terça-feira, 31 de outubro de 2023

Da série "Grandes varejistas do passado", parte 12 - Lojas Manlec

Aproveitando o mote do Halloween, é assustador constatar o número de falências de lojas, grandes ou pequenas, no Brasil. Não é por praga de bruxa ou arte do Saci Pererê: é uma combinação desastrosa de falhas administrativas, dependência de capital de giro e instabilidade econômica, uma receita para o desastre poucas vezes superada. 

Hoje, temos uma loja muito conhecida no Rio Grande do Sul, e em menor escala no Paraná e em Santa Catarina, as Lojas Manlec, uma das mais longevas e bem conhecidas da Região Sul. Foi fundada pelo empreendendor Atílio Manzoli, juntamente com Felipe Lechtman, em 1953, e só faliu em 2017, após disputas judiciais com ex-empregados e prejuízos durante boa parte de sua vida relativamente longa. Começou como uma pequena loja de móveis, mas expandiu os negócios e passou prograssivamente a vender eletrodomésticos e depois eletrônicos. Funcionou por tempo suficiente para sustentar televendas e comércio eletrônico, algo que varejistas mais famosas como o Mappin e a Mesbla não conseguiram. 

Uma das lojas Manlec, famosa vendedora de produtos eletro-eletrônicos do Rio Grande do Sul (Divulgação)

Até sua falência, a empresa cujo nome social era Manzoli S.A. Comércio e Indústria era querida e estimada no Rio Grande do Sul. Parecia forte, com até um vídeo institucional de 2013 destacando as 46 lojas da rede, espalhadas quase totalmente no território gaúcho. Eles fizeram questão de esconder os problemas financeiros, naquela época, enquanto salientava o orgulho local pela rede (assistir AQUI). 

A Manlec conseguiu sobreviver aos percalços econômicos e aos problemas de gestão enfrentados por outras varejistas, durante o regime militar e a redemocratização. Aproveitou o "milagre econômico", sofreu com os planos econômicos, enfrentou crises, comércio informal e até o e-commerce da China. Disso tudo teve sequelas, e sucumbiu a elas. Começou a atrasar os salários e demitir funcionários, enfrentando a Justiça e os mais de R$ 100 milhões de prejuízos. Nessa época o veterano Atílio Manzoli, fundador da empresa, faleceu em 2016, embora já deixasse o comando da rede para o filho de mesmo nome, Atílio Manzoli Jr. No ano seguinte, foi a vez da rede perecer. E agora ela se tornou uma lembrança para os gaúchos. 

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Enquete: o que escrever no dia 31?

 Este blog está pensando em escrever algo no dia 31. 

a) Sobre Halloween, uê! É o dia das bruxas!

b) Sobre o Saci, que é o dia dele! 

c) Sobre a guerra entre Israel e Gaza, mais apavorante do que qualquer bruxa ou lenda. 

d) Sobre o Pan de Santiago, com nossos atletas fazendo bonito! Chega de falar de assombração. 

e) Esse blog já foi melhor! Mais uma enquete para encher linguiça?

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Esqueça a ideia de um "Brasil jovem"

A população brasileira está rapidamente envelhecendo, como em boa parte do resto do mundo. Mais de 10% dos brasileiros já tem mais de 60 anos, e essa porcentagem irá subir nos próximos anos. 

Décadas de queda na taxa de natalidade resultaram em menos jovens e mais dificuldade no crescimento populacional. Isso é mais acentuado nas regiões Sul e Sudeste. Apesar de ser uma região também considerada relativamente desenvolvida, o Centro-Oeste ainda não tem um índice tão acentuado de idosos. Mais pobres e com uma taxa de natalidade maior, o Nordeste e principalmente o Norte possuem uma população com maior porcentagem de crianças e adolescentes. 

Na mídia e na propaganda, ainda é difundada a falsa ideia de um Brasil jovem, do eterno "país do futuro". Ainda há pouco espaço para os mais vividos, como se o meio midiático ainda sofresse de gerontofobia e visse a velhice apenas como a porta para a morte. Até o começo deste século os anúncios estavam dominados por garotos e garotas, de preferência ditos "brancos" representando setores da elite socio-econômica. Somente nos últimos anos houve uma mudança mais acentuada. 

Brasil, um país de jovens? Que ideia velha!

No mercado de trabalho, ainda há resistência à contratação de pessoas com mais idade, vistas como "obsoletas" e sem o dinamismo e o vigor dos jovens. Mas a tendência é o pessoal não desistir de lutar, mesmo que isso signifique não curtir a aposentadoria. Até há mais gente ingressando nas faculdades depois dos 40, 50, 60 ou até 70 anos. 

E estamos nos acostumando a encontrar grupos mais numerosos formados de gente com cabelos brancos e rugas. Também é mais fácil achar algum centenário. Ainda são uma minoria das minorias, mas são 37 mil pessoas, segundo o último Censo. 

O conceito do "Brasil jovem" agora é um sofisma destinado a morrer... de velho. 

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Atestado de inutilidade de uma instituição

Este blog poderia estar se referindo ao STF ou à ONU, como fazem muitos. Acusam uma entidade de deixar de ser a guardiã da Constituição para se meter nos assuntos de outros Poderes e contribuir para deixar o Brasil eternamente à mercê de foras da lei, enquanto a outra é acusada de ser falida e moralmente corrupta (nas palavras do representante israelense, Gilad Erdan) enquanto nada faz para garantir a paz e salvar da morte vidas inocentes numa guerra potencialmente capaz de desencadear aquilo que ninguém quer

Mas a instituição em questão é a ABL, esta entidade cuja intenção, preservar a língua portuguesa, está totalmente deturpada, transformada há décadas em um clube de fardados esnobes. Aliás, ninguém mais liga para ela, a não ser para ser alvo da maledicência de jornalistas. A última notícia sobre os acadêmicos é a inclusão do termo "dorama" no dicionário oficial. O termo é uma adaptação japonesa para o termo drama, originalmente em inglês, mas também existente em português e outros idiomas com o mesmo significado. 

Os doramas são novelas produzidas na Ásia e fazem muito sucesso, premiados internacionalmente e cada vez mais presentes no serviço de streaming. Isso seria justificativa para a inclusão deste estrangeirismo (mais um) na nossa língua? Também serviria como desculpa o dicionário Oxford, onde, no entanto, existe registro da palavra K-drama (variante do dorama na Coréia do Sul)? Aliás, os dicionários ainda servem de padrão para qualquer idioma, principalmente em locais imensos onde cada localidade segue um modo próprio de falar e escrever, como é o caso do Brasil?

O "dorama" conseguiu espaço no Dicionário da Língua Portuguesa da ABL (Instagram / Página oficial da ABL)


quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Ou muito me engano...

 ... ou acabo de escrever mais uma postagem inútil (*), se é para evitar escrever sobre o que penso de certas coisas, desde sites que visito e não funcionam ou acontecimentos mostrados na imprensa. Devemos manter o bom nível por aqui, sem insultos pesados e de baixo calão. 

Quando estiver mais animado, escreverei algo interessante. 



(*) N. do A.: Paráfrase do capítulo CXXXVI de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", do eterno Machado de Assis. 

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Resumo sobre o Pan de Santiago

Os Jogos Pan-Americanos em Santiago estão conseguindo chamar a atenção da mídia em meio às decisões políticas (inclusive do STF, que deveria se ater mais à Constituição ao invés de se dedicar a esse míster), à guerra entre Israel e Gaza e à Champions League. 

Na capital chilena, os atletas brasileiros estão, em geral, correspondendo. 

A ginástica artística, modalidade sensação para os brasileiros, reservou boas e más notícias para a torcida, sendo que as más se concentraram na equipe masculina. Yuri Guimarães, promessa de 20 anos, saiu-se mal e chorou ao ficar em último na apresentação do solo, com apenas 11.966 pontos. Arthur Nory ganhou a prata, com 13.933 pontos, mas cometeu erros graves na prova de barras e não vai para os jogos em Paris. Por outro lado, Rebeca Andrade foi o destaque, com ouro no solo, faturando 14.983 pontos com exibições espetaculares. Nas barras assimétricas, ela foi superada pela americana Zoe Miller. Flávia Saraiva ficou com o bronze nesta competição. 

Rebeca Andrade voltou a se destacar em uma competição (Ricardo Bufolin / CBG)

Outros resultados também impressionam, como o recorde obtido pela equipe formada pelos brasileiros Murilo Sartori, Fernando Scheffer, Guilherme Costa e Breno Correia, que fizeram a prova do revezamento 4x200 m em 7 minutos e 7 segundos. É mais uma medalha de ouro. Outra foi conseguida no revezamento misto 4x100 m, com Fernando Caribé, Marcelo Chierighini, Ana Vieira e Stephanie Balduccini. 

Hoje, também os atletas do taekwondo foram bem sucedidos, com Paulo Melo, Edival Pontes (o "Netinho") e Maicon Andrade, vencendo os chilenos por 48 a 16 na final. O trio feminino Maria Clara Pacheco, Sandy Macedo e Caroline Santos conquistou o bronze após perder do México por 61 a 60. 

Também num esporte pouco prestigiado aqui, o badminton, houve bom resultado, com bronze das duplas Juliana Viana e Sânia Lima, que perderam para as americanas Annie e Kerry Xu nas semifinais. 

Nos esportes coletivos com bola, em geral as equipes foram bem, mas a de beisebol masculino surpreendeu ao derrotar a equipe cubana por 4 a 2 e avançar à próxima fase. 

Ao todo, são 10 medalhas de ouro, 16 de prata e 19 de bronze, até agora, deixando a delegação brasileira na quarta colocação, atrás apenas dos representantes dos três países da América do Norte (Estados Unidos em primeiro, México em segundo e Canadá em terceiro, com 51, 22 e 20 ouros respectivamente). Desde o Rio de Janeiro em 2007, a torcida vem acompanhando com entusiasmo os atletas, mesmo sabendo que os Jogos Pan-Americanos não são nem de longe tão exigentes quanto as Olimpíadas. 

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Eleições argentinas

Ontem, a Argentina conseguiu tirar o foco da mídia na guerra entre Israel e Hamas, com uma das mais polarizadas eleições já vistas nos últimos tempos. De um lado, o peronista, candidato do governo e partidário da cartilha do "esquerdismo latino-americano", Sérgio Massa. De outro, o ultraliberal tido como o "Trump argentino", Javier Milei, adepto das privatizações em massa e do chamado "estado mínimo". 

Os dois disputarão o segundo turno por serem os mais votados. Era esperada uma vitória de Milei, mas Massa conseguiu mais votos, mesmo sendo ex-ministro da Economia num país onde a inflação está em 113% nos últimos doze meses, um martírio para os argentinos, principalmente os mais pobres. Situação próxima a dos anos 1980, quando o país estava assolado pela hiperinflação, assim como no vecino Brasil. Isso mostra que, assim como aqui, os institutos de pesquisa na Argentina não têm credibilidade, utilizando métodos de amostragem falhos e sem o necessário rigor técnico. 

Sérgio Massa (esq.) pôde vibrar, mas Javier Milei (dir.) ainda pode vencer a guerra eleitoral na Argentina (Getty Images)


O oposicionista, taxado de "extrema direita" por setores da mídia, representa a insatisfação de uma grande parte do povo argentino com a miséria e a crise, problemas agravados durante o governo do presidente Alberto Fernandez, acusado de inépcia até mesmo por partidários da vice-presidente Cristina Kirchner. 

No dia 19 de novembro, os argentinos voltarão para as urnas para escolher entre duas propostas consideradas populistas e demagógicas, mas de espectros opostos. E só um deles terá o apoio do Brasil (e também da Venezuela e dos "bolivarianos", que já foram derrotados em outra eleição recente, no Equador, quando o liberal Daniel Noboa foi eleito, derrotando a "bolivariana" Luisa Gonzalez. 


N. do A.: Este blog já teve duas postagens seguidas sobre política. Espera-se explorar outros assuntos ao longo da semana. 

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Mais uma polêmica envolvendo o governador

Qualquer ato do governador Tarcísio de Freitas será questionado (Amanda Perobelli / Reuters)

Entidades ligadas à Educação e boa parte da imprensa prometem dificultar o novo projeto do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para remanejamento de gastos. Ele propõe aumentar a porcentagem mínima dos gastos com Saúde (12%) em detrimento da Educação (30%). 

Segundo ele, os gastos com insumos relacionados à Saúde aumentaram, devido à pandemia e à adoção de novas tecnologias. Para isso, deverá haver corte em alguma outra área para poder investir no setor. Tarcísio quer diminuir em 5% o piso de gastos com escolas e creches, para favorecer a compra de remédios e equipamentos médicos. 

Para a imprensa e as entidades educativas, em boa parte delas formada por opositores ao atual governo paulista, ha o risco de contingenciar os gastos com as universidades, por exemplo. O montante para a educação diminuiria de pouco menos de R$ 58 bilhões para R$ 48,3 bilhões. São quase R$ 10 bilhões a menos, argumentam. 

Além disso, a Constituição paulista fixou os patamares de gastos com cada área da governança, prometendo gerar uma guerra jurídica e um caminho considerado árduo para o governador: fazer uma emenda à lei máxima do Estado. Os 25% para a Educação ainda estão de acordo com a Constituição Federal. 

Cientistas sociais lembram que o piso não é cumprido pelos governadores, alegando que boa parte da verba é para pagamento de aposentadorias. Eles também, em geral, fazem coro aos professores, funcionários e movimentos estudantis, dizendo ser inaceitável o corte nos repasses, quando seria necessário investir em escolas. 

Para os defensores do governador, há uma solução, mas ela não é popular entre os críticos: o corte de despesas, com maior rigor contra o desperdício e os desvios. Muitos, aliás, querem que as universidades públicas cobrem mensalidades dos estudantes, algo intragável para os movimentos estudantis.

Enquanto isso, o governo ainda precisa lidar com outros problemas, como o roubo das armas no quartel de Barueri. Parte delas foi recuperada no Rio de Janeiro, indicando o envolvimento do crime organizado. Outras metas também tomam atenção do governo, como o avanço no trem "Intercidades" para ligar São Paulo a Campinas. Este blog ainda vai abordar este tema. E não vai faltar gente para tentar miná-lo, pois ele é cotado para ser candidato à Presidência em 2026, como uma das principais opções no caso de Jair Bolsonaro não conseguir reverter sua difícil situação política (a outra é Romeu Zema, o governador mineiro). 

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Se você se identificar com esse personagem...

 - Meu Deus! Hamas diz que tem 203 reféns! A quantidade só aumenta!

- Não se preocupe! As forças israelenses vão libertá-los e dar um corretivo nesses terroristas!

- E a Raquel Sherazade foi expulsa do "A Fazenda"...

- Quê??? Absurdo!!!

- Calma! Ela mereceu porque agrediu a Jenny Miranda!

- Vou parar de assistir esse programa!

- Outra: Petrobras vai diminuir o preço da gasolina em 4,1%. 

- Mas vai aumentar o preço do diesel em 6%. Já vi essa notícia. Nada de anormal em se tratando de governo Lula!

- E a Netflix vai acabar com o pacote básico sem anúncios no Brasil...

- AAARGHHH!!! BOICOTE JÁ PARA A NETFLIX!

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Da série "Grandes varejistas do passado", parte 11 - Lojas Pirani (estas são das antigas)

Quem tem mais de 60 anos e for de São Paulo deve se lembrar das Casas Pirani, que tinham pelo menos duas grandes lojas em São Paulo, uma no Brás, na Av. Celso Garcia, próximo à área onde se instalaria o grande templo da Igreja Universal, e outro no centro histórico, sendo este o famoso edifício Andraus, na rua Pedro Américo, esquina com a Avenida São João. 

Loja das Casas Pirani, no Brás (Eu Conheço São Paulo II / Facebook)

A Pirani teve vida bem curta, mas marcante. Fundada em 1952, por Rodolfo Pirani (de acordo com fontes, como AQUI), empresário falecido em 1964 e homenageado com o nome de um bairro da Zona Leste (Jardim Rodolfo Pirani), não chegava a ser uma rede de departamentos, mas a pujança de suas lojas impressionava. Destacava-se pela variedade de produtos e pela decoração natalina nos finais de ano. 

Era chamada de "A Gigante de São Paulo", recebendo milhares de clientes e empregando centenas de trabalhadores. Foi pioneira no uso de escadas rolantes, poucos anos depois da instalação da primeira no pavilhão da Bienal do Ibirapuera. 

Provavelmente teria um final menos dramático, embora mais doloroso, como outras varejistas, mas o incêndio no edifício Andraus, em fevereiro de 1972, abreviou sua carreira. Causada por uma rede elétrica mal concebida, a tragédia até hoje marca a história de São Paulo. O edifício abrigava sedes de grandes empresas transnacionais, como a alemã Henkel, cujo presidente, Paul Jurgen Pondorf, foi uma das 16 vítimas fatais. Houve 330 feridos ou intoxicados pela fumaça, e só não houve um número maior de fatalidades porque muitos resolveram subir até o pavimento no topo do prédio e esperaram por ajuda, vinda de um helicóptero dos Bombeiros, pois as escadas de emergência foram também consumidas pelo fogo. 

Responsabilizada pelo incêndio, a Pirani precisou pagar as vítimas e os danos causados pelo prédio, e meses depois decretou falência, causando muita consternação na época. Até hoje o edifício Andraus, reconstruído e transformado em sede de várias repartições, como os Correios, e de algumas empresas como a construtora Themag, é conhecido como o "prédio da Pirani". 

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Sorria: ainda há espaço para piora

Por enquanto a guerra entre Israel e o Hamas ainda não foi capaz de levar a humanidade para o fundo do abismo, do qual não há garantias de retorno, mas os recentes acontecimentos podem nos levar a isso. 

Não há inocentes envolvidos no abjeto ataque que destruiu um hospital em Gaza. De um lado, está uma nação cujo direito de existir não pode ser questionado e nem confundido com o direito de cometer erros crassos, por parte de seu governo. De outro, organizações terroristas que tiranizam o povo palestino com o pretexto de "representá-lo", como o Hamas e a Jihad Islâmica. O resultado são mais de 500 vidas inocentes de gente que estava ferida ou doente em decorrência do confronto. 

O horrível ataque ao hospital em Gaza mostra o fiasco da ONU e das potências em fazer o mínimo para conter a escalada de violência entre Israel e Hamas (Dawood Nemer / AFP)


Ainda há espaço para piorar, e vai piorar. O Irã não perderá a oportunidade de atacar Israel por meio do Hizbollah, e tentará manobrar para o preço do petróleo voltar a disparar, como aconteceu várias vezes. Este insumo ainda é vital para o mundo a despeito do maior uso de outras fontes de energia, Isso afetará a economia do mundo inteiro, e não só dos "infiéis" aliados do "Grande Satã" americano e dos "sionistas". Extremistas islâmicos poderão atacar em qualquer parte do planeta. Não está descartado o uso de armas proibidas pela lei internacional, negligenciada pelas partes envolvidas, seus aliados e pela ONU, esta organização que não consegue justificar sua utilidade. 

A falta de capacidsde para impor um basta à barbárie irá estimular países em conflito a resolverem suas situações na bala e no míssil. Isso pode não se limitar a China x Taiwan e as duas Coréias. Guerras em curso como entre Rússia e Ucrânia podem recrudescer. 

Realmente, estamos a viver problemas insondáveis mesmo para os mais brilhantes e tarimbados especialistas em guerra e paz. E os pombos atuam. Definitivamente não os da paz, mas os deste tabuleiro de xadrez que é a política internacional. 

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

E continua o Febeapá

Há coisas mais relevantes para nos preocuparmos, como a repercussão da guerra entre Israel e Hamas na economia e na vida das pessoas no mundo inteiro, mas a nossa mídia não perde a chance de ser um bom sorvete napolitano: amarelo de sensacionalismo, rosa de frivolidade e marrom de m... (vocês sabem o quê). 

Uma das polêmicas mais recentes é o Felipe Neto, o famigerado youtuber muito lembrado pelos defensores das causas e pelo falecido Olavo de Carvalho que o chamava de "Felipe Feto" e o "comparou" a Mozart. Segurando uma caixa de Bis, ele teria feito o "engordativo" (como diz o meu sobrinho) produto da Lacta ser boicotado por muitos partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro, pois o influenciador digital é desafeto do "mito" e de tudo o que se pode considerar "retrógrado" ou "cringe" (ainda usam esse termo?)

Falam até em uma queda brusca nas ações da Mondelez, a empresa americana dona da Lacta... mas por aqui ela é registrada como sociedade limitada, sem participação na Bovespa.

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Felipe Neto participa da campanha do Bis (Reprodução/ Twitter X)



É o Febeapá (festival de ɓesteiras que assola o país), sempre em voga desde Cabral. 

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Estátua gigante de Nossa Senhora Aparecida vira atração no feriado

Inaugurada nesta semana, a estátua de Nossa Senhora Aparecida tornou-se um local turístico para os romeiros, neste feriado. A obra feita pelo escultor Gilmar Pinna teve muitos percalços, desde brigas na Justiça até vandalismo, mas finalmente foi concluída. Localizada no bairo de Itaguaçu, próximo ao local de onde ela foi encontrada, no Rio Paraíba do Sul, e não muito longe da Basílica de Aparecida, pode ser vista de longe, até por moradores das cidades vizinhas, como Roseira e Potim. Hoje, um vídeo curto (short) da Rede Municipal de Jornalismo exibiu a estátua vista por romeiros. 


Com 50 metros, ela é 12 metros mais alta que o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Gilmar Pinna iniciou a construção em 2017, nos 200 anos da primeira aparição da estátua no então povoado pertencente a Guaratinguetá. Era para ser terminada em 2019, mas a obra foi embargada pela Justiça, atendendo a uma denúncia da Associação dos Agnósticos e Ateus. Somente em 2022 conseguiram reverter a decisão. 

Comparação das alturas de alguns monumentos religiosos (G1)


quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Coisas que fracassarão

1. Uma semana de quatro dias como quer o ministro do Trabalho Luiz Marinho, caso ela fosse adotada de forma generalizada. 

2. O governo brasileiro mediar a paz entre Israel e o Hamas, cuja guerra promete continuar a derramar sangue inocente. 

3. A mesma coisa para o conflito Rússia-Ucrânia, as guerras na África envolvendo o grupo Wagner, ou mesmo os conflitos na própria América do Sul. 

4. A humanidade, caso continuarem a ver a guerra como solução para qualquer ameaça a uma população ou à soberania de um país. 

5. Uma Copa do Mundo sediada em seis países e três continentes; a ideia escalafobética foi da Fifa, para a edição de 2030. 

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Como foi a equipe brasileira de ginástica no Mundial

Enquanto a mídia se volta para a guerra entre Israel e Hamas, a mais violenta desde os Seis Dias (1973), em Antuérpia terminou, no domingo passado, o Mundial de Ginástica Artística, com a participação de Rebeca Andrade, considerada a maior ginasta do Brasil em todos os tempos, e Flávia Saraiva. Esta última foi bronze na apresentação solo e prata em equipes, junto com Rebeca, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira, Júlia Soares e Carolyne Pedro. 

Rebeca teve uma espécie de disputa com a americana Simone Biles, uma das maiores ginastas do nosso tempo, e em duas ocasiões perdeu, ficando com a prata. Porém, na prova de salto ela foi melhor e ganhou o ouro, dando esperança de novas boas apresentações em Paris, nas Olimpíadas. Ela conseguiu 14,750 pontos, enquanto Biles "só" conseguiu 14,549. A americana teria vencido a prova se não tivesse errado o primeiro salto na apresentação, perdendo, além disso, 0,500 ponto. No final, ambas dançaram ao final da última premiação. 

Tirar Simone Biles do alto do pódio não é para qualquer uma (Ricardo Bufolin/CBG)

Nas provas masculinas, com repercussão bem menor, pelo menos no Brasil, Diogo Soares se qualificou para ir a Paris, mas não conquistou medalha. Arthur Nori caiu na prova da barra fixa e amargou o sexto lugar, não conseguindo a vaga direta. 


segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Corremos todos perigo?

O Hamas sempre foi considerado um grupo terrorista que nega a existência de Israel e tem como prerrogativa a expulsão dos "invasores" da região, ocupada pelos árabes após a diáspora, o exílio em massa imposto pelos romanos aos hebreus no século I. 

Parecia moderar suas ações, aceitar negociações com os inimigos, mas os esforços dos Estados Unidos para aproximar Israel de algumas nações islâmicas pró-Ocidente, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes, irritaram os grupos radicais palestinos. Eles voltaram a dar sinais de radicalização, aparentemente ignorados pelas forças de segurança e inteligência de Israel (como o Mossad e o Shin Beth), e fizeram um ataque ousado e com violência impressionante, fora dos padrões adotados pela militância radical palestina e mais próxima do Daesh, o "Estado Islâmico" que chegou a tomar boa parte do Iraque e da Síria. 

Isso matou centenas de cidadãos israelenses, maior massacre desde a fundação do estado hebreu, em 1948. Outras centenas de inocentes, inclusive brasileiros em Israel, foram sequestrados pelos terroristas. 

Por sua vez, as forças israelenses reagiram também com fúria, bombardeando a faixa de Gaza e matando outras centenas de palestinos, a maioria deles também inocentes, levando o mundo a se preocupar com a escalada do confronto, ainda mais se forem comprovadas as participações do Irã e dos outros grupos terroristas, como o Hizbollah e mesmo o próprio Daesh. Já está em curso uma saída em massa de estrangeiros, e o resto do mundo teme a expansão da violência e das atrocidades. 

Israel reage ao morticínio provocado por terroristas do Hamas com mísseis contra prédios de Gaza (Ashraf Amra/Reuters)

Serão esperados impactos no preço do petróleo e, consequentemente, de todo o resto, pois haverá encarecimento no custo de produção de gasolina, diesel, plásticos e outros produtos. Os acordos entre Israel e países islâmicos serão inevitavelmente prejudicados, enquanto haverá acusações de conivência ou mesmo cumplicidade com as partes envolvidas, entre as forças políticas inclusive no Brasil. Não está descartado o risco de atentados terroristas fora de Israel ou dos territórios palestinos, e nem uma guerra regional em larga escala, envolvendo o mundo islâmico, os Estados Unidos e a Rússia. 

Nesse caso, a humanidade inteira correrá perigo. 

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Alex Toth, o autor dos heróis da Hanna Barbera

Em 2023, já faz 50 anos que a Hanna Barbera lançou a primeira temporada do cartoon dos Superamigos, uma das primeiras versões em animação da célebre Liga da Justiça da DC Comics, então ainda conhecida como National Periodical Publicatons antes de adotar a marca baseada na Detective Comics (a revista do Batman, o mais emblemático herói da editora). A primeira temporada, de 1973, passou no canal ABC, uma das antigas "três gigantes" da TV aberta americana, ao lado da NBC e da CBS. Não é, porém, a primeira, pois a Filmation lançou uma temporada curta do mesmo grupo, com Superman, Aquaman, Gavião Negro, Lanterna Verde (Hal Jordan), Flash (Barry Allen) e Átomo (ou Elektron), em 1966, também pelo canal ABC. 

No mesmo ano, a Hanna Barbera estava lançando os desenhos do mais famoso de seus super-heróis, inspirado no Batman: Space Ghost. O autor deste herói foi o cartunista Alex Toth (1928-2006), autor de várias histórias em quadrinhos do Zorro. Space Ghost, estreando em 1966 no canal CBS, foi o primeiro herói de sua autoria no estúdio, já famoso por suas animações clássicas, como Zé Colméia, Pepe Legal, Os Flintstones e Os Jetsons. Ele já havia colaborado com Doug Wildey na criação de Jonny Quest, em 1964, quando ele passou a trabalhar na empresa. 


Toth também foi também o autor dos Superamigos, em 1973, fazendo os layouts dos heróis da DC Comics durante a maior parte das temporadas. Ele tinha como hábito desenhar várias ilustrações usadas como base para os trabalhos, os chamados "model sheets". Nota-se a identificação por números, adotada desde 1967, depois do Space Ghost (cujos "model sheets" tinham numeração diferente). Por causa do seu traço, os herois da DC ficaram razoavelmente fieis aos quadrinhos, embora as histórias em si sejam bem mais ingênuas, ainda mais com a participação de dois adolescentes como "sidekicks" (ajudantes jovens) dos heróis, Wendy e Marvin, e o Supercão, aproveitando o sucesso de Scooby-Doo, de 1969. Os "aborrecentes" e o cão atrapalhado foram concebidos pelo mesmo autor do Scooby-Doo, Iwao Takamoto. Mais tarde, em 1977, Takamoto criou personagens bem mais interessantes, os Super Gêmeos (Zan e Jayna) e o macaco espacial Gleek, para ajudarem, ou atrapalharem, os membros da Liga. Talvez a temporada mais famosa, porém, era a terceira, de 1978, com a aparição do super grupo de vilões, a Legião do Mal. Darkseid, o sinistro tirano de Apokolips, viria aparecer mais tarde, na penúltima temporada, mas ele não foi desenhado por Toth. Na última temporada, o criador de Space Ghost não tinha qualquer influência nos Superamigos, desenhados por José Garcia Lopez, em animações memoráveis onde foram explorados temas mais próximos dos quadrinhos, como a morte dos pais de Batman, além da participação do Cyborg (dos Jovens Titãs) e vilões que não apareceram antes na série, como o Coringa e Felix Fausto. 


"Model sheets" de Batman (Superamigos) e de Space Ghost


Ele também foi o autor de vários outros heróis, entre Space Ghost e os Superamigos. Os personagens de Alex Toth foram lançados em todas as "três gigantes", como era hábito da Hanna Barbera. Ei-los: 

 - Space Ghost (1966, CBS; mais tarde, 1981, NBC): Um espécie de patrulheiro galático, vivia num planeta isolado (o Planeta Fantasma) juntamente com dois irmãos gêmeos, por sinal bem diferentes entre si: Jan, a bela adolescente loira, e seu irmão Jace, este um tanto semelhante ao Robin (assim como Space Ghost era parecido até demais com o Batman, apesar do uniforme branco). Outra inspiração foi o personagem sinistro da DC Comics chamado O Espectro. A mascote era um macaco chamado Blip. Todos eles, até mesmo o animalzinho, usavam máscaras, que pareciam não tirar nem para dormir. Viajavam no chamado ‘Cruzador Phantom’, uma espécie de batjato amarelo-psicodélico, para perseguirem os vilões. E eles eram os mais estranhos possíveis: Zorak, o arquinimigo, era um louva-a-deus gigante e psicótico; Brak era um homem-gato de longos caninos; o robô de voz cavernosa e extrema ambição em dominar a galáxia (Metallus); o diabólico Moltar, do planeta Maltor; a sinistra Viúva-Negra, uma mulher aranha de ar aristocrático e cruel. As aventuras de Space Ghost e seus amigos (e inimigos) foram descritas em 36 episódios. Em 1967 foram criados seis animações de 6 minutos, na verdade uma série de baboseiras com intermináveis lutas de Space Ghost contra a aliança de seus piores inimigos (o ‘Council of Doom’); para isso ele teve de contar com a ajuda de outros heróis de Alex Toth (Mightor, Moby Dick, os Herculóides e Shazzan). Mais tarde, foram produzidos outros episódios, com novos inimigos, com destaque para o macaco alado Uglor, e novos aliados, os adolescentes da Força Jovem (Electra, Molecular e Kid Cometa).

- Dino Boy (1966, CBS): Desenho bem absurdo, exibido no meio dos episódios de Space Ghost. Dino Boy era um menino que foi parar num local primitivo, uma selva tropical cheia de dinossauros e outras feras pré-históricas, após ter saltado de um avião em chamas (?!). Neste lugar, onde não faltavam homens pré-históricos hostis, inclusive com feições de índios, pigmeus e mongóis, ele fez amizade com um neanderthal chamado Ugh e um brontossauro chamado Bronto. Teve 18 episódios, exibidos entre 1966 e 1967, reprisados depois no programa World of Super Adventures (1980), reprise das animações dos heróis da Hanna Barbera, inclusive Frankenstein Jr. e o impagável grupo Os Impossíveis, que não eram trabalhos de Toth, mas de Iwao Takamoto, em estilo bem mais cartunesco.

- Herculoids (1967, CBS; mais tarde, 1981, NBC): Depois de Space Ghost, os mais carismáticos personagens de Alex Toth eram os Herculóides. Supostos habitantes de um planeta distante e primitivo, conhecido por Amzot (ou Quasar), lutavam sem descanso, nem para comer, contra os invasores que tentam conquistar seu espaço. O líder dos herculóides era um humanóide, o rei Zandor, sua bela mulher Tara e seu filho Dorno. Essa família só contava com estilingues que jogavam pedras de energia, e teria sido exterminada não fosse a ajuda dos mais estranhos animais do lugar (os herculóides propriamente ditos): o dragão Zok e seus raios projetados nos olhos e na cauda (e ainda podia soltar fogo pela boca, de vez em quando), o gorila de pedra Igoo, o poderoso Tundro (uma estranha mistura de rinoceronte com tatu, dotado de várias pernas além de um chifre que disparava pedras de energia), e duas criaturas informes e fantasmagóricas que podiam se transformar em qualquer coisa, chamadas Gloop e Gleep. A série foi relativamente bem sucedida e durou duas temporadas com 36 episódios no total, Mais tarde, foram produzidos novos episódios, menos inspirados, mas também interessantes por mostrarem o grupo ao lado de Space Ghost e da Força Jovem. 

- Shazzan (1967, CBS): Animação bem fantasiosa, e não tão violenta quanto as precedentes, de dois adolescentes irmãos (Nancy e Chuck) que, no estado americano do Maine, descobrem dois anéis, cada um com as duas metades de uma plaqueta com o nome ‘Shazzan’ (nada a ver com ‘Shazam’, o Capitão Marvel da Fawcett-DC). Unidas, as duas metades chamavam por um gênio gigante de feições e vestes túrquicas, chamado Shazzan, que os leva para um lugar distante, a antiga Bagdá. Para os jovens, o gênio cria um camelo alado, Kaboobie, que os transporta para os mais diversos locais do Oriente Médio, em busca de aventuras. É notável a facilidade com que esses dois incautos adolescentes americanos se metiam em enrascadas. Precisavam da ajuda do gênio para enfrentar feiticeiros, gênios malignos, tiranos e outros perigos das arábias. Durou também duas temporadas e 36 episódios. 

- Mightor (1967, CBS): É uma versão pré-histórica de Space Ghost, com elementos do já referido Capitão Marvel. Um jovem chamado Tor recebeu uma clava mágica de um velho eremita e, quando precisava enfrentar seus inimigos, transformava-se no poderoso Mightor, um super-herói mascarado com curiosos chifres de carneiro. Seu brontossauro de estimação transformava-se num dragão alado, Tog. Juntos derrotavam vilões pré-históricos e tiranossauros famintos, e, assim, protegia a vila, chefiada pelo idoso chefe Pondo e sua filha, a bela Scheera, por quem Tor é apaixonado. O humor desta série vinha do irmão caçula de Scheera, o pequeno Rog, menino de cerca de 6 anos que brincava de ser Mightor e colocava uma máscara parecida com a de seu ídolo. Para voar, usava seu estranho pássaro de estimação, Ork. Foram produzidos 36 episódios, também. 

- Moby Dick (1967, CBS): Curiosa versão de Hanna-Barbera para o clássico do romantismo norte-americano, Moby Dick, de Hermann Melville. Nesta versão bem infantilizada, o cachalote branco é acompanhado de duas crianças mergulhadoras, Tom (Thomas) e o gordinho sardento Tub, e um leão marinho, Scooby. Tub tinha certa semelhança com o Bolinha (amigo da Luluzinha), enquanto Tom se parecia com o Centelha (também chamado Thomas, ajudante do Tocha Humana nos anos 1940). Foram 18 episódios bastante ingênuos, com o cachalote defendendo os mares contra vilões do mundo subaquático.

- Samson and Goliath (1967, NBC): O protagonista é um jovem dotado de braceletes (ao estilo Rick Jones, para evocar o Capitão Marvel - o da Marvel, diga-se), que o fazem transmutar-se numa montanha de músculos chamada Sansão. Na sua forma adolescente, cujo cabelo lembra o do jovem Elvis Presley, percorre o mundo todo com sua lambreta e com seu cão, que também é afetado pelo poder dos braceletes e se torna um leão (!) com urro poderoso e capacidade de soltar raios pelos olhos, tal como o dragão Zok dos Herculóides. Sansão e Golias, dois nomes inspirados na Bíblia, eram reflexo da época, que ainda tinha os Herculóides (de Hércules, o herói grego), Birdman (inspirado na tradição do Antigo Egito); Shazzan (dos contos de Mil e Uma Noites); Gulliver (do livro de Jonathan Swift), etc.

- Birdman (1967, NBC): Era um homem comum, chamado Raymond Randall, que passou, com a ajuda do deus egípcio Rá, a receber energia dos raios solares, tornando-se poderoso. Passou a trabalhar dentro de um vulcão, em cujo interior está toda uma parafernália eletrônica (os computadores da época eram enormes). Pelo visor ele recebia a chamada de seu chefe, o caolho Falcão 7, um agente do governo com um tapa-olho ao estilo Nick Fury. Auxiliado pela águia Vingador, o herói enfrentava a terrível organização chamada F.E.A.R. (homens semi-mascarados e uniformizados que trabalham para os inimigos dos EUA - o desenho se passava no auge da Guerra Fria e da Guerra do Vietnã) - e seus aliados. O desenho foi considerado violento demais para a época, e foi tirado do ar logo, apesar de ter feito sucesso entre os pré-adolescentes e ter mais episódios do que o normal, na temporada: 40, contra 36 dos Herculóides, por exemplo.

- Galaxy Trio (1967, NBC): Outro desenho que pode passar em branco, a não ser pelo fato de passar entre os episódios de Birdman, foi o trio galático, inspirado em trabalho anterior (Os Impossíveis). A Mulher-Flutuadora, que controlava a gravidade, o Homem-Vapor e o poderoso Homem-Meteoro viajavam numa nave para enfrentar vilões intergaláticos, muito parecidos com aqueles que atormentavam os Herculóides. Eles eram de planetas diferentes, cujos habitantes também tinham os seus estranhos poderes. Foram 18 episódios no total. 

- Arabian Knights (1968, NBC): Mais conhecido dos desenhos exibidos pelo programa The Banana Splits, o grupo conhecido como Os Cavaleiros da Arábia era formado pelo príncipe Turhan (o líder e pretendente ao trono de Bagdá), a bela princesa Nida (mestre dos disfarces), o fortão Raseem, o feiticeiro Fariek (“Hossan Kobak”), o burrinho temperamental Zazoom e, talvez o mais carismático deles, o mágico Bez (“do tamanho de um...”) lutava contra a tirania do sultão Bakaar (dono de feições meio mongólicas) e seu vizir, o cruel Vangore. Eram já episódios mais humorísticos do que violentos, mas ainda lembravam bastante Shazzan, compartilhando boa parte da trilha sonora arabizante de Ted Nichols. Foram feitos apenas 18 episódios. 

- The Three Musketeers (1968, NBC): Versão bem inocente do clássico de Alexandre Dumas, onde Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan, além de combaterem as forças do maquiavélico Richelieu (que não aparecia nas histórias) e do aristocrático Duque Vermelho, ainda tinham de suportar o menino Tule, que queria ser mosqueteiro sem ter idade para isso. O moleque era sobrinho de Mademoiselle Constance, a governanta da rainha e colaboradora dos bravos guardas do rei; ela tentava dissuadi-lo da ideia fixa, mas não conseguia evitar que os mosqueteiros gastassem suas energias, também, em resolver as enrascadas nas quais ele se metia. Durou 18 episódios, também na clássica The Banana Splits

- Sealab 2020 (1972, NBC): Bem mais tarde, Alex Toth fez um trabalho onde a perícia e a inteligência eram mais importantes que a violência, relativamente nula neste trabalho da Hanna-Barbera. O Laboratório Submarino era formado pela equipe do Dr. Paul Williams, que trabalhava no fundo do mar e quase não era vista emergindo para a superfície, e tinha como meta mostrar a importância da preservação dos oceanos e sua vida marinha, num futuro então distante (o século XXI, no ano mostrado pelo título em inglês). Esta mensagem ecológica não teve muito sucesso, pois a série só durou 17 episódios, entre setembro e dezembro de 1972, mas o cartoon gerou uma paródia no Adult Swin muitos anos mais tarde, o Sealab 2021, onde os personagens criados pelo cartunista viraram um grupo de amalucados.

Além disso, Toth também fez a primeira versão animada do Quarteto Fantástico da Marvel, chamado aqui de "Os Quatro Fantásticos", passando no canal ABC em 1967 juntamente com outra animação, esta mais conhecida, do Homem-Aranha, da Grantray-Lawrence. Lembrava um pouco os desenhos ainda mais "desanimados" da Grantray, com Capitão América, Hulk, Thor, Homem de Ferro e Namor, mas o estilo de Toth e da Hanna Barbera se fazia notar no trabalho. Eles enfrentaram alguns supervilões bem conhecidos, como o Doutor Destino, o Garra Sônica, os Skrulls, Rama-Tut (Kang, o Conquistador), o monstro Blastaar da Zona Negativa e o Toupeira, entre outros. Também havia aliados, como o Surfista Prateado (estranhamente chamado aqui de "Escudeiro de Prata", pelo estúdio Dublasom Guanabara, autor da dublagem no Brasil) e o príncipe Triton, na verdade o próprio Namor, com pele azul e outro nome, para não haver conflito com a Grantray pelos direitos autorais do Príncipe Submarino.




N. do A.: "Desanimados" como esses desenhos antigos, feitos com técnicas limitadas e restrições orçamentárias, estão os palmeirenses, depois de verem o time ser eliminado nos pênaltis pelo Boca Juniors na semifinal da Libertadores. Cavani, o famoso atacante uruguaio e ex-companheiro de Neymar no PSG, abriu o placar, mas Piquerez empatou. O Boca, mesmo com um a menos desde a expulsão de Rojo, conseguiu se segurar, teve mais capricho nas cobranças de pênalti, embora o mesmo Cavani tivesse desperdiçado a sua vez, e vai enfrentar o Fluminense na grande final. Sim, o time das Laranjeiras que sempre anseia em ganhar o torneio, mas sempre fracassava e sua maior conquista era o vice sofrido de 2008, contra a LDU, em uma partida dolorosa para os torcedores do Tricolor carioca. Na edição desde ano, o Flu conseguiu eliminar o bem mais tarimbado Internacional, ganhador das edições de 2006 e 2010.

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Dois escritores (e outros dois)

Durante a premiação do Nobel para diversas categorias, o escritor norueguês Jon Fosse, 64 anos, foi premiado com a láurea. Ele escreve obedecendo à nova norma do idioma, o "Ninorsk", mais parecida com o que se falava entre os vikings no passado. Ele é considerado o "Samuel Beckett norueguês" e já levou vários prêmios, como o Ibsen (2010). Há dois livros traduzidos para o português, É a Ales e Melancolia. O primeiro romance fala sobre uma mulher escrevendo suas memórias após ser abandonada pelo marido. O segundo fala sobre a juventude do pintor Lars Hertevig (1830-1902), cuja vida foi repleta de tormentos, como uma internação num sanatório. Jon Fosse é também sacerdote católico. 

Jon Fosse ganhou o Nobel de Literatua neste ano (Divulgação)

Aílton Krenak é mais conhecido pelo ativismo pró-indígena (Fondation Cartier)

Por aqui, Aílton Krenak, de 71 anos, foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras. Ele é considerado o primeiro escritor indígena a vestir o fardão dos acadêmicos, e seus livros estão bastante ligados à sua luta pelos direitos indígenas. Ele escreveu A vida não é útil, ensaio sobre a pandemia de COVID-19, e Futuro ancenstral, sobre o modo de vida das comunidades autóctones antes e depois da vinda dos portugueses. Há quem critique a Academia, já irrelevante para a literatura nacional há décadas, por suposto "identarismo". Os outros dois candidatos à vaga de José Murilo de Carvalho, antigo ocupante da cátedra número 5, também são conhecidos por defensores de causas, como o também indígena Daniel Munduruku e a historiadora Mary del Priore, considerada feminista. 

Quando se fala de Nobel e ABL, muitos também se lembram de Haruki Murakami, o japonês que há décadas aspiara por ser lembrado pela Academia Sueca, e Conceição Evaristo, a linguista e ativista da causa negra, muito lembrada pelos movimentos antirracistas. Os dois não foram considerados neste ano. 

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

PEC põe freio nas decisões monocráticas

Atendendo aoa anseios de muitos, o Senado resolveu avançar com uma proposta de emenda à Constituição (PEC) limitando os recursos em tribunais superiores e, também, as famigeradas decisões monocráticas dos ministros do STF. 

Foi aprovado pela CCJ da referida Casa do Legislativo um projeto de Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), acabando com esta prática do Judiciário, já bastante apontada neste blog, que praticamente dava a um dos 11 togados o "direito" de exercer uma espécie de Poder Moderador, sabendo-se que a Constituição não prevê um quarto poder. Agora uma decisão monocrática não vale se ela anula decisão do Presidente da República ou do Congresso. Em casos extremos, ela deve ser votada no plenário do Supremo em trinta dias, sob pena de ser invalidada. 

Também está em estudo uma proposta, esta casuística, para fazer retornar a idade de 70 anos como limite para a aposentadoria de um ministro do STF ou de qualquer outro magistrado. Esta PEC seria para revogar uma outra PEC, a da "bengala", que entrou em vigor há muito pouco tempo. A "emenda da emenda" foi defendida pela deputada Bia Kicis (PSL-DF). 


terça-feira, 3 de outubro de 2023

Armênia, um país ameaçado?

A Armênia é um pequeno país cuja capital é Ierevan. Está numa região obscura da Eurásia, as montanhas do Cáucaso, e, embora sua cultura seja tradicionalmente asiática, com influências dos povos vizinhos, como turcos, gregos e árabes, atualmente está ocidentalizada, desde a anexação por parte da Rússia, e principalmente após tornar-se uma das repúblicas soviéticas. É considerada uma das primeiras nações cristãs, mas está cercada de povos islâmicos hostis. 

Mapa da Armênia (Nations Online Project)


Ironicamente, só a parte oriental do território sofreu a ocidentalização e se tornou independente depois. A parte ocidental foi totalmente incorporada ao território turco, após uma violenta investida do Império Otomano, no episódio conhecido como Genocídio Armênio. Originalmente, o país era bem maior, ocupando uma região englobando as nascentes dos rios Tigre e Eufrates. Existem dois lagos históricos, o Van, salgado e maior, e o Sevan, de água doce, e somente o segundo permanece em território armênio. Alguns consideram, devido a este contexto histórico, a Armênia como parte do Oriente Próximo (termo evitado pelos geógrafos por ser considerado eurocêntrico; eles preferem considerar a região ao sul do Grande Cáucaso como parte da Ásia Ocidental). O Oriente Próximo é um termo confuso, equivalente ao Oriente Médio, mas geralmente sem incluir a Península Arábica e englobando países do norte da África. 

Recentemente, o país tentou proteger a região de Nagorno-Karabakh, um exclave (parte do território separada do país por faixas de terra de países vizinhos) dentro do país inimigo e vizinho, o Azerbaijão, administrado pela república de Artsaque, não reconhecida em quase nenhum lugar do mundo, em conflito com os azeris. Na guerra recente para reprimir os rebeldes, o governo de Baku (capital azeri) esmagou a tal república, com apoio turco e armas fornecidas por Israel (que só atuou para enfraquecer o Irã, seu inimigo mortal e vizinha tanto do Azerbaijão quanto da Armênia). De quebra, Nagorno-Karabakh foi na prática anexada pelos azeris, gerando fuga em massa. 

Agora, o sul do país ameaça ser invadido pelos inimigos, graças ao também exclave de Nakhitchevan, uma pequena área habitada majoritariamente por azeris. 

Resta ao país recorrer à intervenção da União Européia, como membro do Conselho da Europa, do qual é membro desde a dissolução da União Soviética. A Armênia não esconde seu desejo em ingressar à União, e hoje aprovou a validade da decisão do Tribunal Penal Internacional, autorizando a prisão do líder russo Vladimir Putin caso ele aterrissar em certos países. Isso é visto como resposta ao que eles consideram uma omissão do Kremlin na questão do Karabakh, e pode representar um rompimento na aliança entre Moscou e Ierevan. 

Parte do povo armênio, disperso em vários países entre os quais o Brasil, onde há uma pequena mas conhecida comunidade em São Paulo, teme pelo desaparecimento de seu país por possíveis ações da Turquia e do Azerbaijão, e até um novo genocídio, como o ocorrido no século passado. 

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Como já foi anunciado

Metrô, CPTM e Sabesp vão entrar em greve, para tentar deter o processo de privatização e medir forças com o governador Tarcísio de Freitas, apodado de "bolsonarista" por muitos dos simpatizantes da paralisação, por ter sido ex-ministro de Jair Bolsonaro, embora de "bolsonarista" mesmo seja pouco. 

Eles querem também um "plebiscito" para o povo decidir se eles querem ou não as empresas em questão fora das mãos do Estado. Mas isso é uma manobra para dificultar ainda mais a venda delas. Tarcísio foi eleito prometendo justamente privatizá-las, e já definiu o movimento como "político". 

Um plebiscito, de verdade, seria definido pelo Poder Legislativo e seu título não é tão enviesado, induzindo o povo a votar em apenas uma das opções. 

As privatizações geram alívio para o bolso da população, pois os impostos deixam de ser gastos com tantas estatais, usadas como verdadeiras "cabides de emprego". Não necessariamente tornam um serviço precário digno de elogios, como se pode notar no caso da energia elétrica: o trabalho das concessionárias ainda é muito ruim, e boa parte da culpa é do crescimento desordenado das grandes cidades e principalmente das favelas. Era pior quando eram empresas públicas, ainda mais coniventes com desvios no fornecimento ("gatos") e burocratizadas. 

No caso do transporte público, o Metrô há anos é parasitado por esquemas de corrupção. Privatizar as linhas não vai acabar com a corrupção de uma vez, mas vai deixá-la mais controlável. Dentre as linhas, a melhor é justamente a 4 (Amarela, entre Luz e Vila Sônia), operada pelo consórcio ViaQuatro, e não diretamente pelo Metrô. Quanto à CPTM, a Via Mobilidade, controladora das linhas 8 (Diamante, entre Júlio Prestes e Itapevi) e 9 (Esmeralda, entre Osasco e Mendes-Vila Natal), é muito cobrada por causa das constantes falhas, mas as outras não sofrem tanta cobrança e fazem um serviço pior, com trens mais desconfortáveis e antigos. Além disso, o governo paulista não vai deixar tudo para a iniciativa privada, mesmo porque é inviável, e sim diminuir as atribuições do poder público, encarregando-o de definir os novos projetos e fiscalizar as linhas existentes. 

Mas o "ponto chave" é o temor pela perda de empregos por parte de funcionários sem compromisso com a população, ou, quando diz se preocupar com ela, a vê mais como uma "massa de manobra" para defender seus interesses particulares.