terça-feira, 23 de março de 2021

Brasil pós-Lava Jato

Infelizmente, a Operação Lava Jato está morta e sua memória é difamada pelos tomadores de decisão deste país. 

Parecia tomar um rumo diferente da Operação Mãos Limpas, que também prendeu um monte de gente, mas também pereceu enquanto a Itália sucumbiu ao populismo de Sílvio Berlusconi. Algo semelhante ocorre por aqui, com a diferença de haver o risco de escolher entre não um, mas dois populistas, para presidente em 2022. 

A Operação foi vilipendiada até por quem era, em tese, defensor dela, como o ministro Edson Fachin, que tentou salvar o que restou dela com sua estranha decisão de anular os processos de Sérgio Moro contra Lula. Fachin queria limitar a decisão apenas considerando o ex-presidente e não os outros condenados pelo Quadrilhão do PT, mas a manobra aparentemente falhou. 

Agora Sérgio Moro é considerado o vilão dessa história, e não o ex-presidente. O ex-ministro da Justiça pode ser considerado carta fora do baralho para 2022, mas muitos ainda estão querendo uma opção viável além de Lula ou Bolsonaro, acusados de terem um projeto de poder e não um projeto de nação. 

Por outro lado, o STF também saiu perdendo neste episódio, graças ao hábito das decisões monocráticas e das interpretações muitas vezes subjetivas a respeito da lei, além de serem considerados vaidosos e volúveis demais. Carmen Lúcia, outra considerada "ex-aliada" da Lava Jato, mudou seu voto para declarar Sérgio Moro suspeito no caso dos julgamentos contra Lula. 

Nosso país está provando continuar sendo um paraíso para os espertalhões e rapinantes, como mostra o recente caso do "Covidão", desvios de verbas da saúde para o enriquecimento ilícito de alguns poucos. O presidente atual também não ajuda em nada nesta imagem pútrida do Brasil, no caso das "rachadinhas" do filho senador, Flávio Bolsonaro. 

Estamos numa situação onde os mais suscetíveis e iludidos com uma pátria sem corrupção se sentem impotentes, só restando, como diz Nelson Rodrigues, sentar no meio-fio e chorar lágrimas de esguicho. Mas paradigmas podem ser quebrados, embora com maior dificuldade que os átomos (parafraseando outro gênio, Albert Einstein). 


N. do A.: Chegamos à deplorável marca de mais de três mil mortes catalogadas em apenas 24 horas. Terrível mostra do fracasso geral das autoridades em combater o coronavírus. 

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