quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Separatismo: por que não vai dar em nada

Com a eleição de Dilma por menos de 40% dos votos dos eleitores (inclusive as abstenções e os votos invalidados), muitos estão manifestando seu descontentamento. Sob o pretexto de haver Estados cuja maioria votou em um ou outro candidato, estão sugerindo a ideia de separatismo. 

Não faltam argumentos para querer a separação. A maior parte dos impostos recolhidos pela União vem dos Estados mais desenvolvidos do Sudeste e do Sul, para serem reinvestidos na parte mais pobre do Brasil (o Nordeste e o Norte), sob forma de ações malfeitas e de retorno duvidoso, como a transposição do Rio São Francisco e o Bolsa-Família. Muitos eleitores do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que votaram em Aécio, estão cansados do assistencialismo e do aparelhamento do Estado promovidos pelo PT. Há uma sub-representação dos Estados mais populosos, em favor dos de menor população, vistos como currais eleitorais. 

Há algumas sugestões para formar uma divisão política do Brasil, todos com maior ou menor grau de ressentimento anti-PT e até mesmo anti-Nordeste, e todos igualmente com baixa possibilidade de êxito. Comento a seguir. 

 Proposta divulgada por Romeu Tuma Jr., desafeto do PT. Há um problema sério nesta divisão: Minas Gerais e Rio de Janeiro são estados onde a maioria votou em Dilma. Brasília, odiada por todo o resto do Brasil, também fica do lado de cá. Rondônia e Acre, onde Aécio foi o mais votado, ficaram do outro lado. Construir um muro com vários Estados envolvidos sai muito caro e é bem trabalhoso. Não é como separar Israel e a Cisjordânia, que são territórios minúsculos. 

 Este mapa é baseado nos resultados das eleições e deixa Roraima e Espírito Santo como conclaves da "Cuba do Sul". 

Aqui se repete a mesma ideia, mas inclui Acre e Rondônia, cuja maioria votou contra o PT, na "Nova Cuba" só porque são estados da Região Norte. Para aumentar o tom sarcástico da "proposta", sugeriram destruir Minas Gerais para construir um lago. Eles não explicam como arranjar o dinheiro para comprar as toneladas de explosivos necessárias para destruir um território equivalente ao da França inteira. Muito menos como lidar com os milhões de mineiros (matar todos esses "comedores de queijo"?)

 Aqui o Brasil é dividido não em dois, mas em três países, algo como "Estados Unidos do Sul" e Amazônia separados de um Brasil entregue ao PT. Esta manifestação de revolta nem é nova: data de 2011, após a primeira eleição de Dilma (ler mais AQUI)


Além disso, existem os velhos desejos da Região Sul e de São Paulo para se separarem politicamente do resto do país. 

Para se criar uma nova nação é preciso haver um clima de desobediência civil, pois não há amparo da Constituição. Segundo o primeiro artigo, a República Federativa do Brasil é "formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios, e do Distrito Federal". Pela via política é praticamente impossível, pois uma proposta semelhante não teria respaldo na maioria do Congresso, enquanto o Judiciário tenderia a classificar a manobra como inconstitucional. A saída mais eficaz seria usar a força das armas, mas seria preciso convencer outros países a apoiarem militarmente o movimento. Outros movimentos separatistas já foram tentados dessa forma, sendo o maior famoso deles a Guerra dos Farrapos, entre 1835 e 1845, onde os gaúchos lutaram contra o resto do Brasil, então governado por uma monarquia, para tentar implantar uma República.

Ou seja, querer a separação é diferente de consegui-la. É preciso muito mais esforço e disposição do que boa parte dos apoiadores do separatismo estão dispostos a empregar. 

Existem outros meios de coibir os desmandos vindos de Brasília, e eles não passam por tentativas de separatismo. Precisamos exercer mais os nossos direitos como cidadãos e não aceitar passivamente as decisões vindas dos Poderes, mas devemos fazer isso sem destruir patrimônio alheio e violar as normas democráticas. Além disso, adotar a ideia de divisão não colabora para o desenvolvimento do país, tanto os Estados mais pobres (que votaram na Dilma), onde a miséria e a ignorância escravizam a população local, quanto os Estados mais ricos (que votaram em Aécio), onde se paga muito imposto com baixíssimo retorno. 

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