sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Compaixão seletiva pelas cobaias

O radicalismo de alguns ativistas chamou a atenção nos últimos dias. Soltaram vários cães da raça "beagle" num laboratório de São Roque. Em seguida, americanos fizeram testes em ratos para estudo de implantes naturais de cabelos. Nas redes sociais, muitos se compadeceram dos cães, mas poucos sentiram pena dos ratos. 


 Um simpático beagle de estimação. Cães dessa raça são usados como cobaias para tratamentos de doenças, inclusive em benefício dos seus semelhantes.

Rato usado em experimento anterior para tratamento da calvície, feito no Japão em 2012 (STR/AFP/Getty Images/Newscom). Americanos foram ainda mais longe nesta semana.

A maioria das manifestações públicas foi de simpatia aos vândalos que invadiram o laboratório Royal, de São Roque, pois estavam "salvando" os cãezinhos. Porém, consta-se que eles abandonaram parte dos beagles nas ruas, e isso não é propriamente uma atitude de salvadores. Por outro lado, muitos aplaudiram os pesquisadores americanos porque a implantação de células capilares nos ratos é um passo importante no tratamento da calvície humana.

Estamos contaminados por uma idéia segundo a qual existem animais queridos que devem ser defendidos e animais odiados para serem exterminados. Cães, como os da raça consagrada pelo inteligente e imaginoso Snoopy dos quadrinhos, estão no primeiro caso. Ratos, transmissores de doenças mortais como a leptospirose e a peste bubônica, estão no segundo. 

Alguns poucos sentiram pena dos ratos usados pelos americanos, porque implantaram células humanas neles e eles sentem tanta dor quanto os cães quando são submetidos a testes. Então, o que fazer se não houvesse nenhum animal para experimentos científicos?

Ah, mas há tantos criminosos que poderiam servir de cobaias em experiências para testes de novos produtos... mas isso seria uma adaptação de uma idéia implantada por Hitler, responsável pelo uso de cobaias humanas, sobretudo judeus, em benefício da "suprema raça ariana" (sic). Há uma evidente contradição de pensamento quando se pensa que muitos ativistas também pregam tratamento mais humanitário para os prisioneiros.

Quando invadiram o Instituto Royal, os ativistas, cheios de boas intenções, ignoraram alguns aspectos importantes:
- primeiro, os animais criados como cobaias não se destinam a serem comercializados para pessoas comuns criá-los;
- segundo, o que fizeram constitui vandalismo, destruição de bens alheios, roubo e apreensão indevida de animais, passíveis de punição segundo a lei;
- terceiro, eles foram lá sem haver outros meios viáveis para a confecção de cosméticos e medicamentos, inclusive usados pelos próprios ativistas para manterem a beleza e a saúde;
- quarto, eles pegaram os beagles sem uma destinação certa, daí o abandono de alguns deles, como já foi citado aqui;
- quinto, o procedimento de "resgate" dos cães por pessoas desconhecidas causa-lhes estresse; o instinto de qualquer animal, mesmo um cão considerado de raça sociável, é a fuga ou a defesa, diante de estranhos que tentam capturá-lo;
- sexto, não se sabe o tipo de substância aplicada nos animais, que pode inclusive ser tóxica a quem os manipula.

Isso tudo sem contar os anos de pesquisa científica arruinados por esses atos inconsequentes. Esses trabalhos poderiam ser muito importantes para a cura do câncer e outras doenças graves nos seres humanos e, inclusive, nos cães e outros pets.

Por fim, uma observação suplementar: a maioria dos movimentos ecológicos fala da defesa de animais como os ursos panda, micos-leões, gorilas, tigres, lobos, baleias, botos, o veloz guepardo ou cheetah, o majestoso condor e, em menor grau, falam dos tubarões, das sucuris e das rãs. Realmente é preciso preservar e proteger as criaturas apontadas pelos humanos como dignas de serem preservadas porque são bonitos, majestosos, simpáticos, ou porque indicam a saúde de ecossistema. Entretanto, o estudo do meio ambiente é muito mais complicado do que o simples preservacionismo, e deve ser feito levando em consideração as necessidades humanas, sem o uso de violência e de acordo com as leis.

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