O autor do blog conseguiu finalmente testemunhar um filme brasileiro ganhando o Oscar: Ainda Estou Aqui, do consagrado Walter Salles Jr., era visto como favorito por muita gente, principalmente por quem tentou encarar o filme como uma luta contra a ditadura militar, que muitos simpatizantes de Lula (ou da chamada "extrema esquerda" do espectro político) associam (de forma deturpada) aos defensores dos valores liberais ou conservadores (a "direita" do mesmo espectro). Rubens Paiva (1929-1971), torturado e morto, e sua mulher Eunice (1929-2018), vivida por Fernanda Torres, são tratados menos como pessoas reais e mais como símbolos.
Salles foi o mesmo diretor de Central do Brasil, esnobado por Hollywood em 1999 em favor de A Vida é Bela. Sem desmerecer o filme italiano, Central do Brasil merecia o prêmio e era considerado superior ao atual trabalho do cineasta. Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres, também concorria ao prêmio de melhor atriz, e a premiação de Gwyneth Paltrow, estrela de Shakespeare Apaixonado, foi execrada pelos brasileiros. Foi realmente uma grande injustiça, mas isso pode ser encarado como normal pela Academia, acusada de desprezar muitos grandes artistas e estar vinculada com grandes grupos de influência. A empresa de produção e distribuição Miramax, de Harvey Weinstein, fazia parte disso, e financiou tanto Shakespeare Apaixonado quanto A Vida é Bela naquele fatídico ano (ela também distribuiu o brasileiro Cidade de Deus anos depois, por sinal).
Ainda Estou Aqui enfrentou a concorrência do franco-mexicano Emilia Perez, considerado também panfletário, mas dos valores woke e LGBTQIA+, e o teuto-iraniano A Semente do Fruto Sagrado, um retrato da repressão feita pela ditadura xiita do Irã.
Walter Salles recebe a estatueta de seu filme; o Brasil enfim ganhou um Oscar! (@theacademy/Instagram) |
Já Fernanda Torres contava com a torcida de seus fãs e de boa parte da mídia. Demi Moore, de A Substância, era vista como a grande rival, mas esqueceram-se da jovem Mikey Madison, a protagonista de Anora, filme consagrado por reunir o maior número de premiações: melhor filme, atriz, roteiro original, edição e diretor (Sean Baker). Quando Madison venceu, houve protestos nas redes sociais. Pelo menos, ela tem mais talento que Gwyneth Paltrow. "Fernandinha" herdou o estigma de injustiçada da mãe, a "Fernandona".
Muitos veículos de imprensa embarcaram no clima de Copa do Mundo, mas a comemoração da inédita estatueta para Ainda Estou Aqui foi dissipada com certa facilidade pela derrota da Fernanda Torres.
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