segunda-feira, 29 de julho de 2013

Breve balanço da semana que mudou o país

O papa se despede dos cariocas (Foto: Alexandre Cassiano/O Globo)

Com a visita do papa Francisco ao Rio de Janeiro, muita coisa aconteceu, não só para mudar alguns aspectos da vida no Brasil, mas para reforçar outros:

1. A mídia arrefeceu nas críticas à violência e ao tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro, para se concentrar na Jornada Mundial da Juventude. 

2. A Igreja Católica deu mostras de fortalecimento diante da população brasileira, graças ao carisma e às atuações do papa, que exigiu mais ação dos clérigos na missão de evangelizar e deu o exemplo ao ir pessoalmente à comunidade de Manguinhos, lembrada apenas pela criminalidade e miséria - e que possui uma igreja evangélica (visitada, inclusive, pelo papa, algo raro de se ver). 

3. Por falar nisso, os evangélicos arrefeceram suas críticas à Igreja, adotando uma postura cautelosa diante de um papa que atraiu milhões em Copacabana e outros locais. Com a volta do papa, eles voltarão à ativa.

4. A falta de visão administrativa das autoridades do Rio ficou escancarada para o mundo. Guaratiba, onde fica o Campus Fidei, sofreu prejuízos milionários com as chuvas, em um lugar previsivelmente sujeito a isso. Estado e prefeitura poderiam ter feito algo para minimizar os efeitos do mau tempo nos dois anos que tiveram para preparar a JMJ. Preferiram brigar pelos royalties do petróleo, pelo visto mal empregados, como sempre. Chicago e Madrid ficaram de olho, pois perderam a eleição para sede das Olimpíadas de 2016 para o Rio, e tentaram convencer o resto do planeta sobre o "erro" de escolher a Cidade Maravilhosa como sede dos Jogos.

5. A doutrina católica foi mantida e reforçada sob Francisco. O uso de drogas foi condenado. Ele enfatizou a doutrina social da Igreja, que condena a injustiça social mas deplora o uso político desta. Como já foi citado no segundo item, a missão evangelizadora foi considerada prioridade para os sacerdotes. Ele não dá mostras de que vai transigir em questões como aborto, "casamento" entre pessoas do mesmo sexo, uso de contraceptivos, apesar de não tocar nestes assuntos durante a Jornada. Francisco não é um progressista como Paulo VI, mas um "reformista conservador" que possui influências de João Paulo I e II.

6. Continuaram as manifestações, mas elas não tiveram o mesmo apelo, devido à atenção da imprensa para a JMJ. Houve uma "marcha das vadias" que esteve longe de obter a repercussão desejada. Não houve trégua, porém, para o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes. E em São Paulo houve mais vandalismo do que qualquer outra coisa.

7. A presidentA parecia mais uma "sargentona" que recebe ordens do ex-presidente Lula do que uma estadista. Ela apareceu na recepção do papa e na Missa de Envio no último dia, assistindo-a ao lado da Cristina Kirchner e do Evo Morales, mas não compareceu na cerimônia de despedida. Seu discurso junto ao papa na abertura da JMJ foi considerado atroz para muitos analistas (leia AQUI). A gafe cometida por Joaquim Barbosa, ao cumprimentar o papa mas não Dilma na ocasião, foi explorada pelos humoristas e redes sociais. Além disso, durante uma entrevista para a Folha, ela disse, em relação a Lula, que "eram indissociáveis".

8. A JMJ teve uma repercussão muito boa no estrangeiro. A má impressão deixada pelas autoridades não se estendeu aos cariocas em geral. O Papa foi muito bem acolhido. Talvez não seja diferente em Cracóvia, sede da próxima Jornada Mundial, em 2016. E muito menos em 2017, quando Francisco voltar novamente ao Brasil, para os 300 anos do culto a Aparecida. 

sábado, 27 de julho de 2013

Em Copacabana, o papa dá o seu recado

Desta vez, o papa escolheu falar em sua língua natal para condenar as drogas, a violência, a impunidade, a corrupção, o racismo, e vários outros pecados cometidos no Brasil, após a encenação da Via Crucis dirigida por Ulysses Cruz e com a participação de artistas consagrados, a maior parte deles atores da Globo como Narjara Turetta, Murilo Rosa e Cássia Kiss, e cantores prestigiados pela emissora carioca, como Elba Ramalho. Mais de 1 milhão e meio de pessoas estavam no local acolhendo o chefe da Igreja Católica e ouvindo-o atentamente.

Nem os próprios sacerdotes foram poupados da bronca de seu líder, que lhes cobrou maior coerência e dedicação nas suas tarefas de orientar os fiéis e pregar a doutrina. Segundo Francisco, isso causou o afastamento dos jovens.

No discurso, ele poupou outro pecado, para não constranger as autoridades cariocas: a má administração política. Como explicar a construção de um palco em Guaratiba, que levou dois anos para tudo ser arruinado pelas chuvas? E o que dizer do transporte público em parafuso, principalmente o metrô, atrapalhando os fiéis principalmente no dia do início da JMJ? A um custo de mais de R$ 300 milhões! Não será surpreendente se os manifestantes exigirem o impeachment do governador e do prefeito quando o papa voltar a Roma. 


P.S.: por falar em manifentantes, eles não param de protestar, apesar das baixas temperaturas nas cidades do Sul, Sudeste e Centro-Oeste; o problema é a contundência dos vândalos, que acabaram descaracterizando totalmente os movimentos e causando prejuízos, inclusive na Av. Paulista; isto foi um dos motivos para o caos no trânsito em São Paulo: 300 km de congestionamento.


quinta-feira, 25 de julho de 2013

24 de julho é uma data inesquecível

O dia 24 de julho de 2013 vai ficar lembrado na memória de milhares de brasileiros. 

Primeiro, porque o papa Francisco comandou a missa em Aparecida. Ele falou a uma multidão de presentes, sem falar nos milhares de pessoas que não conseguiram entrar na Basílica. O "papa sorriso" exortou os fiéis a levarem a vida com mais alegria e não se prenderem aos valores materiais. Apesar de alegar não ser fluente em português ("Não falo brasileiro", ele teria dito após o fim da missa), todos puderam entender suas palavras, mesmo quem confunde o portunhol dos humorísticos com o que realmente se fala na Argentina, a terra natal do papa. No final da cerimônia, ele levou uma réplica da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Para completar, ele disse que vem em 2017, nos 300 anos do fenômeno ocorrido na então vila de Guaratinguetá, quando a imagem da Virgem Maria, enegrecida, foi pescada no rio Paraíba do Sul. Depois, ele voltou ao Rio de Janeiro para visitar um centro de tratamento de dependentes químicos, discursando fortemente contra o uso e, principalmente, o comércio de drogas, chamando os traficantes de "mercadores da morte". Para desespero dos defensores da laicização da Igreja e em acordo com a doutrina oficial da Igreja, ele foi contra a descriminação do consumo.

Papa Francisco e uma réplica da imagem de Nossa Senhora Aparecida (Foto: CTV/Divulgação)

Segundo, um frio terrível, como poucas vezes ocorreu. Foi um verdadeiro inverno, com temperaturas sempre abaixo de 10 graus centígrados. Em 13 anos, pelo menos, nunca fez tanto frio: 5,7 graus centígrados. Ontem, chegou a nevar em Curitiba, uma cidade conhecida pelas temperaturas bem abaixo da média brasileira entre junho e setembro, apesar da latitude ainda baixa: 25 graus ao sul do Equador. 

Gente agasalhada enfrenta o frio em São Paulo (Foto: Nico Nemer/Futura Press)

Terceiro e último: estou enfrentando as baixas temperaturas para registrar um fato ocorrido há pouco. Algo esperado pelos torcedores do Atlético Mineiro finalmente aconteceu. Depois do Corinthians em 2012, agora é a vez do "galo" mineiro ganhar a Libertadores pela primeira vez. Disputou o mais famoso troféu das Américas com o já tarimbado time do Olímpia, que venceu por três vezes. E ainda por cima teve de reverter um placar de 2 a 0, nos Defensores del Chaco, com direito a outros sustos. O time paraguaio poderia ter goleado e destruído o sonho dos atleticanos naquele primeiro jogo. Após um primeiro tempo nervoso, com o Olímpia disposto a segurar o resultado, os alvinegros mineiros, com Jô logo no início do tempo final e Leonardo Silva aos 41 minutos, quando muitos já perdiam as esperanças. A expulsão de Manzur poderia ter facilitado a vida do time mineiro, mas não foi o que aconteceu na prorrogação, e como "castigo" o título precisou ser disputado nos pênaltis. Enquanto Jô, Leonardo Silva e mais Alecsandro e Guilherme converteram, o goleiro Victor defendeu a primeira cobrança, de Miranda (adiantou-se, diga-se de passagem) e Gimenez selou o destino dos paraguaios. E Ronaldinho Gaúcho? Foi mero coadjuvente, e ficou sem cobrar seu penal. Pelo menos o time cumpriu o prometido: adotou o slogan Sim, nós podemos ou Yes, we C.A.M. (sigla do clube), uma tradução do mote usado por Barack Obama para vencer a eleição presidencial em 2008 (Yes, we can). Até os 41 minutos do segundo tempo, muitos acharam que eles estavam sonhando demais ...

Sim, eles puderam (Vanderlei Almeida/AFP)

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O papa Francisco vem aqui

Está tudo preparado para a vinda do papa Francisco. O governo do Rio se preocupou principalmente com a segurança do pontífice, temendo protestos como se os manifestantes fossem uma horda de muçulmanos pregando a jihad ou um bando de seguidores de alguma seita evangélica radical. O Exército estará de prontidão, para defender o líder da Igreja Católica em caso de ataques terroristas.

A visita custará mais de R$ 300 milhões aos cofres do Estado do Rio, cifras que certamente não terão a aprovação dos manifestantes, nem de muitos fiéis, e muito menos de Sua Santidade, que certamente iria reprovar todo esse esbanjamento enquanto muitos passam fome neste país, apesar da propaganda oficial negar. Em troca, poderá haver um revigoramento da fé católica no país diante do avanço dos evangélicos e, principalmente, dos neo-pentecostais.

Talvez o maior desafio será convencer a juventude a reconsiderar temas como o aborto, a homossexualidade, a vida sexual considerada promíscua pela Igreja, as questões morais e éticas. E também provar que a Igreja está disposta a discutir as suas próprias contradições, como acolher padres, bispos e cardeais pedófilos ou envolvidos em escândalos financeiros.

  O papa Francisco e o símbolo da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) (Fotomontagem da ACIDigital, Agência Católica de Informações)

Abaixo, segue um cronograma, disponível em vários outros sites e portais do Brasil e também do exterior:

22 de julho (hoje): O papa Francisco se encontra com o governador Sérgio Cabral no palácio das Laranjeiras. Dilma também estará lá. Depois ele irá para uma residência no bairro do Sumaré. 

23 de julho: Início oficial da Jornada Mundial da Juventude.

24 de julho: Visita do papa ao Santuário Nacional em Aparecida, evento este que poderá reunir milhões de fiéis. Mais tarde, ele volta ao Rio para visitar o Hospital São Francisco de Assis, o santo que lhe inspirou o nome papal. 

25 de julho: Eduardo Paes, prefeito da cidade do Rio, receberá o papa, que irá abençoar a bandeira olímpica, para os próximos Jogos de 2016. Depois é a vez da comunidade do morro dos Manguinhos. Na madrugada, o papa estará em Copacabana. 

26 de julho: Na Quinta da Boa Vista, o papa irá ouvir a confissão pessoal de jovens participantes da JMJ. Depois, no Palácio Arquiepiscopal São Joaquim, fará uma oração do Angelus em presença dos fiéis. 

27 de julho: Reunião com personalidades e autoridades civis no Teatro Municipal e depois oração em Guaratiba. 

28 de julho: Missa de encerramento, visita ao Riocentro e volta para o Vaticano.




sexta-feira, 19 de julho de 2013

Megavírus encontrados no Chile

Biólogos encontraram em águas chilenas um vírus gigante chamado Pandoravirus salinus, maior do que algumas bactérias - mede mais de 1 mícron de comprimento, ou um milésimo de milímetro, enquanto os vírus comuns como os da gripe possuem dimensões cerca de 10 vezes menores do que isso, ou seja, cerca de 0,1 mícron. Seu genoma, ou seja, o conjunto de genes que caracterizam uma espécie viva, é também muito mais complexo do que o dos vírus "normais".

Isto não vive em Brasília e nem suga gente (Foto:  Chantal Abergel/Jean-Michel Claverie)

Sabe-se que os vírus não podem viver sem um hospedeiro, ou seja, uma célula de outro ser. São parasitas obrigatórios e sugam sua vítima até a morte desta. A célula morta libera vários vírus que se instalam em outras. 

Muitos vírus podem parasitar vários tipos de células. Não é o caso da Pandoravirus, que vive à custa de amebas, aqueles seres gelatinosos e unicelulares estudados nas aulas do ensino médio. A infeliz ameba libera poucas centenas desses vírus enormes ao morrer (*). Normalmente, uma célula infectada libera milhares de novos vírus (**). 

Estes novos vírus são um desafio e tanto para os biólogos, dispostos a decifrar a complexidade de seu genoma. Pode ser que renda muitas dores de cabeça, assim como nos estudiosos de outros parasitas que, ao contrário deste megavírus, são responsáveis por doenças e morte nos seres humanos.


(*) http://www.ciencia-online.net/2013/07/descobertos-os-maiores-virus-de-sempre.html
(**) http://science.howstuffworks.com/life/cellular-microscopic/virus-human3.htm

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O "arrependimento" de Blatter

Joseph Blatter, o presidente da Fifa, anunciou que a escolha do Brasil como sede da Copa pode ter sido "errada", em decorrência dos protestos ocorridos durante a Copa das Confederações. 

Isso não quer dizer que eles estejam desistindo de fazer o torneio por aqui, muito pelo contrário. A Copa será aqui mesmo, e é tarde demais para mudar isso. 

Porém, é mais uma oportunidade da entidade se intrometer em assuntos do governo, e insinuar que as manifestações atrapalharam a Copa das Confederações. Os protestos também tinham a entidade máxima do futebol como alvo, mas o achincalhe contra NOSSO DINHEIRO representado pelo abuso nos gastos da Copa foi apenas uma das pautas. Os principais responsáveis pela gastança não são os membros da Fifa, mas empreiteiras e políticos, muitos deles dispostos a arrancar dinheiro à custa do evento, mesmo que isso signifique a ruína do país. 

As preocupações de Blatter se devem, também, à UEFA (a entidade máxima do futebol na Europa), que anda pressionando a Fifa devido ao modo como as Copas são conduzidas. Eles querem que os próximos torneios sejam feitos em mais de dois países, para beneficiar mais federações e garantir maior distribuição de lucros. Este é mais uma das rusgas entre as duas instâncias do futebol mundial, já que os cartolas europeus nunca "morreram de amores" por Blatter, acusado de enfraquecer a Europa com medidas populistas, visando o apoio das federações da África e da Ásia. Essa política é, de certa forma, continuação das práticas feitas por João Havelange, que consolidaram a péssima imagem da entidade perante o mundo.

Também é notória a simpatia das grandes entidades esportivas, e não só a Fifa, por regimes onde o povo é obrigado a aceitar todas as medidas de seus governos, como nas tiranias do Oriente Médio. Manifestações pacíficas são aceitáveis numa democracia, segundo Blatter. Inaceitável, para ele, parece ser a própria democracia.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Balanço do "Dia Nacional de Lutas"

O "Dia Nacional de Lutas" ficou no nome. As centrais sindicais tentaram ir na onda dos protestos e despertou pouco interesse. 

Tentaram fazer de tudo o que se viu nas manifestações: baderna feita pelos mais exaltados, bloqueio de avenidas e estradas, palavras de ordem reivindicando tudo. Houve também a repressão policial, com gás lacrimogênio, pimenta, balas de borracha.

O que se viu foi uma repercussão magra. Boa parte da juventude não voltou às ruas para se juntar à Força Sindical e à UGT. Não foram atraídos pelos sindicatos, que pediam temas pouco atraentes, como o fim do "fator previdenciário", um mal necessário para o rombo da Previdência não aumentar mais enquanto não se faz uma reforma que garanta vencimentos mais justos aos aposentados do setor privado e fim dos privilégios no setor público. 

Para a juventude que se mobilizou em junho, 40 horas semanais ao invés dos 44 previstos na Constituição, e 10% para saúde e educação (por quanto tempo, já que esse percentual é insuficiente para reverter a situação abjeta dos hospitais e escolas?) é pouco. Os ativistas do mês passado querem mais do que isso, e logo, mesmo que isso seja realmente querer demais. Pois infelizmente as chagas seculares do Brasil precisam de mais algumas décadas para se curarem, e isso irá acontecer quando houver mobilização e mudança de hábitos não só dos políticos mas da população em geral. Leva tempo, bastante tempo infelizmente, mas é isso ou a permanência de "tudo o que está aí": populismo, demagogia, corrupção política, rapinagem, violência.

A fim de estimular os protestos, houve até estímulos em dinheiro em São Paulo, como os jornais (Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo) denunciaram. A corrupção não era uma das numerosas reivindicações do "Dia Nacional de Lutas". Mesmo assim, pouca gente foi parar a Av. Paulista e as rodovias. 

Por fim, as manifestações, embora relativamente vazias, não tinham menos violência, pelo menos em alguns lugares, como o Rio, onde prenderam 34 ativistas e feriram outros 4. A polícia também agiu energicamente contra o bloqueio da Régis Bittencourt por ativistas do MST, situacionistas desde a posse de Lula mas ainda radicais.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O "Dia Nacional de Lutas" é amanhã, mas estão parando a cidade hoje

Hoje, o transporte público em São Paulo ficou paralisado parcialmente sob o pretexto de haver uma eleição no sindicato de motoristas e cobradores. 

16 terminais de ônibus foram impedidos de circular. O responsável por essa paralisação, Edivaldo Santiago, lidera a chamada "chapa da oposição" ao sindicato. Ele já foi presidente da categoria por duas vezes, entre 1988, quando a empresa responsável pelo transporte público ainda era a CMTC, e 2003, quando foi preso, sob acusações de enriquecimento ilícito, corrupção, uso do sindicato pelas empresas de ônibus para fazer locautes (greves a mando dos patrões) e pressionar as prefeituras nas gestões Pitta e Marta, e assassinato de sindicalistas rivais. O atual presidente do sindicato, Isao Hosogi, também estava entre os presos.

Ou seja, é uma briga entre "pelegos" capaz de causar transtorno na população, dependente de um sistema de transporte público péssimo. Isso irá perdurar enquanto não se construírem mais linhas de metrô, capazes de atender à demanda, tarefa extremamente complicada, custosa e que pode demorar décadas para se concretizar. 

Isso ocorre às vésperas do tal "Dia Nacional de Lutas", paralisação dos trabalhadores organizados pelos sindicatos, principalmente a Força Sindical. Eles defendem várias pautas, como tem sido praxe nas manifestações. Isso me lembra um velho ditado de um grande poeta da Roma Antiga, Horácio, que lembra as paralisações de hoje e amanhã: 

Parturient montes, nascetur ridiculus mus

Traduzido como "A montanha pariu um ridículo rato". Ou seja, o risco de toda essa luta resultar em nada, ou pior, só causar a paralisia momentânea do país a troco de mesquinharias, é muito significativo.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Anderson Silva não vai parar

O "Spider" foi derrotado no sábado na UFC 162 por aparentemente ter subestimado o adversário, o americano Chris Weidman. Fazendo as provocações de costume, ele demonstrava autoconfiança. Porém, nestes casos a autoconfiança não pode jamais ultrapassar a fronteira da prudência, e Weidman reagiu, irritado com as brincadeiras. No segundo round, mesmo cansado, teve forças para dar uma resposta a Anderson, nocauteando-o. 

Esta derrota causou debates sobre a seriedade (ou não) das lutas da MMA, comparada à WWE, famosa por lutas feitas por figuras folclóricas como Undertaker, Hulk Hogan, The Rock e outros. Pior, fazem analogia ao "telecatch", aquelas lutas de mentirinha do Ted Boy Marino contra vilões caricatos. 

Por outro lado, já se falou em aposentadoria do Spider, devido a esse 'mico' na UFC 162, algo categoricamente negado. Anderson Silva vai querer recuperar o cinturão perdido. Até lá terá de aguentar as gozações, por meio de memes e charges como a do Quinho e do César, abaixo: 







O site do Charges.com desta data - putz, é feriado e eu aqui postando! - também tira uma casquinha do ocorrido (assistir aqui). O Maurício Ricardo e outros criadores de animações adoram exagerar a voz fina do lutador.

O governo reclama da espionagem

Não deve ser surpresa para ninguém que os EUA espionam, sim, o resto do mundo, até mesmo seus aliados, por meio da CIA e das empresas contratadas por essa agência, como a NSA, da qual fez parte o ex-consultor Edward Snowden, agora foragido e caçado pelos EUA. 

Por isso, o governo brasileiro, ao protestar contra a Casa Branca por espionagem, fez isso como se fosse Obama, ou Bush, que inventou a espionagem de governos alheios. Não foram eles: isso é prática desde 1947, com o início da Guerra Fria. Os EUA monitoravam os seus aliados e inimigos para ver se eles representavam uma ameaça aos interesses americanos. Se as informações obtidas pela espionagem não fosse relevante, eles não costumavam interferir na soberania dos países. Caso contrário, eles tratavam de ficar de prontidão para intervir.

Agora o Brasil é um dos países considerados "confiáveis" pelos EUA, embora hajam divergências em alguns setores, como o comércio e a política externa, e não há razão para uma reação desse nível, mesmo porque não só os governos mas cada um de nós, usuários da Internet, temos menos privacidade do que se aparenta (*). 

Portanto, a reclamação do governo, se não denota uma visão simplista da atuação norte-americana, tem certo viés "bolivariano", se é que se pode chamar assim um chauvinismo anti-americano e com tendências autoritárias, como as idéias vigentes na Bolívia, na Venezuela e na Nicarágua, que, aliás, estão querendo dar abrigo a Snowden, de cujas informações foram a razão desse mal estar diplomático. O governo petista não esconde a simpatia por essa ideologia que representa a chamada "esquerda" (**) na América Latina.

Pelo menos a polêmica pode servir para forçar os governos a adotarem uma legislação específica para tornar a Internet mais segura em seus países. Os usuários deverão cuidar melhor das informações disponíveis na rede. Essas medidas minimizam os riscos da bisbilhotagem alheia. Também nos fazem um alerta para a contribuição da ignorância ou da conivência local para a ação da espionagem estrangeira.

Os EUA não vão parar com a espionagem de assuntos alheios, contra o terrorismo ou para garantir vantagens comerciais, portanto cabe aos usuários agirem para evitar prejuízos e aos governos terem atitudes mais efetivas do que fazer reclamações enviesadas ao governo americano.



(*) Temos de tomar muito cuidado com o que postamos nas redes sociais e nos blogs, pois essas informações são disponibilizadas para todo o mundo pela Internet, e evidentementemente há rastreamentos por parte dos governos, principalmente o americano, por causa do uso da "teia global" por terroristas. Também as grandes corporações da Internet, como o Google, o Yahoo, a Microsoft e as empresas de redes sociais como o Facebook e o Twitter, possuem muitas informações sobre os usuários. Ou seja, de certa forma, eles estão nos monitorando. Só não é lícito que alguns deles usem essas informações em nosso prejuízo, o que viola os direitos internacionais e a ética. E isso é um desafio para a legislação de cada país, que deve assegurar a liberdade de expressão na rede.

(**) Mais uma vez usando termos do velho maniqueísmo político. Os termos "esquerda" e "direita" estão ultrapassados, como já escrevi anteriormente (ler aqui e aqui), e não refletem as nuances de uma arte que lida com o poder e o destino dos povos.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Da série 'Mondo Cane', parte 24

Não vou perder muito tempo comentando essa notícia, que se passou em uma cidade com o nome de um papa, Pio XII. Leia AQUI para descobrir onde fica essa cidade e o que aconteceu, e por que este post está na série 'Mondo Cane'.

São coisas pitorescas de um esporte típico de um país onde as pessoas são pacíficas, no Estado onde um grande estadista consolidou sua carreira política

Renan faz por merecer ser lembrado

Descobriram que tanto Renan Calheiros quanto Henrique Alves, os ilustres presidentes do Senado e da Câmara, respectivamente, voaram em aviões da FAB para irem a casamentos. Usaram NOSSO DINHEIRO para fins particulares, portanto. 

Quando o presidente do Senado tentou justificar a denúncia, ele confirmou que fez isso, e sua explicação piorou ainda mais sua situação: alegou que "a FAB não pode dizer. Nós é que temos de dizer à FAB" (relação de poder própria de países bem avançados politicamente como o Congo). Segundo ele, nem todas as viagens de Dilma são a serviço, mas ela sempre usa aviões oficiais. Ou: se ela pode, os representantes do Legislativo e, por extensão, o Judiciário (*), também podem. E avisou que não vai devolver um centavo das despesas operacionais devidas por usar um avião público para fins privados.

Muita gente já soube dessa história e vai se lembrar do digníssimo chefe do Legislativo, talvez amanhã, talvez depois, nas manifestações de rua. 


(*) O presidente do STF, min. Joaquim Barbosa, também usou um jato oficial para assistir a um jogo do Brasil. É o mesmo caso de Renan, só que não se deram ao trabalho, ainda, de entrevistar o chefe do Judiciário por esse uso indevido do NOSSO DINHEIRO. Logo, a luta pela moralização da política vai demorar bem mais tempo do que os manifestantes querem, já que até os homens públicos considerados honestos gastam dinheiro obtido com os impostos pagos pelos contribuintes brasileiros para fins estranhos. Talvez tenhamos de esperar anos após a morte de Lula ou do Renan para isso acontecer, já que o Sarney, bem mais idoso que eles, não tem muito tempo de vida, na hipótese dos três falecerem de causas naturais após os 90 anos de idade. Isso se não acontecer um dos vários futuros distópicos, profetizados por muitos, para nosso país, como a dissolução em várias republiquetas ou uma ditadura, petista ou não.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A democracia no Egito morreu sem nunca ter realmente nascido

Era para ser um novo período na história do Egito, mas a Irmandade Muçulmana, eleita na primeira eleição democrática de um país milenar, foi uma decepção como governo. 

Os egípcios queriam reformas para saírem da miséria, desemprego e más condições na educação pública e na infra-estrutura, mas Mohammed Mursi e seus seguidores se preocuparam mais em vingar-se de décadas de perseguição política e islamizar ainda mais o país. Não queriam saber de um detalhe essencial: em um país realmente democrático há oposição, que tem o direito e o dever de apontar os erros do governo. Tentaram calá-los, ao invés de dialogar, provar que estavam no caminho certo ou admitirem os equívocos. 

Fizeram aprovar uma Constituição de acordo com as idéias da Irmandade, que possui a maioria no Legislativo. Liberdades individuais, direito dos não-islâmicos expressarem sua religião e não serem perseguidos e agredidos, respeito às mulheres e às minorias, tudo isso existe em leis magnas de países que se podem considerar democráticos. No Egito de Mursi nada disso era garantido.

Com isso, o povo não ficou satisfeito e foi às ruas protestar. A oposição pressionou Mursi e o Exército, força mais organizada do país e detentora do poder desde a era Nasser até a transição política após a tirania de Hosni Mubarak, deu 48 horas para Mursi renunciar ou fazer um acordo com a oposição. Mursi fez pouco caso e quis pagar para ver. Ao final desse prazo os generais fizeram algo que a África, da qual faz parte o Egito, conhece muito bem: um golpe militar. 

Pode-se argumentar que o golpe teve o apoio da maioria da população, mas os simpatizantes da Irmandade Muçulmana, apesar de minoritários, são conhecidos pela agressividade e militância, e não vão se aquietar, muito pelo contrário. O Egito está no caminho certo para uma guerra civil. E os Estados Unidos, prevendo o que pode vir a acontecer, recomendou a todos os americanos para saírem do país. 

Quanto ao presidente deposto, ele está incomunicável em prisão domiciliar, a mando da Justiça. O ex-ditador Hosni Mubarak também está na mesma situação. O destino de ambos é incerto. Assim como o futuro do Egito, que vivenciou um breve período de ilusão democrática, e agora volta para a tradição de se submeter ao arbítrio - que sempre deu as cartas mesmo no governo eleito de Mursi.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Copa das Confederações acabou mas os protestos, não

Continuam as manifestações pelo país após o fim da Copa das Confederações. A população não está satisfeita apenas com a convincente atuação do time verde-e-amarelo. Quer muito mais do que isso. Exige algo mais importante para o país. 

Ainda há gritaria contra tudo. Ao invés de haver uma união em torno de uma causa comum, grupos de poucos reivindicam ao mesmo tempo, nem sempre de forma a respeitar aqueles que optaram por não protestar. Um grupo de poucas centenas foi até o Largo da Batata para exigir a saída de Renan Calheiros, o presidente do Senado, com base nas várias acusações contra ele. Outro grupo maior, de caminhoneiros, resolveu bloquear as estradas com destino ao porto de Santos, exigindo pedágios mais baratos e redução no preço do óleo diesel (mesmo que isso signifique aumento no preço da gasolina ou do álcool, afinal caminhões não são movidos a esses combustíveis). Cerca de 500 bolivianos foram até o consulado da Bolívia no Brasil em protesto contra a violência, por causa do assassinato de um menino durante um assalto na Zona Leste paulistana, e as péssimas condições de vida dos migrantes, sujeitos a todo tipo de humilhações e hostilidades.

Outros grupos foram para bloquear as estradas, principalmente a Castelo Branco e a Raposo Tavares. Os alvos são os pedágios, realmente caros demais. No entanto, impedem a circulação de milhares de pessoas e causam congestionamentos. 

Nos demais Estados, os protestos parecem um pouco mais focados, contra a corrupção e a a favor de emendas constitucionais que quebram o foro privilegiado e o voto secreto no Congresso, as PECs 130 e 349, respectivamente. Eles pedem também a aprovação do referendo (mais do que do plebiscito) sobre a reforma política e a aprovação da lei que tipifica a corrupção como crime hediondo (*). Mas não faltam protestos contra o Pastor Feliciano, a má situação dos aposentados e a gastança feita para a Copa do Mundo. 



(*) Crimes hediondos são aqueles onde não há direito à fiança, como latrocínio ou estupro. A medida é um avanço, mas por si só é inútil, pois outros crimes considerados assim são praticados quase sistematicamente sem a devida punição, neste país. A Justiça teria que ser mais ágil e menos leniente para punir a corrupção e outros delitos, senão faríamos muito barulho para pouco resultado.