quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Argentina decreta moratória

Maurício Macri quer renegociar as dívidas com os credores da Argentina (divulgação/Presidência da República Argentina)

Acossado por uma dívida externa crescente, pela retração econômica e por uma série crise cambial, a Argentina se viu obrigada a suspender o pagamento aos credores externos dos juros de curto prazo, enquanto tenta renegociar as parcelas de médio prazo (que venceriam no próximo mandato). 

Esta é a chamada moratória. Quem viveu os loucos anos 1980 no Brasil já ouviu falar nessa palavra. Em fevereiro de 1987, o governo José Sarney enfrentava uma crise inflacionária e cambial após o fiasco do Plano Cruzado, e decretou a suspensão do pagamento da dívida externa. O Brasil voltou a normalizar as relações com o FMI no ano seguinte, mas o descalabro inflacionário continuou, a maior parte das grandes transações financeiras continuava a ser em dólar e não em cruzado (e depois em cruzeiro, até o Plano Real acalmar a economia de forma mais efetiva em 1994) e a dívida externa do país continuou impagável. 

Cinco anos antes do Brasil, o México precisou fazer a mesma coisa, e o resultado foi desastroso para o mundo inteiro: houve corte nos investimentos para os países em desenvolvimento (leia-se: toda a América Latina, entre eles), e a crise gerada pela guerra entre Irã e Iraque, com novo choque do petróleo, levou ao chamado "setembro negro", mesmo apelido de um grupo terrorista palestino dos anos 1970. Não só o México teve uma recuperação lenta e não completa, como contribuiu para o agravamento da crise econômica no próprio Brasil e à desesperada medida de 1987. 

Outra moratória famosa foi na Rússia, em 1998, quando o país enfrentava uma crise severa na transição do comunismo soviético para o capitalismo. Devido à alta da inflação e à ação das máfias russas, o gigante eurasiano suspendeu o pagamento dos juros da sua dívida. A gota d'água foi a crise asiática no ano anterior, que gerou grande retração na demanda de produtos agrícolas e do petróleo, dos quais a Rússia dependia, e ainda depende, para as suas exportações.

Nos casos latino-americanos, a crise econômica continuava, apesar da renegociação da dívida. Na Rússia, Vladimir Putin foi eleito em 1999, e tomou medidas para dinamizar a economia e combater as máfias, à custa de governar praticamente com mão de ferro. 

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