quinta-feira, 23 de abril de 2020

Brasil, o que vemos?

Vemos o COVID-19 matar mais do que antes, com 407 vítimas fatais confirmadas e a previsão sombria do caos sanitário concretizar-se, principalmente no Amazonas, em Pernambuco e no Ceará, e São Paulo não está longe disso. 

Vemos covas sendo cavadas às pressas e aos borbotões, para enterrar as vítimas da peste, e também aqueles que não poderão ser atendidos nos hospitais devido à superlotação. Muitos morrerão de infarto, câncer, diabetes, Alzheimer, AVC, sem assistência médica. 

Vemos trabalhadores informais e de diversos serviços sem poderem trabalhar, enquanto esperam pela irrisória quantia de R$ 600,00 como ajuda oficial, sujeitos ao agravamento da miséria e à fome após a pandemia. É um pesadelo após outro. Os trabalhadores em serviços essenciais, como fornecimento de alimentos e entregas (delivery) ficam expostos aos riscos do vírus. E os profissionais de saúde, os mais afetados por essa tragédia global ao tentarem salvar as vidas dos pacientes parasitados?

Vemos empresários insatisfeitos com os prejuízos causados pela inatividade decorrente do maior flagelo do nosso século. Os mais conscientes do perigo nada podem fazer a não ser obedecerem às regras do distanciamento social, enquanto há quem queira fazer carreatas para forçarem inutilmente os governos a suspenderem as quarentenas. E a ira contra a atual situação só aumenta. 

Vemos a desinformação e os boatos causando ainda mais angústia na população, com os rumores de demissão do ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro; o pretexto para isso é o anúncio da substituição do chefe da Polícia Federal, Maurício Valeixo, amigo de longa data de Moro; a PF estaria perto de investigar melhor os casos das "raspadinhas" e das fake news, exploradas pelos filhos do presidente segundo as acusações. 

Vemos, enquanto isso, presos por corrupção, tráfico de drogas, assassinatos, estupros, sendo postos em prisões domiciliares alegando haver risco de contaminação nos presídios, enquanto tramitam soluções estapafúrdias como o uso de contêineres para alojarem presos doentes ou idosos (o procurador-geral Augusto Aras e o presidente do Supremo Dias Toffoli já se pronunciaram contra os contêineres, mas não falam sobre o relaxamento da pena dos condenados). 

Vemos a economia ir para as calendas gregas enquanto há um plano anunciado para tentar recuperá-la, porém não só é uma mera carta de intenções como ainda está em franco desacordo com o ministro da Economia Paulo Guedes. A tão desejada austeridade na administração do NOSSO DINHEIRO pode não se dar nesta gestão de Bolsonaro, por causa da ameaça do coronavírus e da falta de rumo nesta área, se ele continuar como presidente até 2022. 

Vemos um presidente desorientado vendo suas bandeiras de combate à corrupção com Moro e de austeridade na economia com Guedes serem vistas como conversa fiada e os dois ministros perdendo força dentro do governo. Enquanto isso, Bolsonaro e os presidentes da Câmara e do Senado disputam quem é o maior protagonista na luta contra a pandemia. Difícil é saber quem parece ser o menos oportunista. Bolsonaro não esconde querer poderes discricionários para ter mais liberdade para governar, enquanto Rodrigo Maia quer violar o regimento para se reeleger como presidente da Câmara, e Davi Alcolumbre, sem pudor algum, tenta fazer a mesma coisa no Senado.

Vemos os adversários de determinados governantes clamando por impeachment movidos mais por politicagem do que por preocupação em resguardar o povo dos desmandos. Muitos nem possuem propostas concretas para minimizar o sofrimento alheio, mas querem obter votos, seguidores ou likes nas redes sociais. 

Vemos os governadores e os prefeitos brigando entre si, sem um planejamento para impedir que as cidades mais contaminadas passem o vírus para as demais, e todas, sem exceção, com as atividades prejudicadas. Também os interesses políticos influenciam nas decisões, ainda mais em ano de eleições, com campanhas para prefeitos e vereadores movidas pelo fundo eleitoral, vindo do NOSSO DINHEIRO. E muitos deles não querem saber se os eleitores vão pegar vírus ou não na hora de irem às urnas nos dias 4 e 25 de outubro. 

Enfim, vemos a pandemia, os governos e os políticos fazendo os ricos morrerem de raiva, os pobres de fome, e todos de COVID-19. 

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