Este blog vai tentar diversificar os assuntos, não se pautando apenas em A ou B ou C, ou não faria jus ao nome. Afinal, continua a ser conhecido como "Assuntos 1000".
Nos últimos anos, o autor foi diversificando o gosto musical, ouvindo de tudo, até mesmo (de vez em quando, para não se aborrecer muito) os atuais hits de sertanejo e funk, apenas para manter-se atento às tendências.
Já foi escrito aqui sobre uma canção do compositor austríaco Gustav Mahler (1860-1911), para comentar sobre a morte do pequeno Aylan Kurdi, filho de imigrantes curdos que se afogou no Mediterrâneo enquanto a família tentava fugir da Siria para a Europa. Isso pode ser lido AQUI.
O mesmo músico, tido como um maestro brilhante, embora temperamental e excêntrico, e autor de obras pouco apreciadas em sua época, também escreveu dez sinfonias e a "Canção da Terra", sobre versos do poeta chinês Li T'ai Po. Isso lembra a pandemia que começou na China, mas não vou falar dessa "Canção", e sim de uma das sinfonias.
A "Sexta Sinfonia em lá menor" é uma música angustiada e grandiosa ao mesmo tempo, principalmente no quarto movimento (movimento é a cada uma das partes de uma obra musical erudita). Este trecho é extremamente longo, com duração superior à meia hora, mais do que a maioria das sinfonias de Beethoven, considerado o maior mestre do gênero. Mahler não poupou recursos e colocou todo tipo de instrumento, até mesmo um gigantesco martelo de madeira.
As três batidas secas desse "instrumento" já foram comparadas aos eventos infelizes na vida do compositor: a morre da filha, a descoberta de uma doença cardíaca e a morte em decorrência desta. Outros aludiram às guerras mundiais. Nos dois casos, o compositor é tratado como se fosse uma espécie de profeta.
A maior parte dos maestros não autoriza o uso da terceira batida, que geralmente ocorre após uma passagem igualmente ruidosa, com instrumentos mais convencionais, como trombones, trompetes, tubas, bombo, pratos e uma celesta, instrumento de teclas parecido com um piano. Se fôssemos associar a música a um cenário, este trecho dramático poderia ser comparado à pandemia de coronavírus, com a orquestra representando a humanidade em pânico, os bombos e pratos fazendo o papel do destino e a celesta, cujo som é relativamente fraco e parecido com o de um xilofone, como o minúsculo vírus. Pouco depois, pode soar ou não o terceiro golpe, após o qual começa a trágica parte final, com direito a uma espécie de "grito coletivo" de agonia e alguns acordes finais tocados pelo tímpano como se tudo tivesse sido aniquilado.
Em algumas execuções, como as do maestro italiano Cláudio Abbado (1925-2013), não é possível ouvir nem os bombos e nem o terceiro golpe, mas sempre há o toque da celesta. Todo o resto é incluído, inclusive o final apocalíptico.
Em algumas execuções, como as do maestro italiano Cláudio Abbado (1925-2013), não é possível ouvir nem os bombos e nem o terceiro golpe, mas sempre há o toque da celesta. Todo o resto é incluído, inclusive o final apocalíptico.
Na interpretação do maestro americano Leonard Bernstein (1918-1990), pelo Canal Cantus 5 do Youtube, onde é possível ouvir (e ver) a "coisa" parecida com uma versão gigante da Mjölnir do Thor, as cenas desse pesadelo sinfônico ocorrem:
1h03min49s: primeiro golpe do martelo
1h08min19s: segundo golpe do martelo
1h18min28s: gongo tocando, com a celesta logo depois
1h18min49s: terceiro golpe do martelo
1h21min19s: um fortíssimo final da orquestra
De preferência, é melhor ouvir a sinfonia inteira, para quem está acostumado à música erudita, e não fazer associações do martelo ou qualquer outro instrumento com cenário algum, mesmo porque, no fundo, não era essa a intenção do grande Mahler.
N. do A.: O número de mortes pela COVID-19, somente no Brasil, já supera os 5.000, mas muitos ficaram mais interessados em quem substitui Sérgio Moro na pasta da Justiça e da Segurança Pública. André Mendonça, antigo chefe da Advocacia Geral da União (AGU), vai ocupar o lugar. Ele não recebeu tantas críticas de véspera, sem ao menos ter começado a trabalhar na nova função, como o também recém nomeado diretor-geral da PF, Alexandre Ramagem, apontado como amigo dos Bolsonaros. Isso gerou algumas discussões políticas acaloradas.
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