terça-feira, 9 de julho de 2013

O governo reclama da espionagem

Não deve ser surpresa para ninguém que os EUA espionam, sim, o resto do mundo, até mesmo seus aliados, por meio da CIA e das empresas contratadas por essa agência, como a NSA, da qual fez parte o ex-consultor Edward Snowden, agora foragido e caçado pelos EUA. 

Por isso, o governo brasileiro, ao protestar contra a Casa Branca por espionagem, fez isso como se fosse Obama, ou Bush, que inventou a espionagem de governos alheios. Não foram eles: isso é prática desde 1947, com o início da Guerra Fria. Os EUA monitoravam os seus aliados e inimigos para ver se eles representavam uma ameaça aos interesses americanos. Se as informações obtidas pela espionagem não fosse relevante, eles não costumavam interferir na soberania dos países. Caso contrário, eles tratavam de ficar de prontidão para intervir.

Agora o Brasil é um dos países considerados "confiáveis" pelos EUA, embora hajam divergências em alguns setores, como o comércio e a política externa, e não há razão para uma reação desse nível, mesmo porque não só os governos mas cada um de nós, usuários da Internet, temos menos privacidade do que se aparenta (*). 

Portanto, a reclamação do governo, se não denota uma visão simplista da atuação norte-americana, tem certo viés "bolivariano", se é que se pode chamar assim um chauvinismo anti-americano e com tendências autoritárias, como as idéias vigentes na Bolívia, na Venezuela e na Nicarágua, que, aliás, estão querendo dar abrigo a Snowden, de cujas informações foram a razão desse mal estar diplomático. O governo petista não esconde a simpatia por essa ideologia que representa a chamada "esquerda" (**) na América Latina.

Pelo menos a polêmica pode servir para forçar os governos a adotarem uma legislação específica para tornar a Internet mais segura em seus países. Os usuários deverão cuidar melhor das informações disponíveis na rede. Essas medidas minimizam os riscos da bisbilhotagem alheia. Também nos fazem um alerta para a contribuição da ignorância ou da conivência local para a ação da espionagem estrangeira.

Os EUA não vão parar com a espionagem de assuntos alheios, contra o terrorismo ou para garantir vantagens comerciais, portanto cabe aos usuários agirem para evitar prejuízos e aos governos terem atitudes mais efetivas do que fazer reclamações enviesadas ao governo americano.



(*) Temos de tomar muito cuidado com o que postamos nas redes sociais e nos blogs, pois essas informações são disponibilizadas para todo o mundo pela Internet, e evidentementemente há rastreamentos por parte dos governos, principalmente o americano, por causa do uso da "teia global" por terroristas. Também as grandes corporações da Internet, como o Google, o Yahoo, a Microsoft e as empresas de redes sociais como o Facebook e o Twitter, possuem muitas informações sobre os usuários. Ou seja, de certa forma, eles estão nos monitorando. Só não é lícito que alguns deles usem essas informações em nosso prejuízo, o que viola os direitos internacionais e a ética. E isso é um desafio para a legislação de cada país, que deve assegurar a liberdade de expressão na rede.

(**) Mais uma vez usando termos do velho maniqueísmo político. Os termos "esquerda" e "direita" estão ultrapassados, como já escrevi anteriormente (ler aqui e aqui), e não refletem as nuances de uma arte que lida com o poder e o destino dos povos.

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