sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Comentários sobre o debate


O debate dos presidenciáveis na Band foi o assunto mais comentado de ontem (Divulgação/BAND)

O primeiro debate dos presidenciáveis realizado pela Band não foi um primor e, em termos de propostas, ficou devendo bastante, mas esclareceu um pouco mais a respeito dos perfis de cada um. 

Embora não houvesse muitos ataques pessoais, tirando as contendas entre o arqui-conservador Jair Bolsonaro (PSL) e o socialista Guilherme Boulos (Psol), chamado de "desqualificado" pelo ex-capitão, também as propostas foram pouco interessantes, ou pouco dignas de crédito. Realmente ninguém está lá para bancar o salvador da pátria, e a maioria ressaltou a importância de se governar com alianças partidárias, exceto Bolsonaro, Marina Silva (Rede) e um certo cabo Daciolo, do partido Patriotas. 

Falaram pouco da Lava Jato - a exceção foi Álvaro Dias (Podemos), que repetiu o convite a Sérgio Moro para ocupar o Ministério da Justiça, além de Miguel Reale Jr. e Modesto Carvalhosa, notáveis juristas. Também mal tocaram no assunto do aumento de 16% para o STF e, por consequência, todo o aparato estatal, o que é esperado, pois cabe ao Congresso dar uma resposta a mais um grande problema ao Orçamento, capaz de onerá-lo em R$ 4 bilhões (!), considerando os reajustes em cascata. 

Também pouco falaram do mais polêmico dos candidatos, o ex-presidente Lula, atualmente preso e legalmente inelegível, mas Boulos e Ciro Gomes (PDT), defensores do ex-presidente e com espectro ideológico bem próximo do PT, falaram de "golpe", referindo-se ao impeachment de Dilma Rousseff.  Henrique Meirelles (MDB), o candidato do governo Temer, também fez questão de falar de sua atuação como ministro da Fazenda também no governo de Lula. 

E cada um se apresentou da seguinte maneira: 

- Geraldo Alckmin (PSDB) pareceu ter a melhor desenvoltura, por ser um político experiente e estar acostumado à exposição pública, mas falou como se São Paulo fosse outro país, e não o maior Estado do Brasil em população e eleitorado; sua proposta de simplificação tributária pode convencer mais os outros Estados, e não conseguiu se desvencilhar das acusações de ter apoiado o atual presidente, apesar de ser alvo de ataques até do governista Henrique Meirelles, que o acusou de ser contra o Bolsa-Família, contrariando as falas recentes do ex-governador. 

- Henrique Meirelles (MDB) portou-se de maneira sisuda, até demais, tanto é que, se Alckmin é chamado de "picolé de chuchu", Meirelles parecia um jiló temperado com extrato de fígado cru. Pouco a vontade, carrancudo, às vezes um tanto agressivo e sarcástico demais para quem estava acostumado com o estilo contido do ex-ministro da Fazenda, desqualificou os outros adversários, mostrando-os como incompetentes ou mentirosos. Foi também duramente atacado, como candidato do governo. A impressão é que ele vai precisar se portar de forma diferente na campanha. 

- Jair Bolsonaro (PSL) foi ao debate com a intenção de ser comedido e, no debate, economizou nos ataques aos adversários, mas bateu duro no PT e no socialismo, acusando-os de serem os responsáveis pela crise atual; sua oratória deixou bastante a desejar e mostrou conhecimentos rasos a respeito de diversos assuntos, mas surpreendeu quem esperava dele um discurso mais salvacionista; a única proposta mais "autoritária" foi falar sobre a construção de mais escolas militares, por notar que falta senso de disciplina nos jovens.

- Ciro Gomes (PDT) tentou demonstrar simpatia apesar de seu temperamento combativo, mas nem sempre conteve certas observações ferinas contra outros candidatos; mais de uma vez se referiu ao processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma como "golpe", e também fez alusões a Sérgio Moro e aos seus privilégios como juiz, ao contrário de alguns de seus oponentes, que o tratam como herói contra a corrupção; chegou a se equivocar e acusar a mulher de Moro de receber auxílio-moradia, como o marido, mas voltou atrás e se desculpou. Riu dos delírios do Cabo Daciolo ao ser apontado como fundador do "Foro de São Paulo", agremiação de líderes de "esquerda", e foi acusado de querer incluir o Brasil em uma tal "URSAL", a "União das Repúblicas Socialistas da América Latins". Por outro lado, a proposta de ajudar quem está endividado a sair do SPC também não parece menos humorística. 

- Marina Silva (Rede) mostrou coerência com as suas posturas anteriores, quando foi candidata em 2010 e 2014, ou seja, fez belos discursos apontando os problemas graves da nação, mas nada propondo de concreto; suas propostas, como naqueles anos, foram bastante vagas, destacando os fins sem se aprofundar nos meios (coisa usual também nos outros candidatos), apesar de tentar demonstrar firmeza; ela defendeu a estratégia de não fazer alianças, o que pode significar pouco tempo no horário eleitoral, e atacou Alckmin por se aliar com vários partidos do "Centrão", entre eles o PP, maior citado pela Lava Jato.

- Guilherme Boulos (PSOL) fez discurso inflamado a favor do socialismo, contra os bancos, o sistema fiscal (na ótica dele, um "Robin Hood às avessas") e o governo Temer, acusado de ser o culpado pela crise; disse que os candidatos representam "50 tons de Temer"; atacou Jair Bolsonaro a respeito de uma funcionária considerada "fantasma" e, ao fazer perguntas a ele, o atacou agressivamente, sendo rechaçado e chamado de "desqualificado", como já foi citado aqui; ele também fez alusão à Mídia Ninja, a chamada "imprensa alternativa". 

- Álvaro Dias (Podemos) assumiu um tom algo tranquilo e patriarcal; ele já foi governador do Paraná e tem vasta experiência política, e foi considerado o porta-voz da Lava Jato; fora isso, também não apresentou propostas muito consistentes e o mesmo tom que o ajudou a não ser tão visado pelos "esquerdistas" e ser até bem tratado pelos candidatos "direitistas" como Bolsonaro e o cabo Daciolo não colabora para ele ser mais popular e conseguir votos; ele bateu duro na corrupção, mas mal tocou em outros assuntos: miséria, déficit fiscal, reformas, infra-estrutura, saúde, segurança e educação. 

- Cabo Daciolo (Patriotas) foi um dos mais beligerantes, criticando duramente o PT, o socialismo, a corrupção e a roubalheira, mas sua gramática modesta e pouco conhecimento sobre outros problemas do Brasil chamaram tanto a atenção quanto sua exaltada evocação de Deus, sendo evangélico; seu discurso inflamado ficou bem sintonizado com o de Bolsonaro, e ele provocou a reação favorável dos seguidores do ex-capitão, presentes na plateia; também foi visto como exótico ao fazer perguntas a Ciro Gomes sobre a tal "URSAL" e o "Foro de São Paulo", assuntos estranhos à maior parte do eleitorado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário