quinta-feira, 5 de maio de 2022

Da série "Qual é a dos super-heróis", parte 5 - A Era de Prata (1956 a 1973?)

Aproveitando o lançamento do filme "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", este blog vai voltar com a série sobre quadrinhos, abordando a Era de Prata. Doutor Estranho, como é sabido, é um dos personagens surgidos nessa época, entre 1956 e 1970 (ou 1973). 

Esta época foi muito acusada de ter quadrinhos infantilizados ou sem compromisso com a realidade, devido ao chamado Comics Code Authority, o famigerado código de ética adotado pelas editoras. Devido às restrições, a violência e o realismo foram reprimidos, e as histórias ficaram mais próximas da fantasia pura. Outra influência foi a ficção científica, pois o mundo passou por um grande salto tecnológico com a invenção do transistor e a chamada "corrida espacial". Com isso, os monstros das histórias de terror e outros quadrinhos deram lugar aos extraterrestres. Selvas e desertos perderam espaço para os outros mundos. 

Para o bem ou para o mal, esta época influencia a criação nos quadrinhos e até nos cinemas até hoje, devido à criação de novos conceitos, como a exploração de outras realidades e a explicação pseudocientífica para os fenômenos, em detrimento da magia, que não foi abandonada. 

O marco inicial da Era de Prata é a aparição do novo Flash, Barry Allen, na revista Showcase número 4, em 1956. Ele passou a se tornar o mais popular dos Velocistas Escarlates na DC Comics, e ganhou a sua supervelocidade devido a um acidente de laboratório. Sua criação é atribuída a Gardner Fox e Carmine Infantino, dois dos nomes mais influentes da época. Sua velocidade espantosa o fez romper a barreira da luz e explorar universos paralelos, criando o conceito de "multiverso", como na famosa revista de 1961, onde Barry Allen se encontra com o seu colega Jay Garrick. Isso seria explorado posteriormente em várias histórias. 

O Flash da esquerda (Barry Allen) foi um dos símbolos da Era de Prata na DC Comics (Divulgação/DC)

A DC Comics continuava a fazer reformulações em seus personagens, fazendo-os se unirem contra as forças do mal, cada vez mais perigosas e desafiadoras. Surgiram vilões como Brainiac e grupos como a Liga da Justiça e a Legião dos Super-Heróis, grupo de jovens superpoderosos viajantes no tempo e fãs do Superboy, a versão adolescente do Superman. Isso não era o bastante para evitar a queda nas vendas ao longo da década de 1960. O público consumidor queria algo diferente, com heróis mais próximos dos seres humanos. 

Stan Lee estava atento a isso e resolveu agir quando a antiga Atlas Comics mudou o nome para Marvel Comics. Junto com Jack Kirby, conseguiu fazer um grupo de exploradores adquirir poderes por meio de raios cósmicos, durante uma viagem espacial. Os personagens não se deram ao trabalho de esconderem suas identidades, usavam tecnologia e recursos científicos para enfrentarem vilões como o terrível Doutor Destino, e ficaram conhecidos como o Quarteto Fantástico, em 1961. Curiosamente, esses personagens tinham como base um outro grupo de desbravadores criados por Jack Kirby para a DC, os Desafiadores do Desconhecido. 

Surgiu a Casa das Idéias, para ser o nêmesis da Casa das Lendas, como é conhecida a DC. Lee e Kirby foram os criadores de heróis como Thor, Homem de Ferro, Hulk, Vespa, Homem Formiga, Pantera Negra (primeiro grande super-heroi negro), Falcão, Feiticeira Escarlate, os X-Men e os Inumanos. Todos precisando lidar com problemas vividos por pessoas comuns. O Homem de Ferro, por exemplo, era o playboy Tony Stark, alcoolatra, mulherengo e com uma séria lesão no coração que o obriga a usar a armadura. Os X-Men lidavam com o preconceito contra sua espécie, o Homo superior, enquanto o Falcão enfrentava os racistas e o Hulk era perseguido por ser um monstro raivoso e destruidor. Para piorar tudo, a dupla incansável da Marvel criou uma porção de supervilões, como os invasores Skrulls, a Inteligência Suprema, a HIDRA, Loki, Magneto, Galactus, o Mandarim e o Aniquilador, entre vários outros.

A Marvel passou a reinar no final da Era de Prata, desde 1961, com o lançamento do Quarteto Fantástico (Divulgação/Marvel Comics)

Stan Lee também se juntou a outros criadores, como Steve Ditko, e com isso surgiu o Doutor Estranho, o Mago Supremo dos quadrinhos, estrela do mais novo filme da MCU junto com a Feiticeira Escarlate. Talvez o maior heroi da Marvel seja outra criação dessa dupla, o Homem Aranha, alter ego de Peter Parker, adolescente inseguro e pobre, precisando enfrentar um patrão como J. J. Jameson e uma imensa galeria de supervilões, todos querendo perseguir e eliminar o "amigo da vizinhança". 

Os elementos mágicos não foram de todo abandonados. Mesmo na "científica" Era de Prata, havia lugar para um Mago Supremo, criado em 1962 na revista Strange Tales (Marvel Comics)

Outros heróis da Marvel foram os "Capitães Marvel", nome registrado pela Casa das Ideias aproveitando o vácuo deixado pela falência da Fawcett, em 1953. Gene Colan criou o guerreiro alienígena da raça kree, Mar-Vell, e Roy Thomas concebeu Carol Danvers, a atual Capitã Marvel. 

A DC tratou de reagir, colocando seus heróis para enfrentarem novos desafios, como a presença de novos vilões como Darkseid e seu mundo odioso, pela mente de Jack Kirby quando ele saiu (temporariamente) da Marvel em 1970. Darkseid seria a inspiração para Thanos, pouco mais tarde. No início dos anos 1970, para afrontar a concorrente, eles inventaram uma Terra paralela, chamada de Angor, só com pastiches dos heróis Marvel, inclusive os Vingadores (Retaliadores). A Marvel também fez a mesma coisa, na mesma época, criando o Esquadrão Supremo, paródia da Liga da Justiça. 

Além disso, os personagens da Editora das Lendas teriam que enfrentar, também. problemas de gente normal, como o vicio em drogas de Ricardito, o ajudante do Arqueiro Verde, em 1971. Isso foi um grande desafio ao Código de Ética, e a crescente abordagem de temas fortes e realistas sepultou a Era de Prata, que teve seus últimos vestígios apagados em 1973, com a morte de Gwen Stacy, a namorada de Peter Parker, graças a um erro infeliz do herói ao tentar salvá-la. Começou aí a "Era de Bronze", marcada pela perda da inocência na nona arte. 

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