segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A versão desconhecida do Hino da Independência

Existiu uma versão do Hino da Independência musicado por Marcos Portugal, compositor português que veio ao Brasil quando a família real portuguesa estava estabelecida no Brasil, fugindo das forças napoleônicas e seguindo o plano estabelecido pela Corte com a colaboração britânica. 

Inicialmente, ele serviu como professor de música para o jovem príncipe D. Pedro, além de compositor oficial do príncipe regente D. João, mais tarde D. João VI. Depois, com a partida deste para Portugal, pressionado pelo Parlamento que exigia a volta de Sua Majestade, Marcos Portugal passou a servir ao príncipe D. Pedro, que não aceitava a imposição das Cortes de Lisboa. 

Marcos Portugal (1762-1830) musicou a primeira versão do Hino da Independência, logo esquecida em favor da obra feita pelo seu discípulo, o príncipe D. Pedro, antes de ser coroado como D. Pedro I.

Em 1822, durante o processo de Independência do Brasil, o compositor português musicou a letra de Evaristo da Veiga. Sendo um representante tardio da música do século XVIII, não conseguiu popularidade. A seguir, uma interpretação do pianista Alfredo Duarte, tocando em um piano moderno, e do barítono Luiz Carlos Rodrigues de Almeida (canal IME_ EXÉRCITO).

 

D. Pedro, seu aluno, compôs uma melodia bem mais simples e não tão elaborada, porém de grande apelo, passando a ser usada no Hino da Independência a partir de 1824. O príncipe teve contato com outros compositores, como o austríaco Sigismund von Neukomm (discípulo do grande Joseph Haydn), e os brasileiros José Maurício Nunes Garcia e Francisco Manuel da Silva (sua música seria usada para o Hino Nacional Brasileiro, elaborado muito mais tarde, em 1909 por Osório Duque Estrada e oficializado em 1922, no centenário da Independência). 

Curiosamente, tanto Marcos Portugal quanto D. Pedro usaram, além do piano da época, um instrumento de teclado chamado espineta, presente ainda na corte brasileira, mas em desuso na Europa. A espineta era uma espécie de versão menor do antigo cravo, visto como ultrapassado por sua dinâmica ser considerada muito limitada, ou seja, não tocar notas fortes ou fracas, ao contrário do piano.

Com o trabalho feito por D. Pedro, a melodia rebuscada de Marcos Portugal logo ficou esquecida, e em 1830, o mestre do primeiro imperador brasileiro faleceu, no Rio de Janeiro, e também teve o mesmo destino de sua obra. 

 

N. do A.: Este blog, em nome de uma diversificação maior dos assuntos, não escreveu sobre a notícia avidamente comentada hoje: o presidente Jair Bolsonaro mais uma vez ignorou a pandemia e compareceu à cerimônia do 7 de setembro sem máscara, induzindo os presentes em Brasília a fazerem aglomerações, condição propícia para a contaminação pelo coronavírus, ainda não devidamente controlado em nossa terra.

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