sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Os 30 anos da Sapucaí e os 10 sambas inesquecíveis

Em 1984, naquela década tão falada na série 'oitentolatria', o Sambódromo carioca foi usado pela primeira vez. É uma das obras do imortal Niemeyer, executando uma idéia de Darcy Ribeiro, o antropólogo, no governo de Leonel Brizola. Os três eram o que se convencionou chamar de "esquerda", quando esse termo fazia mais sentido, quando o "direitista" regime militar agonizava.

Mas não falaremos aqui de política e sim de samba, para o qual o espaço na Avenida Marquês de Sapucaí foi criado. Vários desfiles foram feitos por lá, mas dez não me saíram da cabeça até hoje. Os sambas-enredo não estão em ordem cronológica.

1. Peguei um Ita no Norte (1993), da Salgueiro, cantado até hoje. "Explode coração na maior felicidade...". Ganhou o desfile e foi aclamado.

2. Liberdade, Liberdade (1989), grande sucesso da Imperatriz Leopoldinense, campeã daquele ano: "Abre as asas sobre nós...".

3. Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia (1989), criação de Joãozinho Trinta para a Beija-Flor, foi páreo duro para a Imperatriz Leopoldinense. Ficou no vice. "Mesmo proibido, olhai por nós", como dizia a faixa do Cristo mendigo que fez a escola comprar briga com a Igreja Católica. 

4. Todo Mundo Nasceu Nu! (1990), também de Joãozinho Trinta, igualmente para a Beija-Flor. A escola de Nilópolis mais uma vez teve de se contentar com o vice-campeonato, mas fez todo cantar "Vestiu na frente, cobriu atrás..."

5. Trevas! Luz! (1997), outra criação de Joãozinho Trinta, desta vez para a Viradouro. Ficou famosa pela batida "funk" que não agradou todos os jurados mas caiu no gosto do público. 

6. Kizomba (1988), enredo da Vila Isabel, que quebrou o favoritismo das escolas maiores com um belo desfile: "Kizomba é a nossa Constituição".

7. Atrás da Verde-e-Rosa (1998), da tradicional Mangueira. Este samba-enredo cantava "Atrás da Verde-e-Rosa só não vai quem já morreu!", e empolgou a Avenida, mas por outros problemas como evolução e alegorias, a escola amargou uma má colocação. 

8. Brazil com "z" é Cabra da Peste (2002), também da Mangueira. A escola homenageou o Nordeste e, na voz do já idoso Jamelão, conquistou a Avenida e, desta vez, levou o título. "Vou invadir o Nordeste..."

9. Chuê, Chuá, As Águas Vão Rolar (1991), da Mocidade Independente de Padre Miguel, campeã daquele ano, com muito luxo e água de verdade. "É de chuê chuê, é de chuê chuá..."

10. É Segredo (2010), um dos mais memoráveis sambas-enredo dos tempos atuais, feito pela Unidos da Tijuca, que ganhou o desfile daquele ano e encerrou um jejum de décadas da escola. "É segredo, não conte a ninguém..."

Vários outros sambas-enredos da era Sambódromo também são lembrados por muita gente. Esta é a minha lista particular. Voltarei a postar na quarta-feira de Cinzas.

O Brasil saiu mais forte

Está mais forte para caminhar, com mais vigor, para ser uma nação pária. 

Graças à nomeação de dois juristas sem suficiente conhecimento do processo em trâmite quando eles foram empossados no STF, e, pior, engrossando o grupo dos favoráveis ao PT, o crime de formação de quadrilha foi desqualificado. Infelizmente, devido à demora na abertura do processo e à exigência de aposentadoria compulsória para Carlos Ayres Brito e César Peluso, segundo o artigo 40 da Constituição Federal. 

Como bem lembraram o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, e seu ex-desafeto Gilmar Mendes, houve, sim, uma quadrilha. As circunstâncias e o julgamento mostraram que o mensalão foi uma trama construída graças a um grupo organizado. Infelizmente, o grande beneficiado do mensalão foi prontamente descartado no processo. 

Os favoráveis à absolvição foram, além dos últimos ministros nomeados por Dilma (Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso), o vice-presidente do Supremo Ricardo Lewandowski, também líder dos "favoráveis" e seus seguidores Dias Toffoli e Rosa Weber, mais Carmem Lúcia. 

Além de Barbosa e Mendes, Luís Fux, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello foram os "não-favoráveis", derrotados na sessão de ontem. 

Nesta semana, os votos de Lewandowski, Toffoli, Weber e Barroso mereceram menos críticas ...


 ... do que as camisetas feitas pela Adidas para a Copa. 

Isso devia incomodar a gente bem mais do que as camisetas da Adidas, que mostraram bundas femininas, algo intensamente explorado inclusive pela propaganda oficial. Antecipou-se o Carnaval em Brasília para a Rainha Moma e seus Brighelas (*) e Scaramouches (**) se indignarem e lutarem pela dignidade nacional. Na verdade, essas camisetas nem eram para ser levadas a sério, tais como o comercial de carne feito pelo Roberto Carlos, um ex-vegetariano, agora alvo das piadas nas redes sociais. O problema maior é o que se faz com o dinheiro público. 


(*) criado da Commedia dell'Arte, representando um tipo puxa-saco, astucioso e encrenqueiro
(**) representante dos militares, podendo ser estendido às forças governamentais em geral, na mesma Commedia dell'Arte; o Scaramouche é também conhecido como "Capitão" ou "Matamoros". 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Surgia a URV, 20 anos atrás

Após décadas de inflação alta e um período descontrolado entre 1987 e 1993, quando era impraticável saber o real valor dos produtos, desde o tomate até automóveis e geladeiras, o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso e sua equipe criaram o indexador URV, embrião do Real, há exatos 20 anos, ou seja, a 27 de fevereiro de 1994. 

A Unidade Real de Valor, nome por extenso do mecanismo anti-inflacionário, passou a ser a referência para quase todos os preços, exceto aqueles atrelados ao dólar. A URV era fortemente influenciada pelo dólar, mas seu valor não era exatamente igual, pois também entrava no cálculo o valor do dólar no dia anterior. 

Para saber o valor da URV, a quem tem curiosidade, clique aqui

Esta não era uma moeda de fato, e sim uma espécie de escora do Cruzeiro Real, a última moeda vigente antes da atual. O Cruzeiro Real era uma evolução do velho Cruzeiro, a moeda brasileira entre 1942 e 1986, quando foi substituída pelo Cruzado do Sarney, e entre 1990 e 1994. Durante essa época, o Cruzeiro teve nomes variantes, como Cruzeiro Novo e Cruzeiro Real, este último desde agosto de 1993. 

Somente depois de 1 de julho de 1994 a moeda oficial passou a ser o Real que conhecemos, agora novamente ameaçado pela inflação, contra a qual o Banco Central tem aumentado os valores básicos dos juros para valores escorchantes - ontem, para 10,75% - e desfavorecido pelo baixo crescimento econômico nos últimos anos. Em 2013, o PIB cresceu apenas 2,3%.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Da série 'Oitentolatria', parte 17 - Robocop

O filme Robocop, de 1987, virou a sensação da época, ao abordar um policial cibernético governado pelas chamadas 'diretivas', programas criados para ele poder atuar, ou seja, atirar à vontade e ao mesmo tempo proteger os inocentes. O policial Alex Murphy, após perder quase todo o corpo, foi praticamente remontado com peças metálicas, adotando o nome Robocop, e passou a ser controlado por uma grande corporação, a OCP, também conhecida como Omni (primeiro nome da sigla Omni Consumer Products), que praticamente dá as ordens numa Detroit decadente e tomada pelos bandidos. Apesar de sua eficiência em reduzir a criminalidade, enfrenta a oposição do presidente da Omni, que defende máquinas totalmente controláveis, sem o 'risco' das 'fraquezas' humanas ainda contidas em Robocop, aliás, Murphy. 

 O 'policial do futuro' em sua versão apreciada e cultuada pelos oitentólatras

Por conta de seu enredo, efeitos especiais (para a época) e muita ação, o filme foi um sucesso. Custou 'apenas' US$ 13 milhões, mas arrecadou muito mais. Alavancou a carreira de Peter Weller, o policial do futuro protagonista. Passou a ser referência em termos de filme de ficção científica. Gerou uma continuação relativamente bem sucedida, e mais um terceiro filme, ruim. A trilha sonora é inesquecível.

Embora seja um dos ícones do final dos fatídicos anos 80, sua fama se estendeu por quase toda a década seguinte. Em 1991 'estrelou' até um comercial do jeans Santista. Foi parodiado e lembrado na canção dos Mamonas Assassinas, Robocop Gay. Por tudo isso, é lembrado tanto por saudosistas dos anos 80 quanto dos anos 90. 

Eis que um brasileiro teve a coragem de refilmar um filme assim. Foi uma aposta arriscadíssima, pois os fãs do Robocop clássico provavelmente não iriam gostar. Gastou quase 10 vezes mais para produzir um filme com efeitos especiais de última geração e elenco estelar: Gary Oldman, Samuel L. Jackson, Michael Keaton e o jovem Joel Kinnaman, que vive o ciborgue repaginado. Apenas um brasileiro teria esse cacife para tanto: José Padilha, um dos mais cultuados cineastas brasileiros, e diretor dos Tropa de Elite 1 e 2

O diretor aproveitou para colocar sua idéias sobre a criminalidade e a desumanização do ser humano, assuntos explorados pelos Tropas. Seu Robocop lembra alguma coisa do Capitão Nascimento, invenção de Padilha e de Wagner Moura. Até a armadura, antes cinzenta e cafona para os nossos padrões (mas inesquecível), mudou e ficou preta, como os uniformes do Bope, a famigerada Tropa de Elite. Houve um maior enfoque no lado humano e psicológico do 'policial do futuro' e na sua família, embora não muito: a mulher de Murphy limita-se a chorar e sofrer em participação um pouco maior do que na versão original, onde ela quase não aparecia.

A versão 'padilhana' do ciborgue, com idéias mais de acordo com a nossa época

Não faltam preocupações com o uso de guerreiros não humanos, como os drones utilizados até mesmo no presente. Também estão lá as críticas contra as grandes corporações (como no filme original, mas o nome foi modificado para OmniCorp), a exploração sensacionalista da mídia e os abusos capitalistas, além de outros temas para agradar o pensamento 'politicamente correto' de hoje. O que não deixa de ser uma decepção, pois na época do primeiro filme não havia essa preocupação de não ofender o bom-mocismo.

Lançado no último sábado, o Robocop de Padilha passou a ser o mais assistido. Ainda vai gerar muitos comentários e comparações com o clássico de 1987. Nos EUA, muitos torceram o nariz, porque os americanos não costumam apreciar refilmagens de filmes cult. Já no Brasil, graças a José Padilha, a tendência é que o filme seja um grande sucesso, apesar de muitos estarem malhando o filme sem ao menos assistí-lo. Afinal, Robocop virou quase um símbolo dos loucos anos 80, até há pouco tempo.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Duas notícias que demoraram a chegar

Hoje foi o dia de, finalmente, a cidade de São Paulo reaver parte do dinheiro desviado por Paulo Maluf e depositado no Deutsche Bank, um dos principais bancos da Alemanha. São US$ 20 milhões, a serem pagos graças a um acordo que isentaria o banco nas investigações internacionais das contas do ex-governador e ex-prefeito. Maluf deixou a prefeitura em 1996, mas as denúncias de corrupção surgiram já na época do governo paulista, entre 1979 e 1982. Portanto, esse dinheiro chegou tarde, mas espera-se que venha a ser empregado em benefício da população - o que é duvidoso, ainda mais considerando o atual prefeito, Fernando Haddad. 

 Estátua de Têmis, a deusa que virou símbolo da Justiça. A balança no Brasil ainda está bem mais desequilibrada, mas melhorou um pouco hoje (do blog Olympians.Br; foto de autoria desconhecida)

Outro acontecimento tardio foi a prisão do ex-membro do mensalão e principal delator do movimento que visava transformar NOSSO DINHEIRO em instrumento de poder de boa parte da cúpula petista. Roberto Jefferson era o último dos grandes envolvidos ainda solto. Seu mandato de prisão foi emitido na sexta, mas só na segunda ele foi para a cadeia, cumprir regime semi-aberto. É verdade que sem ele o mensalão provavelmente continuaria a ficar impune, mas como ele se beneficiou do esquema antes de traí-lo, há de se cumprir a decisão do STF. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A nova mania esquisita

Após os emos, a pulseira do sexo e outras bizarrices de anos recentes, agora muita gente está comprando aparelhos ortodônticos de camelôs. 

Tratam-se de imitações dos aparelhos usados para correção das arcadas dentárias, colocadas sem necessidade por pessoas, apenas porque muitos curtiram o visual nas redes sociais. 

Dentistas já alertam para o perigo representado por esse modismo, desde infecções e deformações na arcada dentária até perda óssea e enfraquecimento das raízes. 

Mais uma maluquice que virou modismo entre usuários de redes sociais (Divulgação/Facebook)

Depois disso, o que mais irão inventar? Nem me atrevo a responder essa pergunta. 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A decisão de Azeredo

O STF está prestes a investigar o chamado "mensalão tucano", uma versão bem mais reduzida e menos sistematizada do "mensalão petista", responsável pela transferência do NOSSO DINHEIRO para bolsos e cuecas de gente que quer enriquecer à custa do povo. 

O "mensalão tucano" ou "tucanoduto mineiro" envolve apenas poucos membros do PSDB mineiro e altos funcionários da Cemig e da Copasa, estatais de energia e saneamento respectivamente, mas compromete a imagem do partido, sem dúvida. Por ter acontecido em 1998 e ter a participação de Marcos Valério, foi considerado um ensaio para o grande escândalo ocorrido sete anos depois. O mais enrolado de todos é o ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo.

Para tentar evitar uma maior deterioração na sua imagem e não atrapalhar a campanha de Aécio Neves, seu correligionário, à presidência do Brasil, Azeredo renunciou ao cargo de deputado federal. Porém, ainda vai ter de enfrentar a Justiça comum, e se houver provas - por enquanto há indícios - de participação dele na roubalheira em Minas, a carreira política de Azeredo precisará ser encerrada pelo bem do país.

Eduardo Azeredo renunciou ao mandato de deputado federal pelo PSDB mineiro (Divulgação)

A roubalheira representada pelo mensalão e pelo "tucanoduto" induz as pessoas a pensarem que todo político é necessariamente um calhorda em potencial, abrindo espaço para desejos de golpes militares, revoluções radicais e outros pensamentos frutos de mentes necessitadas de informação e serenidade. O Brasil tem de aprender a resolver seus problemas sem salvadores da pátria nem candidatos a serem novos Getúlios ou Médicis.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Está mais do que na hora de repensar o sistema eleitoral

O sistema eleitoral possui várias características, dentre as quais as mais questionadas são: 

1. Voto proporcional. 

2. Sistema de urnas eletrônicas de primeira geração. 

3. Obrigatoriedade do voto. 

4. Financiamento de campanhas. 


Primeiro ítem

No voto proporcional, onde existe uma lista difusa de candidatos determinada por um território relativamente vasto - um município inteiro para vereadores, todo o Estado para deputados e senadores - apura-se a quantidade de votos para cada partido, cada qual possui um determinado número de representantes para preencher as vagas dos cargos públicos. Isso acaba favorecendo a ocorrência de "puxadores", gente que foi eleita graças a um número muito grande de votos, beneficiando outros mesmo se estes tiverem um número ínfimo de eleitores que os escolheram, caso houver vagas. 

O voto distrital, adotado em países como os Estados Unidos, restringe a opção dos eleitores, que devem escolher apenas representantes locais, de uma determinada região, chamada de distrito. Isso aumenta bastante a representatividade de cada lugar, permitindo a identificação entre eleitos e eleitores, e inibe a ocorrência de "puxadores de votos", ao mesmo tempo que diminui bastante a força de grupos minoritários, como militantes religiosos e organizações extremistas, mas tem um sério inconveniente: aumenta a probabilidade de haverem currais eleitorais. 

Para minimizar este problema, usam-se os sistemas distritais mistos, utilizados na Alemanha, onde parte dos nomes é definida por proporcionalidade e parte é determinada de acordo com os distritos. 


Segundo ítem

Existem vários testes feitos com as atuais urnas brasileiras, acusadas de favorecerem fraudes por serem facilmente violadas. O voto biométrico começa a ser adotado, mas ainda está restrito a algumas cidades. Ainda não foram discutidos meios de aumentarem a segurança do voto, já que existem vários defensores das atuais urnas, favoráveis à tese segundo a qual elas são seguras, apesar dos indícios em contrário. É fácil encontrar na Internet divulgações a respeito, com maior ou menor credibilidade. Também preocupam as notícias sobre a empresa responsável pela fabricação das urnas, a Diebold. Em outubro do ano passado, ela pagou 48 milhões de dólares em multa por ações de suborno no exterior (ler aqui e aqui - textos em inglês publicados pela USA Today e pela Reuters). 


Terceiro ítem

Por aqui, o voto é obrigatório, assim como em alguns países como México, Austrália e... República Democrática do Congo. Em outros, o voto, embora formalmente obrigatório, não significa restrição de direitos políticos como proibição de inscrever-se em concursos públicos. Defensores do voto obrigatório não alegam apenas razões didáticas, induzindo os eleitores a participarem da política a cada dois anos, mas também falam em nome da representatividade, que ficaria abalada se muitos eleitores resolvessem não comparecer às urnas. Por outro lado, segundo os defensores do voto facultativo, a qualidade dos representantes iria melhorar, sem a profusão de apadrinhados políticos e celebridades. Em democracias sólidas, como os EUA, Grã-Bretanha e Japão, o voto é facultativo. Vale lembrar que a democracia não significa apenas o exercício do voto, mas o poder de fazer um representante do poder público atender os anseios dos cidadãos. 


Quarto ítem

Atualmente o financiamento de campanhas dá margem a ganhos não contabilizados, benefícios a candidatos conhecidos como "caixa dois", feitos por empresas privadas ou estatais para favorecê-los em troca de benefícios como ajuda em licitações públicas. Tramita no STF uma lei para o financiamento ser apenas público, ou seja, usando NOSSO DINHEIRO para financiar os candidatos. Se a lei vigorar, empresas ou particulares não podem declarar doações, ou seja, eles só poderiam doar "por fora", mantendo o sistema de "caixa dois". Defensores do financiamento público defendem que os grandes partidos políticos seriam fortalecidos, cortando ajuda aos "nanicos", e um dos problemas sérios da nossa política é o excesso de partidos. Porém, outro método para conter o avanço das legendas "de aluguel" é adotar o sistema distrital de voto. Os EUA são um país onde empresas e pessoas físicas podem doar à vontade aos partidos, que são em número reduzido - com a preponderância dos partidos Democrata e Republicano - e o sistema, como já foi escrito aqui, é do tipo distrital.


Nada irá mudar em 2014, já que medidas para tentar melhorar o nosso sistema eleitoral só vigorarão no futuro. Contudo, muitos brasileiros sentem a necessidade de mudanças, por constatarem que o atual sistema é um verdadeiro paraíso para oportunistas e corruptos. Trata-se de uma tarefa difícil, e importante demais para ficar restrita apenas à Praça dos Três Poderes. 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Investigando um passado não tão recente

O Brasil parece sofrer de um atraso crônico, um tempo excessivo decorrido entre as causas e as consequências de muitos atos. 

Fala-se muito das obras atrasadas para a Copa. O país foi escolhido para sediar o evento em 2007 e o governo se empenhou muito para isso acontecer, mas as obras necessárias, entre estádios, aeroportos, hotéis, mobilidade urbana, e outros detalhes de infra-estrutura, tudo foi executado muito depois ou nem foi feito.

Isto também vale para a justiça. Temos aqui dois exemplos disso: o julgamento de policiais envolvidos no 'massacre do Carandiru', evento ocorrido em 1992, e novas investigações sobre o atentado no Riocentro, feito por militares para tentar incriminar a oposição em pleno ocaso do regime militar, 1981. Ou seja, há 33 anos atrás!

Não é desejável fazer um linchamento moral dos acusados, que precisam ter amplo direito de defesa, mas para haver justiça é preciso haver rapidez nos processos. Infelizmente a Justiça ainda está repleta de processos, e há muita gente interessada no arquivamento, valendo-se das brechas na lei ou simplesmente por meio da tristemente conhecida regra do "molhar a mão". 

Já era para os culpados desses crimes, ocorridos no século passado, já estarem cumprindo pena, mas devemos nos lembrar sempre que este é um país onde muito ainda precisa ser feito para abandonar a fama de procrastinador.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Dona Marina não me surpreende

O discurso de Marina Silva, aliada de ocasião do presidenciável Eduardo Campos, é sempre contra a "política tradicional", ao lado dos discursos pelo meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Para sobreviver neste caminho, porém, ela utiliza o jogo da... "política tradicional". 

Um dos mecanismos mais criticados é o uso de "puxadores de votos", ou seja, gente carismática e nem sempre capaz de atender seus eleitores, que são amplamente votados para beneficiar outros candidatos do mesmo partido. O PSB não é um partido dos mais parrudos, ao contrário do PT, do PSDB e do PMDB.

Marina quer um "puxador de votos" para o Senado, representando o Rio de Janeiro. É o ator Marcos Palmeira, conhecido militante das causas ambientais, embora sua ótica de protestar contra a usina de Belo Monte, junto com outros atores, em nome da preservação da Amazônia, seja considerada algo míope (talvez mais do que eu, que preciso de óculos de 15 graus... hehehe!) por só ver um suposto lado ruim da usina. Ator tarimbado, mas sem garantias de que vá atender as reivindicações dos cariocas, por entender alguma coisa de novelas e relativamente pouco, menos do que ele acha saber, de política. 


Marina quer preparar o terreno para um futuro governo Campos, onde ela seria a "eminência parda" (divulgação)

Isso não surpreende, pois Marina Silva, para combater a chamada "velha política", como ela afirma fazer, precisa saber usar as regras dessa mesma Geni na qual ela gosta de jogar pedras. Porém, ela certamente irá ser alvo também da maledicência. Não faltará gente que irá sugerir para Marina e Eduardo Campos renunciarem às pretensões presidenciais em favor de um candidato com nome realmente forte para derrotar Dilma Rousseff. Quem sabe aquele que encarnou o terror da bandidagem anos atrás, isto é, o "Capitão Nascimento" Wagner Moura? Poderia resolver o problema da segurança, algo crítico em nosso país! O ator baiano já participou ativamente da tentativa fracassada de criar a Rede, o partido da Marina ...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Ainda o calor...

Há um ano atrás um brasileiro criativo teve a idéia de montar um ar-condicionado caseiro feito de isopor e ventoinhas usadas de computador.

Ele conseguiu provar que a engenhoca funciona. Assista aqui!

O veterano programa Fantástico, em mais uma tentativa de aumentar a sua audiência, recentemente fez uma reportagem, e ele teve a oportunidade de mostrar novamente o seu "ar condicionado". As informações foram fornecidas por alguns blogs como o Buteco da Net. 

Porém, para alguém imitar a invenção do Leandro Henrique, é preciso pensar em duas coisas, que não devem desanimar: 

1. A fonte do frio são duas garrafas de água gelada, um ítem que ameaça ficar escasso por aqui. Quando as garrafas ficarem sem seu poder de refrescar, ou seja, ficarem quentes, terão de ser colocadas na geladeira.

2. É preciso tomar cuidado com a fiação não entrar em contato direto com a água gelada, pois a umidade é grande inimiga dos componentes elétricos e eletrônicos, mas como são ventoinhas que não custam muito caro, a substituição não será uma grande dor de cabeça. A fiação elétrica do "ar-condicionado de pobre" também dá para repor sem choro.


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Cassaram

Eu me referi a Natan Donadon (sem partido-RO), pertencente a uma espécie nativa brasileira como o tatu-bola e a jabuticaba, porém muito mais perigosa, selvagem e feroz: o deputado presidiário. No momento de fechar o post anterior, ainda não me informei sobre o resultado da votação. 

469 deputados votaram. Natan Donadon teve direito de votar - pela sua absolvição, obviamente. Os demais, todos eles, com exceção de Asdrúbal Bentes, do PMDB paraense - mesmo partido de Donadon antes de sua expulsão - votaram pela cassação do mandato. 

Corrigiram um erro lamentável, motivados pela repercussão junto aos eleitores, já saturados de tanto descalabro cometido não só no Congresso, mas no restante da Praça dos Três Poderes. Antes, em agosto do ano passado, sob pretexto de mandar uma resposta ao STF, então em processo de punição aos réus do Mensalão, cometeu-se um crime de lesa-pátria ao manter o mandato de Donadon, mesmo condenado pelo Supremo por formação de quadrilha e desvio de R$ 8 milhões da verba destinada à Assembléia Legislativa de Rondônia. 

Assim, espera-se que não hajam mais maluquices como deputados cumprindo pena na cadeia, pelo bem do nosso país.

Donadon (em foto do UOL após sua absolvição em agosto) não teve o que comemorar desta vez.

Conseguindo postar com o calor

Eu poderia estar comentando sobre a morte estúpida de um cinegrafista da Band, devido a mais um ato insensato dos black blocs, ou então sobre a votação no Congresso a respeito da cassação (ou não) do excelentíssimo deputado presidiário Natan Donadon. No entanto, desta vez não vou abordar assuntos muito pesados e revoltantes. 

Também não vou dedicar uma postagem a Shirley Temple, uma das maiores atrizes da história de Hollywood. Seria para muitos um assunto também infeliz, embora a morte seja o fenômeno pelo qual todos teremos de passar um dia. 

Vou abordar o motivo pelo qual fiquei sem postar por algum tempo: o calor infernal. Arre! O pior de tudo são os prováveis racionamentos decorrentes da falta de água e da queda na capacidade dos reservatórios, como o da Cantareira e seus míseros 19%. Será um martírio! Para melhorar um pouco, coloco algumas imagens tentadoras para quem sofre com as altas temperaturas. 

 Muita gente, principalmente as crianças, adoram isto no verão

 Água de coco vai bem...

 ... assim como uma boa cerveja!

 Sonho de consumo de milhões

 Sucos gelados ajudam.

Uma piscina como a desta pousada de Ubatuba. 

 Muita gente acompanha agora as Olimpíadas de Inverno e gostaria de estar lá em Sochi ou qualquer lugar gelado (AFP)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sochi começa a virar a vitrine dos russos

Sochi iniciou oficialmente as Olimpíadas de Inverno, prometendo muito mas até agora só gerando preocupação para as autoridades russas - e para os visitantes.

Foram gastos US$ 50 bilhões para fazer de uma das cidades mais quentes a sede de competições como o curling, o esqui na neve, o hóquei no gelo e o bobsleigh. Sochi não chega a ser uma espécie de Miami dos russos, comparando apenas o fator clima, mas lá quase não neva. A grande preocupação era com a segurança, já que Sochi fica quase à beira do Cáucaso, a região banhada em sangue pelo terrorismo. Nisso eles devem ter investido bastante. Quanto à infra-estrutura, é outra história.

Existem várias mostras que os russos não se prepararam a contento. Aparentemente, as críticas à organização das Olimpíadas no Rio não repercutiram por lá, e as eventuais cobranças do COI não surtiram muito efeito. 

Foto tirada pela equipe do New York Times no dia 3 de fevereiro. Isto era para ser uma arquibancada para a pista de esqui. 

 Foto de Richard Lautens, do Toronto Star, mostrando um cenário mal acabado em Sochi.

Para piorar, a cerimônia de abertura, embora tivesse grandes momentos como uma exibição de balé no gelo e a presença de Maria Sharapova, mostrou outros detalhes que nos fazem lembrar o Brasil e não um país europeu, pelo menos em parte. O mais notável foi a falha mecânica que impediu a transformação de um "floco de neve" num dos aneis olímpicos.

Fogos da abertura (Alexander Demianchuk/Reuters)

Maria Sharapova (Alberto Pizzolli/AFP)

Flocos de neve gigantes parecem que vão despencar e esmagar os incautos (Quinn Rooney/Getty Images)

E o quinto anel? (Lucy Nicholson/Reuters)


A cerimônia remetia a um clima de contos de fada, tema dos balés de Tchaikovsky, o compositor mais conhecido do país. 

(Ryan Pierce/Getty Images)

O urso entre a lebre e o leopardo não é o Misha, a famosa mascote de Moscou em 1980 (mas parece...) (Lucy Nicholson)

Para o Brasil, a parte mais interessante foi a aparição dos 13 atletas. É o maior número de competidores do nosso país tropical nas Olimpíadas de Inverno:

Nossos homens e mulheres em Sochi (Lucy Nicholson)

Por falar em Brasil, vale lembrar que a Rússia será a próxima anfitriã da Copa. O pessoal da Fifa já está se descabelando com os atrasos na infra-estrutura e até nos estádios. Será que a Rússia fará diferente? Ou repetirá os erros do nosso país e de Sochi?

Uma semana depois, a celeuma continua

Continua a repercutir o "beijo gay" da novela das 9 que terminou há uma semana, Amor à Vida

Menos porque a atual, Em Família, é considerada uma trama sem graça que não compensa o uso do dramalhão exagerado (usado também na novela anterior), e mais porque a Globo costuma proibir a veiculação de cenas assim, consideradas ofensivas à maioria dos telespectadores.

Mostrada na trama de Walcyr Carrasco, militante da causa LGBT, a cena parecia até inocente se comparada com os beijos dados publicamente em alguns locais das grandes cidades, como São Paulo e Rio. Em boa parte das cidades do interior, mais tradicionalistas, só pensar em fazer isso já rende escândalos e fuxicos de todos os habitantes. 

Já os evangélicos, fiéis à sua visão da doutrina cristã, continuam a amaldiçoar a Globo por ter divulgado uma cena considerada por eles tão ofensiva à moral. Boa parte dos católicos também se escandalizaram. O clima hostil à "ousadia" ainda não arrefeceu.

Por outro lado, a imprensa não cansou de repercutir. Não teriam a mesma reação se a militância gay não fosse tão atuante, o mercado consumidor formado pelos homossexuais não fosse tão expressivo e se um dos personagens envolvidos não fosse o grande protagonista, Félix, que começou como um vilão afetado e ao mesmo tempo invejoso e sedento de poder, e foi se redimindo na trama. Mateus Solano, intérprete desse anti-herói, passou a ser considerado um dos grandes atores da nossa época.

Este acontecimento parece ter fôlego para ser o assunto do momento. Pena que existem outros ainda mais dignos de escândalo e revolta, como as artimanhas do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, recentemente preso na Itália por falsidade ideológica, usando dados de seu irmão falecido, Celso Pizzolato. Ele ainda teve o descaramento de dizer que sofre "perseguição política", argumento dito por todos os investigados por politicagem e crimes contra o patrimônio público. O fato dele ter planejado a fuga para a Itália desde 2007, aproveitando-se da sua dupla cidadania, agrava ainda mais a situação para ele. Naquele ano, as investigações sobre o mensalão ainda engatinhavam. 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Henfil, 70 anos

Se estivesse vivo, o cartunista Henrique de Souza Filho, o Henfil, faria 70 anos. Hemofílico como os irmãos, o sociólogo Herbert de Souza (Betinho) e Chico Mário, viveu numa época onde o controle da qualidade do sangue era precário e por isso contraiu a AIDS, que lhe tirou a vida em janeiro de 1988. 

Até agora não apareceu um cartunista como ele. Pensando bem, as circunstâncias atuais não permitem: estamos na época do 'politicamente correto', o que engessaria um trabalho de quem seguisse os passos do criador dos Fradins, tal como a ditadura militar, que Henfil conhecia muito bem. 

O Baixim deixava o Cumprido de cabelo em pé

Isto agora seria acusado de discriminação contra o índio

Outros personagens mantinham a crítica social, como a Graúna, simpática passarinha de traços marcantemente simples e que vivia faminta, e seus amigos Zeferino, o típico nordestino, e o bode Orellana, devorador - literalmente - de jornais. 


E ainda havia o paranóico Ubaldo, que tinha pânico dos militares e tremia só de pensar em ser levado pelos órgãos de repressão...


... e o Cabôco Mamodô, que enterrava em vida todos os acusados por Henfil de colaborarem com o regime. Nem a Elis Regina escapou. 


Depois, Henfil se arrependeu de tè-la enterrado junto com Pelé, Tarcísio e Glória, Roberto Carlos e Marília Pera, também acusados de 'lamberem as botas' dos militares, na sua oposição radical (até demais) à ditadura. Elis retribuiu cantando O Bêbado e a Equilibrista, de Aldir Blanc e João Bosco, cuja letra falava sobre a volta do "irmão do Henfil" (Betinho, exilado no Canadá e depois no México), e os dois voltaram à paz. 

Henfil também teve de sair do país, mas alegou motivos mais banais - um tratamento contra a sua hemofilia - para ir aos Estados Unidos. Lá ele fez uma versão dos Fradins, chamada de 'Mad Monks'. Isso foi narrado em seu livro Diário de um Cucaracha, onde ele falava sobre a estadia por lá, principalmente em Nova York, entre 1972 e 1975. Ele admirava a organização dos EUA, a tecnologia da época e coisas mais prosaicas como a ausência de água no leite, mas logo tratou de avacalhar com o 'american way of life', usando a sua ótica socialista contra a nação capitalista. Contribuiu para isso a recusa dos americanos em aceitar o seu humor considerado muito ofensivo, chamando os 'Mad Monks' de sicks (doentes), e também sobre a dificuldade de ser bem atendido no sistema de saúde local. Ele próprio foi apelidado de 'brazilian nut' (no sentido literal, é castanha-do-pará, mas também significaria algo como 'doido brasileiro'). 

Depois, ele foi para a China, em 1977, e se admirou com a organização de um país que acabava de sair da terrível Revolução Cultural, organizada por Mao Zedong e depois pelo 'Bando dos Quatro' (os radicais chefiados pela viúva de Mao, considerada o 'cão de guarda' do marido). Não faltaram críticas ao patrulhamento oficial por meio da propaganda, principalmente contra os jornalistas e cartunistas, mas também a todo o resto do povo (então formado por 900 milhões, uma quantidade assombrosa de gente naquela época). Ainda assim, sobravam elogios a um país que 'caminhava com os próprios pés' - usando um termo usado por Mao - e estava já naquela época caminhando a passos largos para deixar de ser um país pobre. Henfil ficou por lá pouco tempo, visitando apenas as maiores cidades chinesas: Pequim, Xangai e Guangzhou (Cantão). A sua viagem ao gigante comunista foi narrada em Henfil na China

Outros livros foram escritos, como o pioneiro Hiroshima Meu Humor (1966), Diretas Já (1984) e Como se faz humor político (1984). 

Henfil, já 'ferrado' pela AIDS, teve forças até para fazer um filme. Satírico, como de costume. Foi Tanga - Deu no New York Times, sobre uma republiqueta latino-americana comandada por um ditador que lia o famoso jornal de Nova York e não permitia que mais ninguém lesse, muito menos os grupos oposicionistas 'de um só integrante'. 

Ele morreu sem ver o Brasil recobrar inteiramente a democracia, que continua apesar dos desmandos do PT, partido que ajudou a fundar e colocado no poder em 2003, junto com Lula. Se Henfil ainda estivesse vivo, talvez teria motivos de sobra para malhar seus companheiros, isto é, caso não receber uma polpuda indenização que até o bem mais comportado Ziraldo recebeu por ter sofrido durante a ditadura - como se outros milhões de brasileiros não tivessem se submetido também a essa amarga experiência. 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Apagão e racionamento de novo?

Estamos prestes a voltar a sofrer com apagões e racionamentos de água!

Hoje mesmo, houve pane na distribuição de energia vinda da usina de Tucuruí, no Pará, como forma de complementar o fornecimento, já que houve aumentos anormais no consumo decorrentes do uso de ar-condicionados, ventiladores e outros meios para aliviar o calor infernal que castiga São Paulo, Rio e outras grandes cidades do Brasil. Boa parte da cidade de São Paulo e outros municípios paulistas, além de áreas das regiões Centro Oeste, Sul, Sudeste e Norte foram atingidos. O apagão não chegou a durar uma hora, mas preocupou muita gente e pode ser um aviso de problemas semelhantes em escala maior.

Também os níveis dos reservatórios do sistema Cantareira estão em 21%. Nunca houve um nível tão baixo. Boa parte de São Paulo e municípios como Franco da Rocha, Osasco, São Caetano do Sul, Guarulhos, Mairiporã, e também outras cidades do interior, como Atibaia e Campinas, estão ameaçados. O governo paulista ofereceu um desconto de 30% para quem conseguir economizar 20% da água em relação à média do último ano. É um estímulo para se usar melhor os recursos hídricos atualmente escassos, mas a situação ainda pode piorar mais, chegando ao cúmulo de se usar o temido racionamento de água, se as chuvas não caírem na região dos rios Jaguari, Atibaia e Piracicaba, que formam o sistema Cantareira. 

Se é fato que nós precisamos valorizar recursos finitos como energia elétrica e água e usá-los com mais racionalidade, os governos também precisavam melhorar a administração desses recursos, conscientizando a população, investindo em hidrelétricas, fontes de energia alternativas e viáveis, manutenção das redes de energia, conservação adequada dos reservatórios de água, inibir as ocupações irregulares perto dos mananciais. Como isso não foi feito até agora, e aparentemente vai demorar para cada um aprender suas tarefas neste sentido, estamos a mercê das sobrecargas e das chuvas que não caem nos reservatórios.


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Ainda não temos nada relevante na arte

Já escrevi uma postagem sobre a arte em 2011 fazendo uma análise sucinta sobre este assunto no século XXI. Desde então nada significativo aconteceu.

Estamos vivendo, aparentemente, tempos de indigência artística. Por quê?

A arte chamada de 'pós-moderna', como é chamado o período posterior à queda do Muro de Berlim e a progressiva quebra da ilusão acerca do comunismo, ficou escrava do gosto do público, sem a marca do autor, excessivamente impessoal e às vezes apelando para o escândalo, como nas exposições envolvendo animais e gente, mortos, descarnados, retalhados, mumificados.

Existe um quadro que resume o status quo, de acordo com a definição de Jair Ferreira Santos, autor de O que é pós-moderno, de 2004:

Ou seja, esta é a pior época para se tentar alguma inovação na arte, a não ser com o uso da tecnologia, que ao mesmo tempo facilita o trabalho e 'engessa' a criatividade. Nem na Alemanha nazista, quando aquele odioso regime inventado por Hitler perseguia a chamada 'arte degenerada', houve algo tão refratário à renovação. A indústria cultural reflete o gosto do público pelo trivial, às vezes fazendo concessões excessivas ao 'kitsch', ao descartável e ao chamado "mau gosto", como se fôssemos brutos, e não gente decente. Quem não aderir a isso fica marginalizado.

Existe a impressão que qualquer um pode ser artista, devido ao uso dos "photoshops" e outros recursos a cada ano mais acessíveis, mas sem ter os conhecimentos adquiridos ao longo de séculos, muitas 'obras' tem valor artístico facilmente questionado e considerado nulo. Todo mundo acha que pode criar algo, mas estamos criando muitos 'memes' diante de situações fúteis, como a careta que determinada celebridade de Hollywood fez. Nunca o "ctrl-c" associado ao "ctrl-v" foi tão utilizado.

Até quando o chamado "pós-moderno", um reflexo do filistinismo cultural, durar, é difícil dizer, mas já estamos em 2014, e até agora não sabemos destacar uma única obra típica da nossa época que valha a pena ser chamada de arte. Shame on us! 


P.S.: A arte do cinema perdeu de forma brutal um dos maiores cineastas brasileiros, o documentarista Eduardo Coutinho, assassinado aos 80 anos pelo próprio filho, que sofreu um surto psicótico. Deus tenha piedade dele. E de nós, brasileiros, que não sabemos valorizar nossos talentos.