí já é possível sentir a dor no momento da picada, e a coceira. Os adultos já são mais visíveis e podem ser percebidos mais facilmente quando atacam, mas ao mesmo tempo são mais difíceis de remover, precisando usar pinças para arrancá-los pelas quelíceras (caso eles forem segurados pelo corpo podem injetar mais saliva e contaminar ainda mais a ferida provocada por eles).
As fêmeas são maiores do que os machos e tendem a ficar muito mais tempo sugando o sangue, necessário para a formação de centenas de ovos. Para isso a fêmea incha e fica do tamanho de uma jabuticaba. Depois ela morre, mas os ovos sobrevivem e, sem predadores, formam novos micuins. Os machos, ainda, podem acasalar com várias fêmeas. E assim a população dessas pragas se torna um flagelo em todo o país.
Deve-se evitar o contágio, usando roupas claras e fechadas, evitando expor as pernas e os pés nos locais infestados pelos carrapatos. É necessário evitar deixar os animais soltos nessas áreas. Também seria adequado conter os desmatamentos, pois os aracnídeos só vivem em lugares abertos, e a perda do habitat das capivaras, hospedeiras naturais, fazem-nas entrar em contato, perigosamente, com as fazendas.
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