Este post ia comentar de novo sobre a política, mas abordando a baixaria que se tornou o debate entre os dois candidatos ao segundo turno da prefeitura carioca, mas isso fica para outra vez, antes das urnas. Foi por um motivo realmente forte: a prisão preventiva do deputado cassado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
A decisão não era esperada pelos partidários de Cunha, mas ele próprio estava preparado. Sérgio Moro, na segunda, deu um prazo de dez dias para ele formular sua defesa, e o ex-chefe da Câmara tratou de se arrumar para "visitar" a sede da Polícia Federal em Curitiba. Ele foi preso hoje no apartamento funcional ainda não devolvido, em Brasília. Policiais foram devassar a casa dele, no Rio de Janeiro, e a mais célebre das "vitimas" do mais temido juiz de primeira instância do Brasil foi de jatinho, sem algemas e devidamente trajado, para Curitiba.
Prenderam o Cunha antes do Lula (Wilson Dias/Ag. Brasil)
Em nota, aquele que foi acusado de obstruir a Lava Jato, ter contas no exterior, lavagem de dinheiro e recebimento de propinas vindas dos desvios da Petrobras, além de abuso de poder, insinuou que Moro incorreu neste último delito, e disse que a prisão era "absurda", "desprovida de propósito" e irá recorrer.
Moro justificou o ato, por ver fortes indícios de haver ainda influência e poder de Cunha para atrapalhar as investigações, baseados nas informações dos procuradores. Pesou o fato do ex-deputado estar em posse de seu passaporte, e tentar fugir para o exterior.
A prisão de Cunha deixou muita gente apreensiva, inclusive membros do atual governo e até o presidente Temer, também membro do PMDB. Teme-se a delação de vários deputados ainda não citados anteriormente, além de ser uma chance para investigar mais pessoas envolvidas com o chamado "Petrolão", e é uma péssima notícia para Lula, pois questiona fortemente a sua tese de "perseguição política", embora muitos vejam uma estratégia para levar o ex-presidente para a cadeia.
Partidários de Cunha se juntam aos simpatizantes de Lula para acusar Moro de ser uma espécie de "Savonarola", o frade dominicano que tentou moralizar Florença, então dominada pelos Medici, generosos mecenas das artes e corruptos notórios naquela época, o final do século XV. Ele também visava a corrupta corte do papa Alexandre VI, visto como devasso e capaz das maiores vilezas, inclusive usar sua filha ilegítima Lucrécia Bórgia para manter-se no poder em todos os territórios governados pela Igreja Católica. Ele tinha alguns seguidores fieis, que, segundo os inimigos de Moro, lembravam os procuradores da Polícia Federal, principalmente Deltan Dallagnol, e junto com eles o frade acabou sendo capturado pela Inquisição e enforcado em 1498, para depois ser queimado e suas cinzas serem atiradas no rio Arno.
Realmente estamos a ver algo nunca visto antes. A impunidade está sendo derrotada, não sem algum estardalhaço por parte dos ilustres agentes da lei. Ainda estamos bem longe de ser um país justo, mas não deixa de ser motivo de alegria para os manifestantes pela ética na política. Quanto a Moro, espera-se que não tenha o mesmo destino de Savonarola.
N. do A.: O professor emérito da Unicamp Rogério Cézar de Cerqueira Leite, em artigo da Folha, já fez uma comparação de Moro com Savonarola, e ele foi criticado pelo juiz, que chamou o frade de "fanático religioso", algo que o magistrado obviamente não é. Elio Gaspari também fez algo semelhante, e Reinaldo Azevedo, da revista Veja (aquela que tanto ódio ainda desperta no país, embora seja a mais lida), também fez insinuações a respeito.
N. do A.: O professor emérito da Unicamp Rogério Cézar de Cerqueira Leite, em artigo da Folha, já fez uma comparação de Moro com Savonarola, e ele foi criticado pelo juiz, que chamou o frade de "fanático religioso", algo que o magistrado obviamente não é. Elio Gaspari também fez algo semelhante, e Reinaldo Azevedo, da revista Veja (aquela que tanto ódio ainda desperta no país, embora seja a mais lida), também fez insinuações a respeito.
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