quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Com a saída de Deltan Dallagnol, o que será da Lava Jato?

Graças ao midiático procurador, até há pouco coordenador da Polícia Federal em Curitiba, a Lava Jato passou todos esses anos - seis! - nos holofotes, ajudando a combater o maior atentado ao NOSSO DINHEIRO na história recente do Brasil, envolvendo políticos de vários partidos (principalmente os do PT e seus aliados, mas também o MDB e os partidos do chamado "Centrão" como o PP), empreiteiras poderosas como a Odebrecht, a OAS e a Camargo Corrêa, empresas como a JBS e a EDX, e a Petrobras, outrora uma gigante e que ficou bem perto de ser dissolvida no caldo da roubalheira. 

Sua atuação conseguiu transformar seu trabalho num grande aparato vistoso, fazendo boa parte da imprensa e das redes sociais divulgarem seus feitos, muitas vezes ultrapassando o limite da mesmerização. 

Deltan tentou explicar quem era o maior beneficiário desse mega-escândalo, isto é, o ex-presidente Lula, de acordo com as convicções dos acólitos da Força Tarefa, mas o fez com aquele famigerado "Power Point" que lançou muitas acusações e não conseguiu provar nenhuma delas. Se conseguisse as provas, a explicação não viraria motivo de "meme" e Lula estaria sentenciado a uma pena muito maior do que aquelas sentenças recebidas pelo sítio de Atibaia e pelo apartamento no Guarujá. 

Ele também não conseguiu explicar a tentativa de criar uma fundação com o dinheiro recuperado da Petrobras graças a um acordo firmado com o Departamento de Justiça norte-americano. Por falar nisso, há histórias sobre informações fornecidas a empresas americanas, como aquelas divulgadas pelo site The Intercept Brasil, notório opositor da Lava Jato e aliado do PT. E ainda há as acusações de haver uma colaboração exagerada, além do que permite a lei, entre Deltan e o então juiz Sérgio Moro, visto como implacável contra os corruptos. Essa mesma colaboração ajudou Moro a ser aclamado como paladino da moralidade, ao julgar muitos casos relacionados à Operação. ´

Deltan Dallagnol foi o grande propagandista da Lava Jato, que ajudou a consagrar o juiz Sérgio Moro. Agora, ambos se retiraram de cena (Jorge Araújo/Folhapress)


Por outro lado, houve a prisão de vários executivos das empresas envolvidas, políticos como Eduardo Cunha e doleiros, graças à política de favorecer as delações premiadas. 

Há a sensação incômoda de não terem conseguido fazer tudo o que podiam, e ainda por cima se deixaram levar pelas vaidades pessoais e certo afã "justiceiro", fazendo a Operação ser combatida por todos os flancos, desde o início. O governo de Dilma Roussef, diretamente atingido pelo começo dos trabalhos, tentou neutralizá-los desesperadamente, mas não conseguiu. Após o impeachment, também houve tentativas de domar a Força Tarefa pelo governo Temer, que tinha muitos ministros investigados. Também houve resistência por parte do STF, dividido entre os favoráveis ao movimento (Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luís Fux, Carmen Lúcia), os ambíguos (Celso de Mello, Teori Zavascki, Rosa Weber) e os refratários (Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio, Dias Toffoli). 

Com a prisão de Lula, houve arrefecimento dos trabalhos, e Jair Bolsonaro, prometendo dar prosseguimento ao combate à corrupção, foi eleito presidente da República, colocando Moro como ministro da Justiça. Mas a Lava Jato, já desgastada pelos ataques adversários e pelos seus próprios erros, foi minada pelas acusações do The Intercept e o episódio dos hackers, e a progressiva aproximação de Bolsonaro com o Centrão, facilitada pela saída de Sérgio Moro, que não foi tão brilhante como ministro em relação ao seu trabalho de juiz. 

Augusto Aras, o atual procurador-geral da República nomeado por Bolsonaro, revelou ser um oponente da Lava Jato, ao contrário dos antecessores, Rodrigo Janot e Raquel Dodge. E contribuiu para enfraquecer o movimento, forçando os procuradores de Curitiba a entregarem documentos relacionados à Força Tarefa, além de tentar centralizar os trabalhos da Polícia Federal e limitar as delações premiadas. 

Alessandro Oliveira, sucessor de Deltan Dallagnol (Reprodução)


Deltan Dallagnol estava ameaçado de perder o cargo de procurador e sofrer outras punições por causa das acusações envolvendo o "Power Point", a fundação suspeita e as supostas colaborações com os americanos. Aproveitou o mau momento para sair, alegando a má saúde da sua filha de apenas 1 ano e 10 meses. Ele deixou Alessandro Oliveira, outro "linha dura" contra o crime organizado e a corrupção, como sucessor na coordenação do movimento. Oliveira trabalhava junto à subprocuradora-geral Lindora Maria Araújo, colaboradora de Augusto Aras, que ainda vai decidir se prorroga os trabalhos da Operação por mais um ano. 


N. do A.: Enquanto isso, hoje foi lançada a cédula de R$ 200,00, e as más línguas dizem que isso facilitará o trabalho de gente que enche os fundos falsos das malas, as meias e até as cuecas com dinheiro. 

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