Aproveitando o mote do Halloween, é assustador constatar o número de falências de lojas, grandes ou pequenas, no Brasil. Não é por praga de bruxa ou arte do Saci Pererê: é uma combinação desastrosa de falhas administrativas, dependência de capital de giro e instabilidade econômica, uma receita para o desastre poucas vezes superada.
Hoje, temos uma loja muito conhecida no Rio Grande do Sul, e em menor escala no Paraná e em Santa Catarina, as Lojas Manlec, uma das mais longevas e bem conhecidas da Região Sul. Foi fundada pelo empreendendor Atílio Manzoli, juntamente com Felipe Lechtman, em 1953, e só faliu em 2017, após disputas judiciais com ex-empregados e prejuízos durante boa parte de sua vida relativamente longa. Começou como uma pequena loja de móveis, mas expandiu os negócios e passou prograssivamente a vender eletrodomésticos e depois eletrônicos. Funcionou por tempo suficiente para sustentar televendas e comércio eletrônico, algo que varejistas mais famosas como o Mappin e a Mesbla não conseguiram.
Uma das lojas Manlec, famosa vendedora de produtos eletro-eletrônicos do Rio Grande do Sul (Divulgação) |
Até sua falência, a empresa cujo nome social era Manzoli S.A. Comércio e Indústria era querida e estimada no Rio Grande do Sul. Parecia forte, com até um vídeo institucional de 2013 destacando as 46 lojas da rede, espalhadas quase totalmente no território gaúcho. Eles fizeram questão de esconder os problemas financeiros, naquela época, enquanto salientava o orgulho local pela rede (assistir AQUI).
A Manlec conseguiu sobreviver aos percalços econômicos e aos problemas de gestão enfrentados por outras varejistas, durante o regime militar e a redemocratização. Aproveitou o "milagre econômico", sofreu com os planos econômicos, enfrentou crises, comércio informal e até o e-commerce da China. Disso tudo teve sequelas, e sucumbiu a elas. Começou a atrasar os salários e demitir funcionários, enfrentando a Justiça e os mais de R$ 100 milhões de prejuízos. Nessa época o veterano Atílio Manzoli, fundador da empresa, faleceu em 2016, embora já deixasse o comando da rede para o filho de mesmo nome, Atílio Manzoli Jr. No ano seguinte, foi a vez da rede perecer. E agora ela se tornou uma lembrança para os gaúchos.
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