Estamos vivendo um período de grande turbulência, causada pela pandemia e pelo agravamento dos nossos problemas.
Voltamos a ver mais um caso de morticínio numa favela do Rio de Janeiro. O governo carioca diz ter enfrentado os traficantes que tiranizam o local. Entidades de direitos humanos apontam para execuções extrajudiciais, inclusive um suposto bandido morto dentro do quarto de uma menina de 8 anos. O intenso tiroteio provocou pânico entre os moradores e até usuários do metrô, chegando a atingir um vagão e ferir sem gravidade dois usuários. Esta operação não resolverá o crônico problema da bandidagem aterrorizando os moradores das favelas, e ainda vai render conflitos com o STF, que determinaram a suspensão das atividades policiais durante a pandemia, alegando problemas de segurança e agravamento da contaminação. Tanto o Supremo quanto o governo carioca estão mostrando seus níveis de entendimento do problema, muito grave, complexo e que só piora após décadas de negligência e descaso.
Enquanto isso, a CPI da Pandemia, iniciada na segunda, continua com o depoimento do atual ministro Marcelo Queiroga, Anteontem, o primeiro convocado foi Luiz Henrique Mandetta, na pasta da Saúde até abril do ano passado, em rumoroso depoimento de 7 horas, onde ele confirmava as suas divergências com o governo. Depois, o sucessor Nelson Teich, titular por apenas um mês, disse ter saído por não concordar com a falta de autonomia, necessária para exercer o cargo em tempos normais. O general Eduardo Pazuello foi também convocado, mas recusou, alegando contatos com dois coronéis, seus subordinados, contaminados pela doença. Oposição e parte da mídia tratou o general, chefe do ministério entre maio de 2020 e março de 2021, como "fujão". Faz parte do espetáculo armado pelos congressistas, apurando apenas parte do problema (a outra parte caberia aos governos estaduais e municipais, mas isso poderia transformar a CPI em algo interminável) e servindo para prestigiar nomes como Renan Calheiros, o famigerado ex-presidente do Senado acusado de vários delitos.
Vemos também o agravamento da crise econômica, com aumento generalizado de preços. O reajuste no preço do gás natural para as distribuidoras, feito no último dia primeiro, foi de absurdos 39%, índice típico dos anos 1980, quando vivíamos a hiperinflação! Há a alegação do dólar crescente e do aumento da demanda, influenciada pelos consumidores que abandonaram o uso do gás de botijão, cujo preço também está descontrolado. E o preço da carne e do leite? O dólar alto e instável induziu os produtores a exportarem a maior parte desses alimentos, principalmente para a China, enquanto há também problemas de abastecimento e aumento nos insumos, como alimentos para o gado e combustível para o transporte. Muitos brasileiros passaram a comer mais ovos, e o preço desse alimento também subiu consideravelmente.
E pelo jeito não teremos mesmo o Censo, aquele de 2020 adiado por conta da pandemia. Não adianta mandar realizá-lo neste ano, ainda mais por determinação monocrática do ministro Marco Aurélio, sem verba, drenada por um Orçamento realizado, como se diz popularmente, "nas coxas", atendendo às demandas por emendas parlamentares muito mais custosas do que um censo. Pode-se argumentar que o censo poderia ser feito pela Internet, pois até as aldeias indígenas possuem conexão por celular, mas R$ 50 milhões são insuficientes até para isso. Originalmente, a verba era de R$ 2 bilhões, para pagar a infraestrutura e o corpo de recenseadores.
O Brasil é um grande país e merecia estar em melhor situação, mas o pessimismo quanto ao futuro só aumenta, e cada vez mais gente teme por uma distopia. Talvez a filosofia de Platão possa nos fazer pensar a respeito. Na próxima postagem, teremos a segunda parte da série abordando os filósofos e suas ideias adaptadas para a análise do nosso país.
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