Já foram os tempos de Pelé, Maria Esther Bueno, Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna, Guga Kuerten, pessoas cujo relacionamento com a imprensa era harmonioso e eles eram exaltados como heróis.
Agora, existem grandes ídolos, venerados pela torcida, mas com péssima relação com os jornalistas e vistos como vilões, capazes de fazer do Dunga, técnico conhecido pelas rusgas com a imprensa, parecer um sujeito legal.
Não faltam razões para os jornalistas serem tratados, muitas vezes, de forma ríspida, porque muitos realmente não se comportam como deveriam. Um caso recente foi a pergunta feita por Marco Bello Junior ao então técnico do Coritnhians, o português Vítor Pereira. Ele fez uma pergunta sobre quem mandava na casa, "ele ou a esposa", e o técnico se irritou. Na época, houve um suposto problema envolvendo a sogra dele, motivando sua saída no clube poucos dias depois, para mais tarde assinar com o Flamengo e ser visto como "traidor" pelos corintianos, episódio amplamente divulgado pela mídia. VP, como é conhecido, teve uma má passagem pelo Flamengo, perdendo todas as decisões importantes, desde o Campeonato Carioca até o Mundial de Clubes, e sua demissão foi destaque no Brasil e em Portugal.
Mas existem profissionais mais bem sucedidos do que VP, e um deles é o conterrâneo Abel Ferreira. O Palmeiras está em grande fase e acumula vitórias sob o comando dele, mas sua relação com a imprensa é comparável com sua conduta frente aos árbitros: péssima. Abel tem um temperamento terrível e já recebeu 50 cartões apenas no Brasil, sendo expulso várias vezes. Com os jornalistas, ele várias vezes questiona a competência deles, e num gesto de fúria ele tomou o celular de um profissional da Globo, Pedro Spinelli, na zona mista do Mineirão durante jogo contra o Atlético-MG.
O técnico português do Palmeiras, Abel Ferreira, é visto como um gênio, e seu "gênio forte" o faz brigar constantemente com árbitros e repórteres (César Greco/S. E. Palmeiras) |
Abel é elogiado por sua genialidade, mas também é visto quase como um Procusto pela mídia, dado a humilhar seus interlocutores e mostrar sua intolerância contra quem discorda dele. Não chega, porém, a ser considerado como um sociopata. O jovem tenista Thiago Wild é a sensação de Roland Garros, derrotando o ex-número 2 da ATP Danili Medvedev na segunda rodada e, hoje, o argentino Guido Pella, um dos top 20 da mesma associação, na terceira rodada. Mas ele é acusado pela ex-namorada Thayane Lira de violência física e psicológica, injúria e calúnia. Ao ser questionado sobre isso por um jornalista alemão, cuja identidade não foi relevada, o tenista o destratou e o agente, peruano Jorge Salked, dirigiu-se para o profissional de imprensa e disse ter fotografado a credencial dele, em atitude ameaçadora. Wild tem tudo para ser considerado um sucessor de Guga, mas seu comportamento é bem diferente, e isso pode lhe causar problemas em sua imagem pública.
Thiago Wild está indo muito bem em Roland Garros, mas a imprensa explora o alegado comportmaento agressivo contra a sua ex-namorada (Anne Christine Poujoulat/AFP) |
Gabigol, o astro do Flamengo, está bem longe desses casos, mas também tem vários atritos com jornalistas e, após a vitória sobre o arqui-rival Fluminense na Copa do Brasil, ele confrontou vários repórteres, inclusive Eric Faria, por pergunta sobre problemas internos do clube da Gávea. Neste caso, ele não foi visto como um vilão, mas ele foi várias vezes exposto pelos jornais por causa de seu comportamento dentro e fora do campo, inclusive sendo apontado como irresponsável por não ter se cuidado durante a pandemia de COVID-19, e, por isso, contraiu a doença. Ser simpatizante do ex-presidente Jair Bolsonaro, figura execrada pela maioria dos representantes da nossa mídia, também não ajuda.
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