segunda-feira, 31 de julho de 2017

Nicolas, Luís, Arthur, Neymar e Sílvio

Ontem, na Venezuela, houve a votação da Constituinte imposta pelo presidente local Nicolas Maduro, em clima de revolta de boa parte da população. Segundo o governo, 41% da população compareceu, mas os opositores falam em números bem menores, 12%. Se os números oficiais estiverem certos, mais da metade dos eleitores não compareceu, embora se possa falar em nação dividida. Caso a oposição estiver certa, está instalada uma tentativa de impor uma tirania. Mesmo se o comparecimento fosse maior do que o defendido pelo governo madurista, o grau de violência durante a dita eleição foi inaceitável: pelo menos 10 pessoas morreram e houve explosões ferindo os dois lados da contenda. Estados Unidos, Colômbia, México e até o Chile, governado pela socialista Michele Bachelet, não reconhecem o pleito como válido. O Brasil teve uma postura mais comedida no episódio, mas a tendência é pelo não respaldo de uma medida totalmente sem amparo legal tomada por Maduro. 

Aqui no Brasil, o MPF pede uma pena maior contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que recebeu "apenas" 9 anos de cadeia, em primeira instância, num dos cinco processos pelos quais ele é submetido. Sérgio Moro avaliou que as provas coletadas pela força-tarefa eram insuficientes para endurecer a sentença. O ex-presidente é visto como o principal beneficiário do acontecimento mais destrutivo da história do Brasil desde a vinda de Cabral. A corrupção por aqui, que já era um problema crônico, chegou a níveis predatórios, como "nunca na história deste país", como o próprio réu dos réus na Lava Jato faz questão de dizer. 

Outra notícia terrível é a morte do bebê Arthur, baleado ainda no útero de sua mãe um mês antes, em Duque de Caxias, subúrbio carioca. Ele estava para nascer quando foi atingido por uma bala perdida. A mãe ficou mais de uma semana internada, e depois acompanhou apreensiva a evolução do quadro de seu bebê. Arthur já estava sem o movimento das pernas, pois a bala atingiu a coluna cervical, e seu estado de saúde sempre foi considerado grave, mas foi melhorando lentamente, até a piora repentina devido a uma hemorragia digestiva. A morte brutal deste menino expõe um Estado falido e desacreditado, que fracassou de forma retumbante na proteção de seus cidadãos. Para os pais de Arthur, principalmente a mãe, que sentiu na carne a ação da bala, nada será capaz de compensar a perda. 

Bem menos trágico mas também mostrando o nível de insanidade a que este mundo está submetido é o valor absurdo a ser pago por Neymar: 222 milhões de euros somente em multa rescisória, a ser paga pelo Paris Saint-Germain ao Barcelona. Os catalães ficaram furiosos com a investida agressiva do clube francês, financiado pelo príncipe catariano Nasser al-Khelaifi, e induziram a UEFA a tomar ciência desta negociação. O atacante brasileiro será o mais caro de todos os tempos, e ele ainda não pode ser considerado tão bom quanto Messi ou Cristiano Ronaldo. Khelaifi é presidente do Qatar Sports Investiments, braço do Qatar Investiment Authority, um fundo soberano, ou seja, com dinheiro do governo catariano, visto com muita suspeição por outros países, como a Arábia Saudita e o Egito, por suas relações estreitas com o Irã e supostamente financiar grupos radicais como a Irmandade Muçulmana. Portanto, essa transação pode ter implicações políticas. 

"Apenas" isso, sem considerar outros fatos, como a crescente tensão na Coréia e o risco de uma guerra nuclear de proporções extra-continentais, já evoca o último nome do título: Sílvio (Brito). O cantor famoso nos anos 1970 compôs a famosa canção Pare o mundo que eu quero descer. Existem muitas coisas em comum entre a música e as notícias escritas acima, após o trecho que fala dos impostos e do Corinthians (outros assuntos também debatidos agora, muito depois do lançamento da música). Com tanta tragédia, violência e insanidade, a vontade é de repetir o pedido feito por Sílvio Brito. Curiosamente, a canção é frequentemente citada como de autoria de um nome bem mais conhecido atualmente: Raul Seixas. 


Pare o mundo que eu quero descer
Por que eu não aguento mais escovar
Os dentes com a boca cheia de fumaça
Você acha graça por que se esquece que
Nasceu numa época cheia de conflito entre raças

Pare o mundo que eu quero descer
Por que eu não aguento mais tirar fotografias
Pra arrumar meus documentos
É carteira disso, daquilo que ja até
Amarelou minha certidão de nascimento

E ainda por cima:
Ter que pagar pra nascer,
Ter que pagar pra viver, ter que pagar pra morrer
Ter que pagar pra nascer,
Ter que pagar pra viver, ter que pagar pra morrer

Pare o mundo que eu quero descer
Por que eu não aguento mais esperar
O Corinthians ganhar o campeonato
E trabalhar feito um cão pra pagar multas, impostos,
Pedágios pra poder engordar os "rato"

Pare o mundo que eu quero descer
Por que eu não aguento mais noticias de
Corrupção, violencia que não param de aumentar
E pensar que a poluição contaminou até as
Lágrimas e eu não consigo mais chorar

E ainda por cima:
Ter que pagar pra nascer,
Ter que pagar pra viver, ter que pagar pra morrer
Ter que pagar pra nascer,
Ter que pagar pra viver, ter que pagar pra morrer

Tá tudo errado, tá tudo errado
Desorientado, cego vivo enquanto eu vou
Ficando aqui parado
Tá tudo errado, tá tudo errado
Eu só quero ter você comigo e mandar
O resto tudo pros diabos

Tá tudo errado, tá tudo errado
Desorientado, cego vivo enquanto eu vou
Ficando aqui parado
Tá tudo errado, tá tudo errado
Eu só quero teu amor aqui comigo e mandar
O resto tudo pros diabos

Tá tudo errado, tá tudo errado
Desorientado, cego vivo enquanto eu vou
Ficando aqui parado
Tá tudo errado, tá tudo errado
Tá tudo errado, tudo errado
Tá tudo errado, tudo errado
Tudo Errado

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