sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Da série: "Como seria o Brasil se...", parte 1

A Semana da Pátria lembra a semi-lendária história do príncipe D. Pedro ter gritado "Independência ou Morte" para libertar o Brasil de Portugal. Já fiz uma postagem antiga a respeito do episódio e do subsequente governo do monarca, filho do notório D. João VI.

D. Pedro I tinha tendências autoritárias, conforme os registros. Não tinha o perfil de um libertador, mas de um déspota. A corte que o cercava, formada por portugueses, era considerava como uma súcia de parasitas, uma das razões da impopularidade de D. Pedro I junto aos brasileiros e sua futura abdicação, ao lado da questão sucessória em Portugal, causada pela morte de seu pai e a disputa entre a filha Maria da Glória e o tio D. Miguel, apoiado pela famigerada mãe Carlota Joaquina.

Apesar de não ser um governante com tanto medo das idéias liberais vindos da Revolução Francesa quanto sua mãe ou seu irmão, D. Pedro I tinha alguns sérios conflitos com as idéias mais arejadas dos Andradas. O mais famoso deles, José Bonifácio, chamado de "Patriarca da Independência" por seu papel no processo de emancipação, era um dos mestres da Maçonaria, uma das sociedades mais contravertidas da História, cujas idéias eram francamente contrárias ao absolutismo monárquico.

Há contravérsias sobre as idéias de José Bonifácio sobre a transferência da capital brasileira para o interior do Brasil (ler aqui). De qualquer forma, isso enfrentaria grande resistência da corte, e muitos, se conhecessem o projeto, tachariam-no de louco e inexequível. Mesmo se deixassem D. Pedro I governar até o fim e ele não tivesse uma vida não curta - 36 anos ao morrer, em 1834 - ele certamente não aprovaria a ideia.

Talvez José Bonifácio, homem muito mais culto e inteligente do que D. Pedro I, o convencesse da adoção de ideias mais liberais. O Brasil poderia adotar um plano para abolir aos poucos a escravidão e passar a preservar melhor as liberdades individuais, mas educação para todo o povo e eleições livres eram consideradas, na época, algo muito radical. Sua Majestade Imperial, provavelmente, não cederia tanto. O próprio José Bonifácio sabia que não era possível mudar o sistema econômico sem afrontar os interesses da elite agrária. O Brasil continuaria a ser uma monarquia escravista produtora de café e cana-de-açúcar.

E se D. Pedro I resolvesse resistir e ficar? Com certeza viveria mais tempo, embora dificilmente escaparia da tuberculose, sua causa-mortis. A doença era uma das maiores causas de óbito na época.

Talvez seu filho que o sucederia, D. Pedro II, não tivesse idéias tão moderadas, como demonstrou ao longo de seu reinado. Ou então ele poderia levar a cabo a ideia aparentemente absurda de construir uma futura capital no meio do cerrado, décadas antes do nascimento de Juscelino Kubitscheck. Ou, por outro lado, seu pai não conseguir vencer a insatisfação de muitos de seus súditos, a qual descambaria para uma guerra civil capaz de provocar a secessão de territórios como Pernambuco, levando a cabo as idéias revolucionárias de Frei Caneca e outros. Como resultado, D. Pedro II herdaria um reino em dissolução. Neste último caso, não haveria mais o Brasil como ele é hoje.

São algumas hipóteses dignas de interesse, mas que não podem sobrepujar os fatos: D. Pedro I renunciou, houve a regência, o longo reinado de D. Pedro II e o golpe de 1889 que resultou na República e a posterior - aliás, bem posterior - chegada da democracia em nosso país após séculos de governos discricionários.

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