quarta-feira, 18 de maio de 2022

Da série "Qual é a dos super-heróis", parte 6 - A Era de Bronze

Aproveitando mais um segredo de polichinelo revelado - a bissexualidade do Batman - este blog vai abordar a Era de Bronze, entre o início dos anos 1970 e o ano de 1985. 

Neste período, o Cavaleiro das Trevas voltou a se tornar sombrio e se afastou mais dos rumores acerca de sua sexualidade, mas ainda continua a ter o Robin como seu sidekick, além da Batgirl, a filha do Comissário Gordon, Bárbara. Durante a Era de Bronze, estreou um dos pontos altos da época na DC Comics: a formação mais conhecida dos Jovens Titãs (os Novos Titãs), um grupo já existente formado por jovens heróis. George Perez, agora recém-falecido, e Mark Wolfman, colocou o Robin para liderar novos heróis, como Estelar, Cyborg, Mutano e a sombria Ravena. Em 1984, Dick Grayson, já mais maduro e sem condições de continuar a ser o Robin, adotou a alcunha de Asa Noturna, afastando-se do Batman e passando mais tempo com os Titãs. Jason Todd, uma criança problemática e violenta, tornou-se o novo Robin, e isso traria consequências para a editora. 

Como destaque, também, a formação de novos Lanternas Verdes, incluindo John Stewart, um dos mais populares, e o briguento Guy Gardner. Temas sociais foram bem mais frequentes, principalmente nas histórias do Arqueiro Verde. Surgiram personagens como o ecológico Monstro do Pântano, os cavaleiros de Camelot 3000 e o Esquadrão Atari, aproveitando o sucesso dos videojogos.

Era o período dos famosos "Superamigos", a versão infantil da Liga da Justiça, que ainda lembrava a Era de Prata. Somente na última temporada (1985), os heróis ficaram mais de acordo com seus equivalentes nos quadrinhos. Também foi a época de seriados para a tevê baseados em HQs como Mulher Maravilha e O Incrível Hulk, além da série de filmes com o Superman, mas nenhum deles refletia os conflitos dos quadrinhos na época, sendo destinados a um público amplo e com conteúdo suavizado.

Neste período, a DC passou por várias "crises", envolvendo as várias Terras de seu multiverso. Essas crises não resolveram a bagunça reinante, e em 1985 Wolfman e Perez foram convocados para dar início à Crise das Infinitas Terras, marco do fim da Era de Bronze e o começo da Era Moderna, ou Era Sombria, para os detratores. Foi um choque, com a morte de vários personagens, como o Barry Allen (o mais querido e famoso dos Flash) e a Supergirl, e a alteração radical no passado de outros, inclusive o Batman, o Superman e a Mulher-Maravilha, cujas histórias foram "apagadas da existência" graças à terrível ação do vilão Anti-Monitor. Os heróis de outras Terras se viram forçados a ficar na Terra principal, que mudou o nome de "Terra 1" para "Nova Terra". Apesar da grandiosidade do evento, a DC permanece até hoje como uma bagunça, com idas e vindas de biografias fictícias e ressurgimento do Multiverso. Mas isso fica para a próxima postagem. 

Durante a Era de Bronze, os heróis puderam ter o "direito" de cometer erros crassos; o primeiro deles aconteceu em 1973, quando o Homem Aranha não conseguiu salvar Gwen Stacy (Marvel Comics)

A confusão não era muito menor na Marvel, onde coexistem várias realidades, equivalentes às Terras da DC. Um dos marcos da editora é o "What If", onde Uatu, o Vigia, conta versões não-canônicas dos diversos personagens da Casa das Ideias. Para a editora, a Era de Bronze começou com a morte trágica de Gwen Stacy, a namorada de seu principal herói, o Homem Aranha. Depois, surgiram personagens violentos e atormentados, os "anti-heróis", como Luck Cage, o Justiceiro, o Motoqueiro Fantasma e o Wolverine. Os X-Men tiveram a formação mais célebre, onde o "carcaju" baixinho e machão se juntou à poderosa Tempestade e o misterioso Noturno, além dos já antigos Cíclope, Jean Gray, Anjo e Homem de Gelo, todos sob o comando do professor Xavier. Os mutantes continuavam a ser perseguidos pelos humanos, e suas histórias ficaram mais tensas e complexas, principalmente sob os roteiros de um dos grandes quadrinhistas da época, Chris Claremont. Surgiram novas raças de extraterrestres, como os Shi'ar (cuja Guarda Imperial é uma versão "marveliana" da bem mais inocente Legião dos Super-Heróis da DC) e a Ninhada (insetoides inspirados no xenomorfo Alien). 

As histórias da editora de Stan Lee ficaram povoadas de vampiros, lobisomens e outros monstros, como Morbius. Por outro lado, ganhou mais diversidade racial, com os personagens negros e asiáticos (Shang-Chi, o Mestre do Kung Fu). Foram criados personagens cômicos, como o pato Howard e a irreverente prima de Bruce Banner, a Mulher-Hulk. Ao mesmo tempo, em 1982, Jim Starlin colocou uma das histórias mais tristes até então, A Morte do Capitão Marvel, onde Mar-Vell, o herói Kree, sucumbiu a um câncer adquirido por envenenamento de gás. Isso possibilitou a Mônica Rambeau, uma das primeiras grandes heroínas negras, assumir o nome de Capitã Marvel. 

Em 1984, a Marvel também tentou colocar ordem nas cronologias dos diferentes mundos, ao criar a raça dos Beyonders, dando origem às Guerras Secretas, onde heróis e vilões criaram grupos para lutarem entre si num lugar chamado Battleworld. Era o primeiro grande crossover envolvendo os principais personagens, causando mudanças como o uniforme preto do "Amigão da Vizinhança", dando origem à história dos simbiontes como Venom. Neste evento, também, o Doutor Destino consolidou-se como o maior vilão da editora. Antes dessa reunião com tantos heróis de histórias completamente diversas, a Marvel e a DC criaram crossovers inter-editoriais, colocando o Superman junto com o Homem Aranha e o Batman enfrentando a fúria irracional do Hulk. 

As Guerras Secretas tiveram um efeito semelhante à Crise das Infinitas Terras, com a Marvel tentando reformular histórias e causando ainda mais confusão nos leitores, tal como acabaria fazendo a sua "Distinta Concorrente". Graças a isso, a Era Moderna pode ser considerada uma grande série de acontecimentos desordenados. Isso será abordado melhor nas próximas postagens. 

Fora dos Estados Unidos, não fazia muito sentido falar em eras, mas na Grã-Bretanha, o inglês Alan Moore decretou o fim da inocência nas histórias de super-heróis em 1982, aproveitando um antigo personagem dos anos 1950 (correspondendo à Era de Prata se fosse americano), o Marvelman, para reproduzir uma história ainda mais verossímil, contando, da forma mais crua possível, como seria um mundo com gente superpoderosa. Marvelman era uma versão britânica de Shazam, e suas histórias originais eram ainda mais simplórias, mas na mão de Alan Moore, foi tornando-se um "super-homem" no pior sentido da palavra. Ele descobriu que seu passado foi manipulado por agentes do governo e um de seus ajudantes, o Kid Marvelman, cresceu e se tornou um supervilão, até morrer de forma bastante cruel nas mãos de seu antigo mentor. Em terras americanas, o personagem mudou o nome para Miracleman para não haver conflito com a Marvel (mais tarde, faria parte do imenso panteão da Casa das Ideias). Moore passou a colaborar com a DC, para continuar sua obra e fazer os quadrinhos se tornarem diversão para adultos, com V de Vingança e Watchmen, tornando-se um dos agentes da Era Moderna. 

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