quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Como vai ficar o Brics?

Os governos do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, cujas iniciais em inglês formam o Brics (Brazil - Russia - India - China - South Africa) estão aceitando novos membros, embora não se saiba realmente quais as realizações concretas do bloco. 

Em teoria, reunir as cinco economias emergentes mais relevantes do mundo é uma boa ideia, para aumentar a presença global, mas até agora não se sabem os benefícios práticos. Os países não se entendem sobre vários assuntos, e a questão da guerra entre Rússia e Ucrânia só piora tudo, além de haver uma inimizade quase visceral entre a China e a Índia. 

A reunião dos Brics começou ontem em Johannesburgo, na África do Sul (Ricardo Stuckert)

Agora, o número de membros irá aumentar, e a lista final compõe-se de Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes e Irã. É uma reunião de mais países inimigos entre si: Arábia Saudita contra o Irã. Além disso, com a inclusão de quatro países islâmicos, a questão dos direitos humanos torna-se quase impossível de ser debatida. Já era muito difícil com as ditaduras russa e chinesa, embora Brasil, Índia e África do Sul fiquem muito longe de serem democracias exemplares. E a Argentina está com a economia tão debilitada que só a política e a influência de Lula poderia explicar sua presença. A capital do país, Buenos Aires, foi alvo de vários saques motivados pela fome e pela miséria, e 56 foram presos. 

O nome Brics irá fatalmente ser mudado, e este "balaio de gatos" vai ter mais efeito - negativo - sobre os bolsos de seus contribuintes do que efeitos - positivos - na governança global. 

Também não há consenso entre os economistas a respeito da moeda comum a ser implantada, para facilitar as transações comerciais. Entre os cinco países, as economias já são bem desiguais. Colocar a Argentina no bloco tornaria tudo mais complicado. 

Os chefes dos países-membros têm segundas intenções usando os Brics como pretexto. Vladimir Putin, que não foi até Johannesburgo, quer mostrar a sua força política. Xi Jinping pensa mais nos Estados Unidos e nas potências ocidentais do que nos outros Brics. Draupadi Murmu também pensa em fazer da Índia uma verdadeira potência e não meramente um emergente, ainda mais quando uma nave indiana conseguiu a proeza de pousar no lado escuro da Lua. O presidente da África do Sul Cyril Ramaphosa quer mostrar força política em meio às denúncias de corrupção, e ele é odiado pela maioria de seu povo. Quanto ao presidente Lula, ele quer fazer dos Brics um trampolim para o Brasil se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, mas a Índia também é postulante, enfrentando forte oposição da China. 


N. do A.: O governo russo também é questionado a respeito das circunstâncias da morte de um de seus inimigos políticos mais poderosos, o líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin. Oficialmente, o avião da Embraer onde estava o temido chefe mercenário explodiu quando este se dirigia a São Petersburgo. Prigozhin foi um valioso aliado de Moscou na guerra contra a Ucrânia, mas amotinou-se contra Putin, e passou a ser considerado traidor. E, historicamente, os governantes russos têm uma tolerância muito baixa com os traidores e os dissidentes. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário