Na chamada "Era de Platina" dos quadrinhos, iniciada com o primeiro personagem em quadrinhos, Mickey Dugan (o "Yellow Kid", de 1896), até o lançamento do Superman na revista Action Comics em 1938, tudo era bem mais simples. As histórias de heróis eram derivadas das primeiras do gênero, voltadas para a comédia (daí serem conhecidas como comics), e não tinham muita sofisticação, principalmente em comparação com as épocas posteriores.
Os protagonistas eram, quase sempre, do sexo masculino, caucasianos no padrão anglo-saxão (como na maioria dos ingleses e norte-americanos), fortes e viris, racionais e corajosos, sempre salvando mocinhas indefesas de vilões perversos ou megalomaníacos. Porém, nesta época, não se explorava muito a noção de superpoder. Os heróis precisavam contar com os músculos ou com a astúcia, como qualquer pessoa normal, mas sem reproduzir as nuances de caráter. Aos poucos, isso passaria a ser explorado, a partir de 1929, com o marinheiro Popeye, que não é exatamente um herói clássico, mas um personagem cômico que aumentava o poder de espancar os outros inicialmente esfregando a mão na cabeça de uma ave, para depois usar o espinafre e alavancar as vendas da hortaliça.
Muitas vezes os cenários eram fora dos centros urbanos, em ambientes mostrados de forma estereotipada, geralmente mares, selvas e, mais recentemente, outros planetas. Nativos de outras terras eram retratados como tolos, preguiçosos ou violentos, numa caracterização que não tardaria a ser considerada ridícula. Não havia preocupação alguma com questões como racismo e nem mesmo com ecologia: os heróis, quando necessário, derrubavam árvores e matavam animais pelos motivos mais torpes, apenas para despertarem sensações fáceis. Nada a ver com o "politicamente correto", conceito desenvolvido muito mais tarde, no final do século XX.
Seria injusto, porém, apontar as histórias da época apenas como um amontoado de clichês visando entreter mentes ociosas querendo fugir das dificuldades do cotidiano. Deve-se considerar o contexto histórico. Havia a I Guerra Mundial, a Grande Depressão, a Lei Seca, o desenvolvimento das grandes cidades.
Até a década de 1930, os quadrinhos eram sequências de tiras de jornal, para depois serem publicados como trabalhos independentes.
Surgiram aí personagens inesquecíveis, como Dick Tracy (1931), Mandrake (1934), Flash Gordon (1936) Fantasma ou "O Espírito que Anda" (1936). Heróis clássicos como Tarzan, Zorro e Jack Armstrong passaram a ter suas histórias contadas pelo formato. Criadores como Lee Falk (de Mandrake e Fantasma) e Alex Raymond (autor de Flash Gordon) passaram a ser cultuados, pela criatividade de suas histórias. Eles tiveram colaboradores que muito os ajudavam, para a criação de cenários usando técnicas de luz e sombra, contornos suaves ou pesados dependendo do ambiente, e o uso criativo das poucas cores disponíveis, quando haviam.
O Fantasma (The Phantom), de Lee Falk, foi um personagem surgido antes do Superman (Divulgação/King Features Syndicate) |
Os clássicos uniformes padrão para os heróis e, mais tarde, para os supervilões, foram bolados na década de 1930, e o Fantasma de Lee Falk foi um dos pioneiros, com seu uniforme roxo colante, a máscara para esconder sua identidade (já usada antes por outros personagens, como o Zorro) e a "cueca por cima da calça". Essas roupas extravagantes eram derivadas dos antigos uniformes usados pelos artistas de circo, um divertimento popularíssimo antes da II Guerra Mundial.
Quanto ao mercado editorial, ainda estava em formação, sem os grandes conglomerados. A National Allied, que viria a publicar o Superman, e a DC Comics, onde o Batman foi inventado, eram empresas separadas, mas com um dos fundadores em comum, Malcolm Wheeler-Nicholson. Elas iriam ser uma editora única apenas em 1946. Havia relativamente poucas empresas explorando este mercado (Dell Comics, King Features Syndicate), mas isso iria mudar nos anos 1940, durante a Era de Ouro, assunto para a próxima postagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário