Era para ser um novo período na história do Egito, mas a Irmandade Muçulmana, eleita na primeira eleição democrática de um país milenar, foi uma decepção como governo.
Os egípcios queriam reformas para saírem da miséria, desemprego e más condições na educação pública e na infra-estrutura, mas Mohammed Mursi e seus seguidores se preocuparam mais em vingar-se de décadas de perseguição política e islamizar ainda mais o país. Não queriam saber de um detalhe essencial: em um país realmente democrático há oposição, que tem o direito e o dever de apontar os erros do governo. Tentaram calá-los, ao invés de dialogar, provar que estavam no caminho certo ou admitirem os equívocos.
Fizeram aprovar uma Constituição de acordo com as idéias da Irmandade, que possui a maioria no Legislativo. Liberdades individuais, direito dos não-islâmicos expressarem sua religião e não serem perseguidos e agredidos, respeito às mulheres e às minorias, tudo isso existe em leis magnas de países que se podem considerar democráticos. No Egito de Mursi nada disso era garantido.
Com isso, o povo não ficou satisfeito e foi às ruas protestar. A oposição pressionou Mursi e o Exército, força mais organizada do país e detentora do poder desde a era Nasser até a transição política após a tirania de Hosni Mubarak, deu 48 horas para Mursi renunciar ou fazer um acordo com a oposição. Mursi fez pouco caso e quis pagar para ver. Ao final desse prazo os generais fizeram algo que a África, da qual faz parte o Egito, conhece muito bem: um golpe militar.
Pode-se argumentar que o golpe teve o apoio da maioria da população, mas os simpatizantes da Irmandade Muçulmana, apesar de minoritários, são conhecidos pela agressividade e militância, e não vão se aquietar, muito pelo contrário. O Egito está no caminho certo para uma guerra civil. E os Estados Unidos, prevendo o que pode vir a acontecer, recomendou a todos os americanos para saírem do país.
Quanto ao presidente deposto, ele está incomunicável em prisão domiciliar, a mando da Justiça. O ex-ditador Hosni Mubarak também está na mesma situação. O destino de ambos é incerto. Assim como o futuro do Egito, que vivenciou um breve período de ilusão democrática, e agora volta para a tradição de se submeter ao arbítrio - que sempre deu as cartas mesmo no governo eleito de Mursi.
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