sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Prognósticos


 
Bolsonaro centraliza o debate, com Haddad e Ciro em seu encalço; Alckmin e Marina correm por fora segundo as pesquisas, mas quem irá definir o segundo turno são as urnas (Sérgio Lima / Alessandro Dantas)

Bolsonaro x Haddad: É o mais possível de acontecer, segundo as pesquisas, mas só as urnas irão confirmar isso. Em caso de uma disputa assim, a polarização se acentua, entre o candidato preferido entre os conservadores contra o representante do PT; o marketing deste último pode fazer com Bolsonaro o que fez com os adversários em 2010 e 2014, desconstruindo-os; teme-se o acirramento dos ânimos, com explosões de violência causados pelos dois lados da disputa, e os partidos “moderados” podem apoiar um ou outro candidato por afinidade ideológica; Haddad tem mais experiência administrativa do que o ex-capitão, mas a sombra do PT e de Lula é incômoda, e sua gestão como prefeito esteve longe de agradar a muitos, a ponto de ser derrotado já no primeiro turno quando tentou a reeleição, em 2016. A favor de Bolsonaro está o apoio do mercado e dos setores que não querem a volta dos petistas à chefia do governo. 


Bolsonaro x Ciro: Ciro ainda pode reverter os prejuízos dos últimos tempos, mas a tendência não indica isso; o ex-governador do Ceará também tem mais experiência administrativa do que Bolsonaro, mas muitos o veem como um continuador da obra petista e ele já prometeu favorecer Lula nas suas tentativas de sair da prisão; além disso, Ciro em nada deve a Bolsonaro em matéria de declarações contraversas, que despertaram reações contrárias, e seu temperamento não é nem um pouco mais conciliador, se comparado ao candidato do PSL; ficou notória a agressão física a um repórter em Roraima, não tão explorada pela imprensa quanto as opiniões de Bolsonaro, que se limitou, até agora, a fazer afirmações verbais tolas, preconceituosas e inaceitáveis, mas, pelo menos nesta campanha, não fez agressão física alguma; a opinião pública vê Ciro como um candidato favorável ao Estado “paizão”, sendo criticado e admirado por isso; Bolsonaro é contra o paternalismo, mas também é favorável a um Estado forte. 


Bolsonaro x Marina: Isto é bem mais difícil de acontecer, se comparado ao cenário anterior; Marina está em franco declínio, e sua terceira investida no Planalto tem alta probabilidade de seguir o mesmo destino das anteriores, em 2010 e 2014. Marina tem muitas propostas para melhorar o país, mas muitos duvidam de sua capacidade em implementá-las; já Bolsonaro tem uma postura mais assertiva, parecendo saber mais, na prática, como irá chegar aos seus objetivos; Marina poderia continuar a retratar Bolsonaro como reacionário, misógino e contrário às reivindicações populares, mas o candidato do PSL não terá dificuldade em vincular Marina a Lula e ao PT, além de atacar sem piedade a rival, com alusões nem sempre respeitosas, mas o candidato do PSL dificilmente irá repetir as frases tão exploradas pelos adversários, pela imprensa e pelos adeptos (e não adeptos) dos “fake news”, as mentiras cabeludas inventadas com a finalidade de difamar seus alvos.  


Bolsonaro x Alckmin: é o embate preferido do mercado, mas isso está muito difícil de acontecer; o tucano está perdendo fôlego e não consegue convencer o eleitorado, mesmo com a vantagem de ser governador de São Paulo, o Estado mais rico do país; no entanto, sua avaliação em aspectos como segurança pública é péssima (embora os índices de São Paulo sejam bem melhores do que a média do país); pesa ainda contra Alckmin os apoios dos partidos ditos do “Centrão”, cujos integrantes mais notáveis são investigados pela Operação Lava Jato e são considerados “adesistas”, pois apoiavam Dilma e, agora, Temer, e os escândalos de corrupção na Dersa e na Secretaria da Educação (“Máfia da Merenda”); Bolsonaro agrada mais quem quer ver os corruptos na cadeia – mesmo à custa de derramamento de sangue inocente – além de ser favorável à livre iniciativa, como o rival; a postura combativa do candidato do PSL é um desafio imenso para os tucanos, comparável à dificuldade enfrentada agora na campanha para o primeiro turno. 


Haddad x Ciro: devido à grande vantagem de Bolsonaro, é, em tese, improvável de acontecer; só em caso do agravamento da saúde do ex-capitão, vítima do atentado no dia 6; para infelicidade de quem sonha em um duelo entre dois representantes da chamada “esquerda”, o líder das pesquisas está se recuperando; o ex-prefeito não terá muita dificuldade em lidar com o ex-governador, que será obrigado a aceitar alianças de partidos menores, pois os maiores, inclusive boa parte do “Centrão”, certamente iria apoiar Haddad; a favor de Ciro, ele está bem menos “queimado” na Lava Jato do que o petista. 


Haddad x Marina: outra combinação virtualmente impossível, pois Marina precisaria de uma reação muito forte; ambos precisariam trabalhar para enfraquecer Bolsonaro, uma tarefa realmente titânica e com possibilidade nula de êxito; este duelo seria desagradável ao mercado, o qual, na sua maioria, pode apoiar Marina de forma muito relutante. 


Haddad x Alckmin: para um duelo acontecer, relembrando a velha disputa PT x PSDB, seria necessária uma atuação em conjunto para enfraquecer Bolsonaro, além de uma reação poderosa dos tucanos para se apresentarem, novamente, como os anti-PT, tarefa atualmente feita por Bolsonaro de forma mais convincente, após os escândalos envolvendo figurões tucanos como Aécio Neves, Eduardo Azeredo e José Serra. 


Outros prognósticos, sem Bolsonaro e Haddad, são ainda mais improváveis, ficando mais para o terreno da imaginação. Ainda assim, muitos não vão se deixar impressionar com as pesquisas e irão votar nos candidatos de sua preferência, por acharem-nos mais capazes do que os líderes nas intenções de voto, como João Amoedo, Henrique Meirelles ou Álvaro Dias, entre os adeptos do livre mercado, ou Guilherme Boulos, entre os defensores de um Estado provedor. De qualquer forma, ainda ficam no ar questões como a reforma na Previdência, a administração dos gastos públicos para evitar o agravamento do déficit primário, e mesmo temas de interesse do eleitorado, como o descalabro na saúde pública e a crônica epidemia de obras inacabadas. E nenhum deles consegue corrigir a altíssima rejeição contra eles, por gente com expectativas muito acima do permitido pela situação vigente, a qual é favorável aos corruptos e ineptos em detrimento de quem realmente quer fazer o Brasil se desenvolver num prazo mais longo, bem superior a um mandato presidencial.

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