terça-feira, 24 de setembro de 2013

Da série 'Tabela periódica como você nunca viu', parte 4

A família 4A é muito diferente das anteriores até então vistas, que só tinham metais com algumas exceções. Parece que um elemento não tem nada a ver com outro: são mais diferentes entre si do que entre um ser humano e um marciano. Só têm em comum o fato de terem 4 elétrons na última camada eletrônica, e, portanto, serem elementos muito esquisitos, como veremos a seguir.

Este balaio reune o carbono, o silício, o germânio, o estanho, o chumbo e o fleróvio. O primeiro definitivamente não é metal. O silício não é metal mas em certos aspectos se parece com um. O germânio é metal, mas às vezes não parece. O estanho e o chumbo são dois metais, enquanto o último a ser citado, com um nome parecido com aqueles que os pais bêbados colocam nos filhos (tipo: Dulcicleide, Aristêmio, Fuleco, Jacinto Aquino Rego), ainda por cima é artificial. 


Carbono: É um não metal que ora é encontrado na forma mais vagabunda possível, sob forma de prosaico grafite para lápis, vendido a R$ 1,99 ou pouco mais que isso em qualquer papelaria, ou então sob caríssimo diamante, que vale milhões de dólares por pedrinhas. Um é mole como o miolo dos que votam em político em troca de um sapato. Outro é o material mais duro conhecido, capaz de riscar qualquer outro, menos as garras do Wolverine (*). Enquanto um é negro mas não é afro-descendente, o outro é transparente, sem cor alguma. Quando esse elemento com brutal crise de identidade está combinado com outros elementos, prefere as relações de amizade (ligações covalentes) com outros não-metais e até com os metais como o ferro (essa relação é o aço). Só há troca-troca se ele estiver participando com outro não-metal e um metal insaciável. Carbonato é o nome da suruba entre o carbono, o metal e o oxigênio. O carbono tem o estranho gosto por filas, as cadeias carbônicas, responsáveis pelos plásticos e pela composição de animais e plantas. Para piorar, sempre tem que levar uns amigos com ele (hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e alguns outros infelizes) para enfrentarem essas filas, às vezes monstruosas, de bilhões de átomos, e até em forma de espiral (DNA). Sem isso, não existiria gente, cachorro, tartaruga, baleia, árvore, musgo, nada. O estudo dessa bizarrice do carbono é chamado de "química orgânica", o terror dos vestibulandos.

Silício: O silício, na aparência, é muito diferente do carbono. Parece um metal, mas não é (daí ser chamado às vezes de semimetal): tem brilho como um metal mas quebra como um vidro. É duro como diamante, e sua cor é mais parecida com a do grafite. Sua característica mais marcante é ser um semicondutor, ou seja, conduz pior do que um metal e melhor do que um não metal. É o elemento preferido dos geeks pois sem ele não haveria computadores, tablets, smartphones, etc, e nem óculos e lentes de contato, visto que muitos geeks são míopes e o silício é componente básico do vidro usado nos óculos e do silicone que compõe as lentes de contato. Por causa deste último produto, também é muito apreciado pelas mulheres que querem mais peito e bunda, e pelos travecos pelo mesmo motivo. Quimicamente, esse elemento indeciso é muito parecido com o carbono: não gosta que enfiem elétrons na sua eletrosfera, nem enfia os seus nos outros elementos. Prefere as amizades (covalências) e só gosta de troca-troca se for com outro elemento, principalmente o oxigênio (silicato é o nome dessa indecência). A única exceção é com o flúor, que é um não-metal muito insaciável e é componente do ácido fluorídrico, que transforma qualquer vidro em meleca.

Germânio: Este metal é muito indeciso. É quase branco, e não é escuro como o silício. É também mais mole e às vezes amassa como um metal ao invés de quebrar. Conduz quase tão mal quanto o silício, e como ele não está a fim de doar seus 4 elétrons mais externos nem receber outros 4 para completar a eletrosfera. Também gosta do flúor e dos outros halogênios, conhecidos por serem não-metais tarados. Muitas vezes a-do-ra um sódio ou potássio, metais garanhões, por perto. Por essas características, era chamado de semimetal. 

Estanho: Como seu nome diz, é um metal estranho. Derrete muito fácil, quando amassa emite um som horroroso chamado às vezes de "grito de lata" (tin, em inglês, significa tanto estanho quanto lata, que é um aço estanhado). Em temperaturas baixas parece que vai virar um não-metal em algumas partes, chegando até mesmo a virar um pó escuro parecido com grafite moído. Os químicos comparam isso a uma doença, chamada de "peste de estanho". Mesmo quando não chega a esse extremo de querer mudar de sexo natureza, é um bissexual, como o alumínio: transa com não-metais mas fica louco perto do sódio, potássio e outros metais alcalinos, principalmente nas surubas relações complexas envolvendo não-metais. Não gosta muito da solidão e faz ligas com outros metais, para formar, por exemplo, o bronze, com o cobre.

Chumbo: Por fim, temos o chumbo, um elemento pesadão, muito diferente do estanho. Ao contrário daquele, é venenoso. Os antigos diziam que o chumbo era o mais velho dos metais. Um ancião rabugento e agressivo, diga-se, pois causa a morte ou a loucura nos seres humanos. É usado nas munições das armas, nos venenos e, por incrível que pareça, como aditivo de gasolina e até nas aparentemente inofensivas tintas, sendo responsável pelo envenenamento de muita gente ao longo dos séculos. Além disso, é um tarado. Tenta enfiar seus elétrons - às vezes quatro, mas principalmente dois - nos não-metais incautos (principalmente oxigênio e halogênios), e na maior parte das vezes não consegue, justificando parcialmente a sua fama de velho. Isso também poderia explicar porque ele tem um gênio tão ruim. 

Fleróvio: O infeliz elemento artificial batizado com esse nome pela IUPAC, para homenagear um físico nuclear soviético que só os camaradas mais íntimos conheciam, chamado de Georgy Flyorov (1913-1990). Por enquanto não serve para nada, e deve ser, quimicamente, parecido com o chumbo. Deve ser um metal ainda mais bravo, principalmente por ter de aguentar esse nome ridículo. O nome provisório não era tão ruim: ununquatrium, devido à latinização do seu número atômico (114).



(*) Stan Lee batizou o metal inventado por ele de adamantium, em homenagem ao diamante.

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