sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Alex Toth, o autor dos heróis da Hanna Barbera

Em 2023, já faz 50 anos que a Hanna Barbera lançou a primeira temporada do cartoon dos Superamigos, uma das primeiras versões em animação da célebre Liga da Justiça da DC Comics, então ainda conhecida como National Periodical Publicatons antes de adotar a marca baseada na Detective Comics (a revista do Batman, o mais emblemático herói da editora). A primeira temporada, de 1973, passou no canal ABC, uma das antigas "três gigantes" da TV aberta americana, ao lado da NBC e da CBS. Não é, porém, a primeira, pois a Filmation lançou uma temporada curta do mesmo grupo, com Superman, Aquaman, Gavião Negro, Lanterna Verde (Hal Jordan), Flash (Barry Allen) e Átomo (ou Elektron), em 1966, também pelo canal ABC. 

No mesmo ano, a Hanna Barbera estava lançando os desenhos do mais famoso de seus super-heróis, inspirado no Batman: Space Ghost. O autor deste herói foi o cartunista Alex Toth (1928-2006), autor de várias histórias em quadrinhos do Zorro. Space Ghost, estreando em 1966 no canal CBS, foi o primeiro herói de sua autoria no estúdio, já famoso por suas animações clássicas, como Zé Colméia, Pepe Legal, Os Flintstones e Os Jetsons. Ele já havia colaborado com Doug Wildey na criação de Jonny Quest, em 1964, quando ele passou a trabalhar na empresa. 


Toth também foi também o autor dos Superamigos, em 1973, fazendo os layouts dos heróis da DC Comics durante a maior parte das temporadas. Ele tinha como hábito desenhar várias ilustrações usadas como base para os trabalhos, os chamados "model sheets". Nota-se a identificação por números, adotada desde 1967, depois do Space Ghost (cujos "model sheets" tinham numeração diferente). Por causa do seu traço, os herois da DC ficaram razoavelmente fieis aos quadrinhos, embora as histórias em si sejam bem mais ingênuas, ainda mais com a participação de dois adolescentes como "sidekicks" (ajudantes jovens) dos heróis, Wendy e Marvin, e o Supercão, aproveitando o sucesso de Scooby-Doo, de 1969. Os "aborrecentes" e o cão atrapalhado foram concebidos pelo mesmo autor do Scooby-Doo, Iwao Takamoto. Mais tarde, em 1977, Takamoto criou personagens bem mais interessantes, os Super Gêmeos (Zan e Jayna) e o macaco espacial Gleek, para ajudarem, ou atrapalharem, os membros da Liga. Talvez a temporada mais famosa, porém, era a terceira, de 1978, com a aparição do super grupo de vilões, a Legião do Mal. Darkseid, o sinistro tirano de Apokolips, viria aparecer mais tarde, na penúltima temporada, mas ele não foi desenhado por Toth. Na última temporada, o criador de Space Ghost não tinha qualquer influência nos Superamigos, desenhados por José Garcia Lopez, em animações memoráveis onde foram explorados temas mais próximos dos quadrinhos, como a morte dos pais de Batman, além da participação do Cyborg (dos Jovens Titãs) e vilões que não apareceram antes na série, como o Coringa e Felix Fausto. 


"Model sheets" de Batman (Superamigos) e de Space Ghost


Ele também foi o autor de vários outros heróis, entre Space Ghost e os Superamigos. Os personagens de Alex Toth foram lançados em todas as "três gigantes", como era hábito da Hanna Barbera. Ei-los: 

 - Space Ghost (1966, CBS; mais tarde, 1981, NBC): Um espécie de patrulheiro galático, vivia num planeta isolado (o Planeta Fantasma) juntamente com dois irmãos gêmeos, por sinal bem diferentes entre si: Jan, a bela adolescente loira, e seu irmão Jace, este um tanto semelhante ao Robin (assim como Space Ghost era parecido até demais com o Batman, apesar do uniforme branco). Outra inspiração foi o personagem sinistro da DC Comics chamado O Espectro. A mascote era um macaco chamado Blip. Todos eles, até mesmo o animalzinho, usavam máscaras, que pareciam não tirar nem para dormir. Viajavam no chamado ‘Cruzador Phantom’, uma espécie de batjato amarelo-psicodélico, para perseguirem os vilões. E eles eram os mais estranhos possíveis: Zorak, o arquinimigo, era um louva-a-deus gigante e psicótico; Brak era um homem-gato de longos caninos; o robô de voz cavernosa e extrema ambição em dominar a galáxia (Metallus); o diabólico Moltar, do planeta Maltor; a sinistra Viúva-Negra, uma mulher aranha de ar aristocrático e cruel. As aventuras de Space Ghost e seus amigos (e inimigos) foram descritas em 36 episódios. Em 1967 foram criados seis animações de 6 minutos, na verdade uma série de baboseiras com intermináveis lutas de Space Ghost contra a aliança de seus piores inimigos (o ‘Council of Doom’); para isso ele teve de contar com a ajuda de outros heróis de Alex Toth (Mightor, Moby Dick, os Herculóides e Shazzan). Mais tarde, foram produzidos outros episódios, com novos inimigos, com destaque para o macaco alado Uglor, e novos aliados, os adolescentes da Força Jovem (Electra, Molecular e Kid Cometa).

- Dino Boy (1966, CBS): Desenho bem absurdo, exibido no meio dos episódios de Space Ghost. Dino Boy era um menino que foi parar num local primitivo, uma selva tropical cheia de dinossauros e outras feras pré-históricas, após ter saltado de um avião em chamas (?!). Neste lugar, onde não faltavam homens pré-históricos hostis, inclusive com feições de índios, pigmeus e mongóis, ele fez amizade com um neanderthal chamado Ugh e um brontossauro chamado Bronto. Teve 18 episódios, exibidos entre 1966 e 1967, reprisados depois no programa World of Super Adventures (1980), reprise das animações dos heróis da Hanna Barbera, inclusive Frankenstein Jr. e o impagável grupo Os Impossíveis, que não eram trabalhos de Toth, mas de Iwao Takamoto, em estilo bem mais cartunesco.

- Herculoids (1967, CBS; mais tarde, 1981, NBC): Depois de Space Ghost, os mais carismáticos personagens de Alex Toth eram os Herculóides. Supostos habitantes de um planeta distante e primitivo, conhecido por Amzot (ou Quasar), lutavam sem descanso, nem para comer, contra os invasores que tentam conquistar seu espaço. O líder dos herculóides era um humanóide, o rei Zandor, sua bela mulher Tara e seu filho Dorno. Essa família só contava com estilingues que jogavam pedras de energia, e teria sido exterminada não fosse a ajuda dos mais estranhos animais do lugar (os herculóides propriamente ditos): o dragão Zok e seus raios projetados nos olhos e na cauda (e ainda podia soltar fogo pela boca, de vez em quando), o gorila de pedra Igoo, o poderoso Tundro (uma estranha mistura de rinoceronte com tatu, dotado de várias pernas além de um chifre que disparava pedras de energia), e duas criaturas informes e fantasmagóricas que podiam se transformar em qualquer coisa, chamadas Gloop e Gleep. A série foi relativamente bem sucedida e durou duas temporadas com 36 episódios no total, Mais tarde, foram produzidos novos episódios, menos inspirados, mas também interessantes por mostrarem o grupo ao lado de Space Ghost e da Força Jovem. 

- Shazzan (1967, CBS): Animação bem fantasiosa, e não tão violenta quanto as precedentes, de dois adolescentes irmãos (Nancy e Chuck) que, no estado americano do Maine, descobrem dois anéis, cada um com as duas metades de uma plaqueta com o nome ‘Shazzan’ (nada a ver com ‘Shazam’, o Capitão Marvel da Fawcett-DC). Unidas, as duas metades chamavam por um gênio gigante de feições e vestes túrquicas, chamado Shazzan, que os leva para um lugar distante, a antiga Bagdá. Para os jovens, o gênio cria um camelo alado, Kaboobie, que os transporta para os mais diversos locais do Oriente Médio, em busca de aventuras. É notável a facilidade com que esses dois incautos adolescentes americanos se metiam em enrascadas. Precisavam da ajuda do gênio para enfrentar feiticeiros, gênios malignos, tiranos e outros perigos das arábias. Durou também duas temporadas e 36 episódios. 

- Mightor (1967, CBS): É uma versão pré-histórica de Space Ghost, com elementos do já referido Capitão Marvel. Um jovem chamado Tor recebeu uma clava mágica de um velho eremita e, quando precisava enfrentar seus inimigos, transformava-se no poderoso Mightor, um super-herói mascarado com curiosos chifres de carneiro. Seu brontossauro de estimação transformava-se num dragão alado, Tog. Juntos derrotavam vilões pré-históricos e tiranossauros famintos, e, assim, protegia a vila, chefiada pelo idoso chefe Pondo e sua filha, a bela Scheera, por quem Tor é apaixonado. O humor desta série vinha do irmão caçula de Scheera, o pequeno Rog, menino de cerca de 6 anos que brincava de ser Mightor e colocava uma máscara parecida com a de seu ídolo. Para voar, usava seu estranho pássaro de estimação, Ork. Foram produzidos 36 episódios, também. 

- Moby Dick (1967, CBS): Curiosa versão de Hanna-Barbera para o clássico do romantismo norte-americano, Moby Dick, de Hermann Melville. Nesta versão bem infantilizada, o cachalote branco é acompanhado de duas crianças mergulhadoras, Tom (Thomas) e o gordinho sardento Tub, e um leão marinho, Scooby. Tub tinha certa semelhança com o Bolinha (amigo da Luluzinha), enquanto Tom se parecia com o Centelha (também chamado Thomas, ajudante do Tocha Humana nos anos 1940). Foram 18 episódios bastante ingênuos, com o cachalote defendendo os mares contra vilões do mundo subaquático.

- Samson and Goliath (1967, NBC): O protagonista é um jovem dotado de braceletes (ao estilo Rick Jones, para evocar o Capitão Marvel - o da Marvel, diga-se), que o fazem transmutar-se numa montanha de músculos chamada Sansão. Na sua forma adolescente, cujo cabelo lembra o do jovem Elvis Presley, percorre o mundo todo com sua lambreta e com seu cão, que também é afetado pelo poder dos braceletes e se torna um leão (!) com urro poderoso e capacidade de soltar raios pelos olhos, tal como o dragão Zok dos Herculóides. Sansão e Golias, dois nomes inspirados na Bíblia, eram reflexo da época, que ainda tinha os Herculóides (de Hércules, o herói grego), Birdman (inspirado na tradição do Antigo Egito); Shazzan (dos contos de Mil e Uma Noites); Gulliver (do livro de Jonathan Swift), etc.

- Birdman (1967, NBC): Era um homem comum, chamado Raymond Randall, que passou, com a ajuda do deus egípcio Rá, a receber energia dos raios solares, tornando-se poderoso. Passou a trabalhar dentro de um vulcão, em cujo interior está toda uma parafernália eletrônica (os computadores da época eram enormes). Pelo visor ele recebia a chamada de seu chefe, o caolho Falcão 7, um agente do governo com um tapa-olho ao estilo Nick Fury. Auxiliado pela águia Vingador, o herói enfrentava a terrível organização chamada F.E.A.R. (homens semi-mascarados e uniformizados que trabalham para os inimigos dos EUA - o desenho se passava no auge da Guerra Fria e da Guerra do Vietnã) - e seus aliados. O desenho foi considerado violento demais para a época, e foi tirado do ar logo, apesar de ter feito sucesso entre os pré-adolescentes e ter mais episódios do que o normal, na temporada: 40, contra 36 dos Herculóides, por exemplo.

- Galaxy Trio (1967, NBC): Outro desenho que pode passar em branco, a não ser pelo fato de passar entre os episódios de Birdman, foi o trio galático, inspirado em trabalho anterior (Os Impossíveis). A Mulher-Flutuadora, que controlava a gravidade, o Homem-Vapor e o poderoso Homem-Meteoro viajavam numa nave para enfrentar vilões intergaláticos, muito parecidos com aqueles que atormentavam os Herculóides. Eles eram de planetas diferentes, cujos habitantes também tinham os seus estranhos poderes. Foram 18 episódios no total. 

- Arabian Knights (1968, NBC): Mais conhecido dos desenhos exibidos pelo programa The Banana Splits, o grupo conhecido como Os Cavaleiros da Arábia era formado pelo príncipe Turhan (o líder e pretendente ao trono de Bagdá), a bela princesa Nida (mestre dos disfarces), o fortão Raseem, o feiticeiro Fariek (“Hossan Kobak”), o burrinho temperamental Zazoom e, talvez o mais carismático deles, o mágico Bez (“do tamanho de um...”) lutava contra a tirania do sultão Bakaar (dono de feições meio mongólicas) e seu vizir, o cruel Vangore. Eram já episódios mais humorísticos do que violentos, mas ainda lembravam bastante Shazzan, compartilhando boa parte da trilha sonora arabizante de Ted Nichols. Foram feitos apenas 18 episódios. 

- The Three Musketeers (1968, NBC): Versão bem inocente do clássico de Alexandre Dumas, onde Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan, além de combaterem as forças do maquiavélico Richelieu (que não aparecia nas histórias) e do aristocrático Duque Vermelho, ainda tinham de suportar o menino Tule, que queria ser mosqueteiro sem ter idade para isso. O moleque era sobrinho de Mademoiselle Constance, a governanta da rainha e colaboradora dos bravos guardas do rei; ela tentava dissuadi-lo da ideia fixa, mas não conseguia evitar que os mosqueteiros gastassem suas energias, também, em resolver as enrascadas nas quais ele se metia. Durou 18 episódios, também na clássica The Banana Splits

- Sealab 2020 (1972, NBC): Bem mais tarde, Alex Toth fez um trabalho onde a perícia e a inteligência eram mais importantes que a violência, relativamente nula neste trabalho da Hanna-Barbera. O Laboratório Submarino era formado pela equipe do Dr. Paul Williams, que trabalhava no fundo do mar e quase não era vista emergindo para a superfície, e tinha como meta mostrar a importância da preservação dos oceanos e sua vida marinha, num futuro então distante (o século XXI, no ano mostrado pelo título em inglês). Esta mensagem ecológica não teve muito sucesso, pois a série só durou 17 episódios, entre setembro e dezembro de 1972, mas o cartoon gerou uma paródia no Adult Swin muitos anos mais tarde, o Sealab 2021, onde os personagens criados pelo cartunista viraram um grupo de amalucados.

Além disso, Toth também fez a primeira versão animada do Quarteto Fantástico da Marvel, chamado aqui de "Os Quatro Fantásticos", passando no canal ABC em 1967 juntamente com outra animação, esta mais conhecida, do Homem-Aranha, da Grantray-Lawrence. Lembrava um pouco os desenhos ainda mais "desanimados" da Grantray, com Capitão América, Hulk, Thor, Homem de Ferro e Namor, mas o estilo de Toth e da Hanna Barbera se fazia notar no trabalho. Eles enfrentaram alguns supervilões bem conhecidos, como o Doutor Destino, o Garra Sônica, os Skrulls, Rama-Tut (Kang, o Conquistador), o monstro Blastaar da Zona Negativa e o Toupeira, entre outros. Também havia aliados, como o Surfista Prateado (estranhamente chamado aqui de "Escudeiro de Prata", pelo estúdio Dublasom Guanabara, autor da dublagem no Brasil) e o príncipe Triton, na verdade o próprio Namor, com pele azul e outro nome, para não haver conflito com a Grantray pelos direitos autorais do Príncipe Submarino.




N. do A.: "Desanimados" como esses desenhos antigos, feitos com técnicas limitadas e restrições orçamentárias, estão os palmeirenses, depois de verem o time ser eliminado nos pênaltis pelo Boca Juniors na semifinal da Libertadores. Cavani, o famoso atacante uruguaio e ex-companheiro de Neymar no PSG, abriu o placar, mas Piquerez empatou. O Boca, mesmo com um a menos desde a expulsão de Rojo, conseguiu se segurar, teve mais capricho nas cobranças de pênalti, embora o mesmo Cavani tivesse desperdiçado a sua vez, e vai enfrentar o Fluminense na grande final. Sim, o time das Laranjeiras que sempre anseia em ganhar o torneio, mas sempre fracassava e sua maior conquista era o vice sofrido de 2008, contra a LDU, em uma partida dolorosa para os torcedores do Tricolor carioca. Na edição desde ano, o Flu conseguiu eliminar o bem mais tarimbado Internacional, ganhador das edições de 2006 e 2010.

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