Recentemente este blog escreveu a respeito das quatro categorias de pessoas segundo Carlo Cipolla (1922-2000), historiador italiano: os criminosos, os estúpidos, os incautos e os inteligentes. Esses grupos foram classificados em termos de benefícios a si próprios e aos outros. Assim:
- Criminosos lesam os outros em benefício próprio;
- Incautos: geram benefícios aos outros em prejuízo próprio;
- Inteligentes: geram benefícios aos outros e também se beneficiam;
- Estúpidos: lesam os outros e a si próprios.
Assim, poderíamos enquadrar as diversas matizes dos pensamentos políticos e econômicos. Tendo como parâmetros o bem estar e as liberdades individuais e coletivas como benefícios a serem desfrutados pelos cidadãos, podemos destacar algumas dessas linhas de pensamento.
Para os defensores do capitalismo, a liberdade econômica para os negócios é um benefício para ser desfrutado. Os capitalistas transformam bens que serão comercializados para os demais, e estes eventualmente fornecem mão-de-obra para ser absorvida pelas empresas. Essa geração e comercialização de valores acaba gerando riqueza e benefícios para todos. Os donos do capital, assim, agem de forma inteligente, assim como os clientes e fornecedores, enquanto a mão de obra poderia ser considerada crédula neste caso, mas também se beneficiando no caso de agirem ativamente pelo bem da empresa, sendo recompensados com promoções e reconhecimento. Os críticos do capitalismo, notadamente os defensores do comunismo, criticam o capitalismo como concentrador de riquezas nas mãos de poucos, ou seja, uns se beneficiando à custa de outros. Os capitalistas seriam criminosos, enquanto o resto da sociedade faz o papel da parte lesada e explorada.
Então, segundo os defensores do comunismo, os meios de produção concentrados nas mãos do Estado são benéficos para controlar as desigualdades econômicas. O Estado seria o regulador das necessidades das pessoas, distribuindo serviços e produtos, até ser considerado desnecessário com o tempo graças à educação e a conscientização dos cidadãos. A liberdade econômica é restrita para coibir a exploração dos trabalhadores, que se tornam colaboradores de toda uma coletividade. Também há restrições em certas liberdades individuais em favor das liberdades coletivas, e a pessoa abre mão de certas prorrogativas em prol de seu grupo no qual pertence. Críticos do comunismo apontam as falhas do sistema, considerando o Estado como suscetível a abusar do poder concedido aos cidadãos, suprimindo as liberdades e apossando-se das riquezas. Além disso, por ser geralmente um mau gestor, não gera riquezas suficientes para a população. Assim, o Estado comunista se torna um criminoso, lesando seu povo.
Não se deve considerar o comunismo como sinônimo de totalitarismo, onde há a figura de um dirigente e seu círculo de poder para imporem uma ideologia oficial à sociedade, embora a maior parte dos regimes comunistas sejam, na prática, totalitários. Na verdade, existem estados considerados capitalistas e totalitários ao mesmo tempo, como a Itália fascista, a Alemanha nazista e a Espanha franquista. Neste caso, seria mais conveniente faar em autoritarismo, pois nem sempre há uma linha de pensamento político definida. No autoritarismo, os governantes consideram as pessoas como intrinsicamente inclinadas ao mal, lesando os outros em benefício próprio, caso não haja leis para regulamentar a vida delas. No totalitarismo, além disso, quem discordar da ideologia oficial é considerado nocivo à pátria. Para isso, essas formas antidemocráticas, chamadas pelo termo genérico de ditaduras, valem-se da repressão dos considerados criminosos, julgando favorecer a sociedade por meio da garantia da ordem e da paz. Críticos das ditaduras, os liberais criticam a falta de liberdades para os cidadãos, e consideram esta estrutura política como prejudizial a todos em benefício de poucos, os governantes e seus associados.
Já no caso do liberalismo, a liberdade é um benefício, e os governantes, ao garantirem o direito das pessoas de fazerem algo que elas julgam ser mais conveniente, são inteligentes quando, por sua vez, conseguem obter a espontânea colaboração de seus governados para garantirem a ordem e a paz, com base em uma legislação justa e equilibrada. Críticos do liberalismo apontam a permissividade, principalmente quando os dirigentes são fracos e se deixam explorar por grupos de interesse, sendo frequentemente lesados em benefício deles. Ou então uma legislação excessivamente branda pode favorecer políticos corruptos, dispostos a enriquecer à custa da população. É mais frequente os países liberais serem capitalistas, onde não há tantas regras a serem seguidas como no caso dos países comunistas.
Em todos estes casos, só foram abordados, mais ou menos, os criminosos, os incautos e os inteligentes. Já a estupidez é um veneno para qualquer sistema político ou econômico.
No caso do capitalismo, os estúpidos representados por gestores, trabalhadores, fornecedores ou clientes ineptos acabam sendo postos à margem, embora quando a estupidez é muito difundida, ela representaria a falência da sociedade, presa fácil das nações inimigas ou daquelas mais hábeis nos negócios.
No comunismo, a má gestão dos dirigentes leva ao empobrecimento geral da sociedade, alimentando o descontentamento. Quando um dirigente se mostra incapaz, ele se torna rapidamente impopular, e está sujeito a ser alvo de ataques, quando não tem capacidade suficiente para usar a repressão ou a influência política. Da mesma forma, quando uma boa parte das pessoas não é capaz de beneficiar as outras pelo trabalho ou pelas boas ideias, ela condena todos à pobreza.
Da mesma forma, o autoritarismo e o totalitarismo podem representar a ruína geral quando os dirigentes se mostram incompetentes, levando a uma situação de revolta, empobrecimento e violência, contornadas ora com um nível de repressão suficientemente alto ou com a queda do regime. De qualquer forma, governantes ou pessoas estúpidas neste meio são um perigo à estrutura da nação.
Os países onde o liberalismo impera também estão suscetíveis aos idiotas, principalmente quando eles estão no poder, levando a uma sensação de anarquia e falta de controle. Não é preciso repetir o que uma sociedade onde o número de pessoas com pouca inteligência pode fazer em termos de prejudicar uma nação.