sexta-feira, 16 de junho de 2023

Da série 'Grandes varejistas do passado', parte 5 - G. Aronson

Uma das varejistas mais conhecidas no final do século XX, principalmente nas loucas décadas de 1980 e 1990, foi a G. Aronson, cujo slogan é lembrado até hoje: "O inimigo número 1 dos preços altos". 

Seu fundador foi um dos mais conhecidos empreendedores do país. O imigrante lituano Girz Aronson (1917-2008) veio para o Brasil com apenas 2 anos de idade, e demonstrou sua perícia para ganhar dinheiro desde quando vendia bilhetes de loteria no Paraná ainda criança, a partir de 1929. Em 1944, instalado em São Paulo, fundou uma loja de peles na rua Conselheiro Crispiniano - era a G. Aronson. 

Inicialmente vendendo produtos à base de pele de animais, como casacos e bolsas, resolveu diversificar os negócios. Um dos "causos" que ele teria contado é quando vendia fogões da marca Paterno por 460 mil réis. O Mappin oferecia o mesmo produto por 390 mil reais. Ao saber disso, Girz mandou baixar o preço para 350 mil, arrscando ficar no prejuízo. Em seguida, formou-se uma fila de compradores. Para atender a demanda, Aronson pediu ao fabricante 400 fogões, e foi atendido, pagando com desconto o fotnecimento e conseguindo atender os clientes. 

A saudosa G. Aronson, "inimiga número 1 dos preços altos" (Divulgação)


Assim, foi consolidado o modus operandi, com estoques sempre altos e baixa margem de lucro por unidade. Além disso, foi usado o velho expediente, usado por muitas outras varejistas, de facilitar o pagamento via vendas a prazo. 

A rede expandiu-se rapidamente, chegando a ter 34 lojas, inclusive em shopping centers, e faturava milhões em moeda corrente - cruzeiros, cruzados, reais - durante a sua existência em meio a um cenário turbulento e com alto risco para os negócios. Para complementar, havia a Gurilândia, loja de produtos infantis, mas de curta duração, fechando antes da rede principal. 

Havia propagandas frequentes nas mídias disponíveis durante a segunda metade do século XX, com o famoso slogan e a fama de "rei do varejo" do senhor Girz foi consolidada. Mas os desafios foram apenas aumentando. 

Um dos comerciais veiculados na TV, em 1990 (do canal Comerciais Antigos)


Hiperinflação, incertezas, planos governamentais seguidos, concorrentes poderosos (porém igualmente vulneráveis, como é o caso do Mappin e das várias lojas citadas nesta série), variação violenta no poder de compra dos brasileiros, tudo isso gerava muitas armadilhas para o varejo em geral, e a G. Aronson caiu nelas. A expansão rápida e sem planejamento, instalando filiais em locais com menor demanda ou sem condições de sustentar os altos estoques de produtos, também cobrou seu preço. Assim, a rede passou a gerar prejuízos ao invés de lucros. Em 1991, a G. Aronson devia o equivalente a US$ 20 milhões aos credores. Conseguiu saldá-la, mas não conseguiu evitar novos endividamentos, agravados com a crise asiática, quando houve alto índice de inadimplência, e a concorrência de produtos de origem duvidosa vendidos pelos camelôs.

1998 foi annus horribilis para o idoso mas incansável Girz Aronson, que estava às voltas com uma dívida gigantesca (em torno dos 65 milhões de reais) e, para piorar, ele foi sequestrado, ficando 14 dias em cativeiro. Espancado e posto em condições que poriam risco à vida de um senhor com a idade dele (na época, 81 anos), sua família era pressionada a pagar um resgate de R$ 1 milhão. Mas no final foram pagos R$ 117 mil, e ele foi libertado. 

A G. Aronson não suportou, e ela entrou em falência. As lojas foram fechadas, e apenas três delas foram vendidas à rede Loja do Gugu. 

Seu fundador teve forças para fundar uma rede de quatro lojas, a G. A. Utilidades Domésticas, em 2000, tendo como matriz o mesmo local onde surgiu a finada varejista. Porém, a morte veio, em 2008, aos 91 anos, e os sucessores não conseguiram manter o legado. Agora, restam as lembranças de uma rede com uma rica história a ser contada para as gerações que talvez nunca venham a presenciar uma rede de lojas como a G. Aronson. 

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