segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Difiodontia é mais antiga do que se pensava

A difiodontia é a troca da dentição apenas uma vez, quando o animal jovem substitui os dentes de leite pelos permanentes. Esta é uma caracterísitca apontada como evidência de lactação, uma das características dos mamíferos, descoberta em um animal contemporâneo dos primeiros dinossauros, o Brasilodon quadrangularis, em estudo recente publicado no Journal of Anatomy no último mês de setembro (ver AQUI), pelo paleontologista Sérgio Furtado Cabreira e seus colaboradores. 

O animalzinho de apenas 12 cm de comprimento é mais antigo do que o Morganucodon, apontado como o primeiro animal a trocar os dentes uma vez apenas na vida, já citado neste blog. Isso indica maior eficiência na mastigação e dentes mais fortes, decorrentes de uma alimentação rica em cálcio nos primeiros estágios de vida, mas é um problema se um dente for perdido por alguma causa (cárie, trauma dentário). Ele surgiu há 225 milhões de anos, entre 15 a 20 milhões antes do Morganucodon e também antes dos primeiros mamíferos propriamente ditos, com mandíbula única formada pelo osso dentário (os répteis possuem a mandíbula com vários ossos, o quadrado, o articular e a columela, que nos mamíferos se transformaram na bigorna, no martelo e no estribo, respectivamente). 

Esta criatura viveu no atual Rio Grande do Sul, onde foram encontrados fósseis (Formação Santa Maria). Infelizmente, pode não ser o bichinho mais antigo a amamentar os filhotes, pois há um outro candidato, considerado mais próximo dos mamíferos atuais, o Tikitherium, que viveu na atual Índia há 227 milhões de anos (2 milhões mais antigo que o Brasilodon), onde foram encontrados fragmentos de ossos e dentes, estes últimos parecidos com os encontrados nos mamaliformes docodontes (como o Castorocauda, um bicho semelhante a uma mistura de castor, lontra e ornitorrinco), normalmente encontrados bem mais tarde (entre 195 e 150 milhões de anos atrás). Seria o mais antigo docodonte conhecido, vivendo numa época onde os cinodontes (chamados antigamente de "répteis mamiferoides") eram obrigados a desenvolver recursos para a sobrevivência em meio às ameaças representadas pelos primeiros dinossauros e outros predadores. 

Por enquanto, não há evidências de trocas dentárias no animal "asiático", enquanto o artigo de Cabreira et al mostra algumas provas disso. Logo, o pequeno ser pode (por enquanto) ser considerado o mais antigo "mamífero" existente, mesmo faltando outros critérios para ser tratado como tal. 

O Brasilodon ainda não tem o ouvido médio típico dos mamíferos, além de provavelmente ser ovíparo, mas há evidências segundo as quais as fêmeas amamentavam os filhotes (Divulgação)


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