Recentemente, durante pronunciamento na cerimônia de lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes, o ministro da Economia Paulo Guedes disse que no Brasil há "mais iPhones do que habitantes". Ele teria se referido aos aparelhos celulares, imensa maioria de Androids (mais de 91%, segundo o Statcounter), enquanto os iPhones, cujo preço está acima do poder aquisitivo de muita gente,representa 9,36% das vendas.
Foi o bastante para a mídia e a oposição atacarem-no sem piedade, apontando-o como alienado da realidade brasileira, praticamente insinuando que ele estaria deliberadamente tentando nos convencer de que o Brasil é uma espécie de Shangri-Lá.
Considerando todos os celulares e não só os iPhones, são 242 milhões de aparelhos no total, bem mais que os 212 milhões de habitantes, sendo que muitos tem mais de 2 celulares. Há muita gente sem posse de um celular, na maioria bebês e idosos.
As declarações de Guedes demonstram ser extremamente frágeis e, vindo de uma alta autoridade do governo, representam uma agressão contra a verdade. Porém, a mídia também não pode se sentir muito superior ao ministro, por muitas vezes submeter os fatos às suas ideologias particulares e interesses financeiros, com o intuito de tentar influenciar os leitores, não informá-los.
Estamos vivendo uma pandemia de desinformação, ainda mais persistente do que a do coronavírus, e a capacidade de sobrevivência da civilização depende de um acesso às notícias com um mínimo de qualidade, e não versões inventadas, por falta de adequada consulta às fontes ou por má fé. Quanto às pessoas em geral, é preciso resistir à tentação de fugir da verdade, quando ela contraria nossas convicções e crenças. Isso quando temos acesso à informação e capacidade de compreendê-la.
O Brasil terá muito a ganhar se os donos do poder e os das mídias tiverem um pouco mais de apreço pela verdade e não quererem, com tanto despudor, transformar fatos em narrativas.
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