terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Da série 'Oitentolatria', parte 17 - Robocop

O filme Robocop, de 1987, virou a sensação da época, ao abordar um policial cibernético governado pelas chamadas 'diretivas', programas criados para ele poder atuar, ou seja, atirar à vontade e ao mesmo tempo proteger os inocentes. O policial Alex Murphy, após perder quase todo o corpo, foi praticamente remontado com peças metálicas, adotando o nome Robocop, e passou a ser controlado por uma grande corporação, a OCP, também conhecida como Omni (primeiro nome da sigla Omni Consumer Products), que praticamente dá as ordens numa Detroit decadente e tomada pelos bandidos. Apesar de sua eficiência em reduzir a criminalidade, enfrenta a oposição do presidente da Omni, que defende máquinas totalmente controláveis, sem o 'risco' das 'fraquezas' humanas ainda contidas em Robocop, aliás, Murphy. 

 O 'policial do futuro' em sua versão apreciada e cultuada pelos oitentólatras

Por conta de seu enredo, efeitos especiais (para a época) e muita ação, o filme foi um sucesso. Custou 'apenas' US$ 13 milhões, mas arrecadou muito mais. Alavancou a carreira de Peter Weller, o policial do futuro protagonista. Passou a ser referência em termos de filme de ficção científica. Gerou uma continuação relativamente bem sucedida, e mais um terceiro filme, ruim. A trilha sonora é inesquecível.

Embora seja um dos ícones do final dos fatídicos anos 80, sua fama se estendeu por quase toda a década seguinte. Em 1991 'estrelou' até um comercial do jeans Santista. Foi parodiado e lembrado na canção dos Mamonas Assassinas, Robocop Gay. Por tudo isso, é lembrado tanto por saudosistas dos anos 80 quanto dos anos 90. 

Eis que um brasileiro teve a coragem de refilmar um filme assim. Foi uma aposta arriscadíssima, pois os fãs do Robocop clássico provavelmente não iriam gostar. Gastou quase 10 vezes mais para produzir um filme com efeitos especiais de última geração e elenco estelar: Gary Oldman, Samuel L. Jackson, Michael Keaton e o jovem Joel Kinnaman, que vive o ciborgue repaginado. Apenas um brasileiro teria esse cacife para tanto: José Padilha, um dos mais cultuados cineastas brasileiros, e diretor dos Tropa de Elite 1 e 2

O diretor aproveitou para colocar sua idéias sobre a criminalidade e a desumanização do ser humano, assuntos explorados pelos Tropas. Seu Robocop lembra alguma coisa do Capitão Nascimento, invenção de Padilha e de Wagner Moura. Até a armadura, antes cinzenta e cafona para os nossos padrões (mas inesquecível), mudou e ficou preta, como os uniformes do Bope, a famigerada Tropa de Elite. Houve um maior enfoque no lado humano e psicológico do 'policial do futuro' e na sua família, embora não muito: a mulher de Murphy limita-se a chorar e sofrer em participação um pouco maior do que na versão original, onde ela quase não aparecia.

A versão 'padilhana' do ciborgue, com idéias mais de acordo com a nossa época

Não faltam preocupações com o uso de guerreiros não humanos, como os drones utilizados até mesmo no presente. Também estão lá as críticas contra as grandes corporações (como no filme original, mas o nome foi modificado para OmniCorp), a exploração sensacionalista da mídia e os abusos capitalistas, além de outros temas para agradar o pensamento 'politicamente correto' de hoje. O que não deixa de ser uma decepção, pois na época do primeiro filme não havia essa preocupação de não ofender o bom-mocismo.

Lançado no último sábado, o Robocop de Padilha passou a ser o mais assistido. Ainda vai gerar muitos comentários e comparações com o clássico de 1987. Nos EUA, muitos torceram o nariz, porque os americanos não costumam apreciar refilmagens de filmes cult. Já no Brasil, graças a José Padilha, a tendência é que o filme seja um grande sucesso, apesar de muitos estarem malhando o filme sem ao menos assistí-lo. Afinal, Robocop virou quase um símbolo dos loucos anos 80, até há pouco tempo.

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